sexta-feira, 6 de março de 2009

Se os tubarões fossem homens e o BBB

Se os tubarões fossem homens, perguntou a filha de sua senhoria ao senhor K., seriam eles mais amáveis para com os peixinhos?
Para que os peixinhos não ficassem melancólicos haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar alegremente em direcção à goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar. Bertold Brecht

Big Broadway Brazil

Por Jose Morais da Silva Neto
Do Observatório da Imprensa

O Big Brother começou e com ele o período em que milhões de pessoas desperdiçam kilowatts e mais kilowatts de eletricidade para assistir esse esboço de programa que, por sinal, apresenta algumas particularidades interessantes dentro dessa esfera televisiva pós-moderna. Em sua curta vida, o Big Brother Brasil já tem um papel relevante no que tange à movimentação de dinheiro no mercado de revistas de conteúdo erótico e pornográfico. A cada nova remessa, pelo menos 60% dos BBBs posam nus, as espiadinhas parecem estar dando bastante lucro e nesses tempos de crise sabe como é. Entre as diversas e divinas atribuições do BBB está o dever patriótico de renovar a composição de meta-celebridades que muito em breve atuarão nas baladas desse Brasil varonil, que é gigante pela própria natureza e um impávido colosso.
Cada nova edição do Big Brother abre vagas e dá um novo brilho, ou melhor, recicla o "profissional" ex-BBB, que vê essa temporada de safra como uma nova oportunidade de se ver na tela, de expor sua imagem no mercado midiático. O ritmo ciclotímico gerado por Bial e seus comparsas não se encerra aí. O BBB também é um termômetro, um indicador do padrão sócio-cultural que vigora em determinadas classes da sociedade; para a casa mais espiada do Brasil só entram perfis que atendem a uma determinada linha estética. Ou você já viu algum desempregado desdentado relaxando na sauna do BBB?
Formato fez e faz sucesso
Outra intendência desse programa é a de ser um prato cheio para os blogueiros: uns espinafram, esculacham sem dó nem piedade, atacando de um ponto de vista racional, mas outros, desavisados, escrevem com pieguice própria de telespectador viciado nos melodramas da casa. O efeito causado pelo Big Brother Brasil é mais visível após o término do programa, quando um punhado de "Rafinhas", "Natálias", "Tatis" e "Fernandos" são lançados ao mundo real. Esses novíssimos pseudo-artistas permeiam na nossa telinha, mas não nas telonas (deu pra sacar a ironia?). Na parte de divulgação, propaganda e marketing do BBB, o que chama a atenção é um ato de grande criatividade e ao mesmo tempo oportunismo – o cartel montado em conjunto pela Globo e RedeTV, enquanto a primeira cede as imagens exclusivas do programa, a RedeTV ganha audiência vinculando a tarde toda, no programa de Sônia Abrão, flashes, namoros, brigas e outras fofocas que rolam dentro da casa dos BBBs; um mutualismo perfeito.
Por mais inútil que pareça, o BBB faz sucesso, já foi também um fenômeno de audiência no começo, mas hoje em dia não tem o mesmo vigor. O formato do Big Brother fez e faz sucesso em outros países, principalmente nas camadas inferiores da sociedade, cumprindo assim o seu papel massivo. Depois de tantas críticas, voilà, eu assisto o Big Brother. Mentira.

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