segunda-feira, 9 de março de 2009

Paul Singer: Impacto da crise no Brasil é "brutal"


Do Terra Magazine


Diego Salmen


Quase meio ano após a eclosão da crise financeira mundial, o Brasil sente o baque. Demissões, falta de crédito na praça, desconfiança. O impacto da crise no país é "brutal", na avaliação do economista Paul Singer.

Nesta entrevista exclusiva a Terra Magazine, o economista faz uma análise detalhada da crise, além de propor mecanismos para conter seus efeitos no Brasil, como o controle de fluxo de capitais. Prevê ainda a expansão de formas de economia solidária em meio ao turbilhão financeiro, como o trabalho em cooperativas e a autogestão.


Na sua avaliação, como o Brasil tem sido atingido pela crise?


Paul Singer - Em termos de comparação, está sendo pouco atingido. Os Estados Unidos, a Espanha, o Japão... tem uma série de países que vem sendo atigindos com muito mais violência que o Brasil. Vinham sendo afetados desde o meio do ano passado; nós, somente desde o final do ano. E o grau de redução da atividade econômica é muito maior lá fora. Não obstante, de um ponto de vista não comparativo, a partir do Brasil mesmo, o impacto está sendo brutal. Muita gente está perdendo o emprego, o que não havia antes. Isso é realmente resultado da crise, e a atividade econômica está indo para trás


Como acha que o Brasil vem reagindo à crise?


O Brasil tem sido dos mais ágeis, e inclusive agindo na direção certa. Temos, digamos, uma sorte muito grande de termos o PAC. Eu acho que o PAC não foi feito em função dessa crise, mas veio a calhar. O Brasil tem hoje um volume muito grande de investimentos em infra-estrutura que são importantes; e tem o PAC social também, que não é de se jogar fora. Investimentos em educação, habitações populares, saúde... Todas são medidas anti-cíclicas, e elas explicam, em grande parte, porque, comparativamente, a economia brasileira foi pouco atingida.


Qual a avaliação que o senhor faz do ritmo de redução dos juros pelo Banco

Central?


É completamente inadequado. Isso deveria ter começado seis meses atrás. Não havia nenhuma razão para ainda se aumentar os juros há poucos meses; 2008 já era um ano de crise, que acabaria atingindo o país - inclusive agora. Eles praticamente esperaram o fim de 2008 para fazer uma redução de 1%. É muito pouco, e tarde demais. Mas se continuar reduzindo pelo menos 1% a cada reunião do Copom (Comitê de Política Econômica), já ajuda um pouco.

Como a economia solidária pode contribuir para o país em meio à crise?Ela é uma alternativa de todos os pontos de vista. Primeiro lugar, o financeiro. O sistema de finança solidária não é especulativo, em nenhuma hipótese. Ele é autogerido. Os próprios depositantes administram as cooperativas de crédito, os bancos comunitários e assim por diante. Eles não têm o menor interesse de arriscar seu dinheiro por meios especulativos, inclusive gente pobre. Você tem aí o exemplo de um sistema financeiro não especulativo e, portanto, imune à crise. Além disso, os empreendimentos de economia solidária não despedem. Ninguém nunca é despedido porque todos são sócios. Você não pode demitir um sócio. Os empreendimentos de economia solidária também são atingidos pela crise, mas eles têm de repartir o que eles têm entre todos, não tem essa de mandar gente embora como a Embraer fez, por exemplo.

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