quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Valores invertidos

Do Tribuna da Imprensa

Por Marcelo Copelli

A sociedade brasileira, atacada diariamente por cenas e episódios capazes de deixar qualquer um de boca aberta e de cabelos em pé, aos poucos vai se deixando contaminar pela falta de parâmetros e a carência de bom senso. A lei do "farinha pouca, meu pirão primeiro" traz consigo a exigência de se levar vantagem em tudo. Má fé ou questão de sobrevivência?
Um exemplo ocorrido na última semana, em Penápolis, interior de São Paulo, retrata bem a falta de orientação na qual muita gente está mergulhada. Após devolver a um supermecado R$ 40 mil encontrados no lixo do estabelecimento, a catadora Lorenza Palma da Cunha recebeu da gerente, R$ 200 como forma imediata de agradecimento. Lorenza ficou feliz da vida com o agrado. Independentemente da questão de quanto seria "justo", se isso é possível, deve-se salientar que a catadora agiu conforme sua consciência. Conduta digna.
Entretanto, a "recompensa" foi estendida pelo dono do mercado, que dará uma cesta de R$ 600 em compras até o fim do ano para a boa samaritana. Já era a intenção do comerciante. Queria fazer tudo de forma discreta. O que mais chama atenção é o fato de inúmeras pessoas terem ligado para ele fazendo ameaças por não julgarem justo o valor dado inicialmente.
A imposição de que o reconhecimento financeiro a quem age corretamente é lei, indica que a bússola anda meio capenga. Se antes, era questão de boa índole ser honesto, hoje, tem seu preço. E tabela. As pernas estão para o ar e muita gente já acha isso normal.

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