sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Teste de firmeza

Da Tribuna da Imprensa


Por Carlos Chagas

A partir da eleição de José Sarney para a presidência do Senado e de Michel Temer para a Câmara, muita gente começou a celebrar, em Brasília, a morte do terceiro mandato. O presidente Lula não quer, dizem, mas, mesmo se quisesse, os novos comandantes do Congresso inflariam o peito, desembainhariam as espadas e entoariam hinos à liberdade e à democracia, impedindo a tramitação de emendas constitucionais capazes de permitir mais uma reeleição do chefe do governo.
É bom tomar cuidado. Alguém se lembra de qualquer reação dos dois parlamentares quando, nos idos de 1997, a quadrilha de Fernando Henrique Cardoso atropelou as instituições e obteve do Congresso a reeleição para um segundo mandato no exercício do primeiro, quando o sociólogo havia sido eleito apenas para um período?
Tratou-se de um golpe de estado, de um abominável expediente para que os então donos do poder continuassem montados nele. Tanto Sarney quanto Temer aplaudiram, bafejados pelas migalhas do banquete tucano.
Seria diferente agora? Só se o PMDB dispuser de um candidato em condições de vencer a eleição presidencial ou, em paralelo, se Dilma Rousseff ou José Serra deixarem de prometer participação milionária dos peemedebistas no poder. Ainda mais: se o processo político encaminhar-se para a permanência do presidente Lula no governo por mais um mandato, como se encaminha, e se as perspectivas forem de todos os aliados continuarem onde estão, Temer e Sarney ousariam levantar argumentos éticos e democráticos para impedir a lambança?
Pretextos emergirão de todos os lados. Com crise ou sem crise o PMDB precisará definir-se, valendo a máxima milenar de que melhor parece dispor de um pássaro na mão do que dois voando...

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