terça-feira, 6 de outubro de 2009

QUEM NUNCA SE VENDEU?

Do Direto da Redação

Por Claudio Lessa

Brasília (DF) - O tema da ética, transparência, honestidade, senso de comunidade e de todos os atos responsáveis praticados todos os dias, semanas, meses e anos por um conjunto de cidadãos que, em sua maioria, procura transformar positivamente o local em que vive – gerando desenvolvimento material, educação, segurança, saúde, lazer, senso de dignidade e abrindo oportunidades iguais para todos, enquanto estende a mão aos mais fracos, voltou às manchetes dos jornais esta semana.
Da Folha de São Paulo, veio a notícia: uma “pesquisa Datafolha feita em todo o país mostra que 13% dos brasileiros admitem já ter trocado seu voto por dinheiro, emprego ou presente. Esse percentual corresponde a cerca de 17 milhões de pessoas maiores de 16 anos em um universo de 132 milhões de eleitores. Ao mesmo tempo, 94% dos entrevistados veem como condenável a venda do voto, percentual idêntico ao dos que dizem ser errado pagar propina.”
Na terra do “É assim mesmo”, essa constatação/quantificação obtida de maneira científica passa longe de poder ser considerada impressionante. O Brasil é um país notoriamente corrupto, de comportamentos viciados, de cima para baixo, de trás para a frente, de um lado para outro. A grosso modo, o mesmo que condena é o mesmo que pratica.
Não, não se fala mais do Zé Mané que joga papel na calçada, ou latinha de cerveja da janela do seu carro em movimento. Desde os tempos do Sujismundo, o Zé Mané tem recebido uma doutrinação minimamente necessária para que se consiga acabar com esse tipo de comportamento e hoje está em franca minoria. No entanto, a peçonhenta combinação da mentalidade do “é assim mesmo” com a Síndrome da Subserviência – aquela que nega uma verdade universal, a de que todos nos limpamos do mesmo jeito – gera sensações inconfessáveis nas mentes dos brasileiros, sendo a pesquisa do Datafolha, acima, apenas uma ponta do iceberg.
O caso Toffoli é emblemático e ilustra bem o que quero dizer. No início, conhecidos meus achavam um absurdo que um sujeito reprovado duas vezes no concurso para juiz, com incestuosas ligações com o partido político no poder (sim, qualquer um é livre para se filiar a qualquer agremiação – mas nesse caso, a profundidade da associação tornava sua indicação no mínimo anti-ética), inexperiente, com trajetória advocatícia medíocre (e sempre alavancada pelo mesmo partido) fosse indicado para um assento no STF. A partir do momento em que sua candidatura se solidificou, os mesmos conhecidos já apelaram para saídas como “o STF é um tribunal meramente político”, ou... “como é que se vai contra um cara que vai ficar sentado lá durante mais de 30 anos?”
O caso Honduras é outra jóia. Um presidente direitista, latifundiário, eleito livremente, de nome Manuel Zelaya, resolve “rever suas posições” e adota o bufão Hugo Chavez como mentor. Ato contínuo, resolve mudar uma Constituição que proíbe, explicitamente, a reeleição. O plano não dá certo, e ele é deposto constitucionalmente. Em seu lugar, assume Roberto Michelleti com a função de terminar o mandato de Zelaya até as novas eleições, marcadas para novembro. Sem solavancos, nem acidentes de percurso. Aqui no Brasil, a macacada que faz claque para Chavez (Lulla, Celso Amorim, Top-Top Garcia, entre outros), ao lado dos energúmenos-oportunistas Morales, Ortega, Lugo et caterva – todos enfurecidos com o fracasso da cooptação de Zelaya para o bolivarianismo ensandencido – resolve dar suporte ao plano de Chavez de reinserir Zelaya no poder hondurenho da maneira mais amadora possível.
No Brasil, de um lado, um intenso bombardeio do governo sobre a mídia começa chamando Michelleti de “golpista” e ignora os trâmites legais observados ao pé da letra pelos três poderes em Tegucigalpa. Como toda histeria – principalmente as ideologicamente orientadas – chega ao fim, esse esgotamento inevitável deu lugar a mentes mais sensatas, como a de Dalmo Dallari que, de olho no texto constitucional hondurenho, concluiu que a queda (não necessariamente a expulsão de Zelaya vestido de pijamas) foi, de fato, perfeitamente justificada sob o ponto de vista jurídico.
De outro lado, no entanto, figurinhas como Celso Amorim – um dos pivôs dessa crise rocambolesca que deve estar fazendo o bufão Hugo Chavez se revirar no chão de Miraflores de tanto rir, até agora – demonstravam, com seu discurso, um estado de espírito muito próximo do insano. Absolutamente confuso ou descaradamente mentiroso, Amorim chegou a trocar as bolas num depoimento ao Senado quando mencionou a cronologia de eventos para justificar o apoio de sua diplomacia brancaleone a Zelaya.
Por fim, o caso Sarney, que dispensa apresentações. Mas vale a pena lembrar que, há mais de 65 dias, o jornal O Estado de São Paulo continua sob censura.

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