sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A cara sombria do Rio


Do blog da Leila Cordeiro


É preocupante a quantidade de reportagens publicadas na imprensa internacional sobre a guerra do tráfico no Rio de Janeiro, onde inevitavelmente, os repórteres citam o Rio como a sede das Olimpíadas de 2016, cobrando providências para o problema. A revista britânica The Economist , por exemplo, afirma que a guerra nos morros do Rio de Janeiro é alimentada por uma competição feroz no mercado de drogas, que impõe uma série de dificuldades financeiras às gangues do tráfico e as leva a uma disputa violenta por espaços.
Sobre um faturamento anual de cerca de R$ 316 milhões, as gangues lucram cerca de R$ 27 milhões, diz a revista. Grande parte dos recursos é destinada à compra de armas, pagamento de pessoal e vendedores de drogas. A reportagem destaca ainda que algumas das armas usadas pelos traficantes são vendidas a eles pela polícia, e os policiais ainda praticam execuções sumárias em vez de se dar ao trabalho de processar os suspeitos, fazendo com que os moradores das favelas os vejam como uma fonte de injustiça tanto quanto os traficantes.
Que o diga o repórter do El País, Francho Barón, que ao tentar fazer uma reportagem no Morro dos Macacos, foi cercado pelos chefes do tráfico do morro, armados fifles, pistolas e escopetas, que lhe disseram: "Se quiséssemos, você estaria morto".
Na reportagem do El País, traduzida e reproduzida em jornais e sites brasileiros, Francho conta que foi rendido pelos traficantes fortemente armados e realmente viu a morte de perto, salvando-se por pouco. Ao se identificar como jornalista espanhol para o líder do grupo, ele pensou que o gravador que levava era uma câmera escondida, mas Francho acabou provando que não tinha nenhum material que comprometesse os bandidos. Diante disso, depois de ter a camisa rasgada, eles mandaram que saísse correndo do morro sem olhar pra trás. Francho descreveu numa frase o que muitos cariocas já sabem há muito tempo: "É a cara mais sombria e angustiante do Rio de Janeiro"!

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