terça-feira, 27 de outubro de 2009

O flagelo do crack


Da Folha de S. Paulo


Por Carlos Alexandre


No interior, na capital federal ou nas grandes cidades, o crack se confirma como um flagelo brasileiro. O derivado da cocaína avança com uma voracidade tal qual a dependência que provoca nos jovens em contato com a droga. No último fim de semana, os cariocas ficaram chocados com o caso de um músico de 26 anos, viciado em crack, preso pelo assassinato em seu apartamento no Flamengo de uma jovem de 18 anos. Segundo depoimentos, a adolescente estava ajudando o artista a se livrar do vício. Pagou com a vida a derrota para o crack.


A tragédia na classe média do Rio de Janeiro ocorre em meio à guerra que explodiu na cidade onde, há poucas semanas, se comemorava a escolha como sede das Olimpíadas de 2016. Até do ponto de vista institucional, a situação é conflituosa. O Palácio Guanabara cobra uma ação mais efetiva do Planalto. “Tráfico de drogas é com a Polícia Federal. No Rio, infelizmente, não é”, definiu o secretário de Segurança José Mariano Beltrame. Prontamente o ministro da Justiça defendeu a ação colaborativa do governo federal. E fica o dito pelo não dito.


Antes mesmo da divergência entre Rio e Brasília, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu publicamente a descriminalização da maconha e reivindicou nova política antidrogas. O ponto-chave é o fracasso das ações de repressão — nunca se produziu tanta droga na Colômbia, por exemplo — e a necessidade de o usuário ser tratado como um doente e não como um criminoso. Note-se que o testemunho de Fernando Henrique, intelectual respeitado e voz ressonante no maior partido de oposição ao governo Lula, denota o insucesso de sua gestão à frente da política contra entorpecentes.


De toda a discussão, a miséria humana é o aspecto mais comovente. Luiz Fernando Prôa, pai do músico acusado de homicídio, escreveu uma carta pública contundente. Diz que o filho pagará pelo crime na Justiça, mas considera tudo uma “hipocrisia”. “As drogas ilegais não estão aí nas ruas fazendo suas vítimas diárias, transformando pessoas comuns em monstros, e o Estado não pode ficar fingindo o que não vê.”

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