sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O voto sexual


Autor(es): NELSON MOTTA
O Globo


No Brasil, muitos políticos se perpetuam no poder com os votos da clientela dos grotões e dos currais eleitorais, apesar de rejeitados pelo eleitorado com mais educação e informação.

Assim, a ignorância, a miséria e o atraso que os elegem também se perpetuam em “mercados eleitorais” como o Maranhão e Alagoas.
Mas na Itália, culta, rica, informada, politizada e democrática, não é fácil entender como Berlusconi, que não fica nada a dever aos nossos sarneys, collors e renans, mantém tanto poder. Não basta a decepção popular com a incompetência do breve governo de centroesquerda para explicar a sua volta pela falta de opções. É assunto para intermináveis debates, com a paixão e a verbosidade habituais dos italianos.
Mas agora Berlusconi está ameaçado, não por corrupção ou luta partidária, mas por um adversário improvável e perigoso: as mulheres.
Escândalos sexuais de políticos não provocam grandes reações na Europa, mas o libidinoso “Berlusca” é tão machista, tão promíscuo e desrespeitoso com as mulheres, que começa a sofrer baixas em seu eleitorado feminino. A libido de Berlusconi provoca na opinião pública o que a esquerda, a imprensa e os cidadãos indignados não conseguiram com seus discursos e denúncias.
Ele tanto humilhou publicamente a esposa que ela pediu divórcio, acusandoo de ter um caso com uma garota de 18 anos. Uma sucessão de escândalos com prostitutas e políticos expôs Berlusconi como um consumidor de mulheres, um predador, um cafajeste patológico. Em um país onde as mulheres, além da beleza, têm muita força política.
O machismo italiano, de amplo espectro político, apoia e se orgulha do “Berlusca”; a maioria das mulheres, até as conservadoras, de direita, racistas, o detesta. Vale a pena acompanhar essa fervilhante comédia dramática italiana, com a exuberância e o humor de sempre, mas com uma novidade: um país de primeiríssimo mundo pode ter os seus rumos decididos não entre esquerda e direita, pobres e ricos, velhos e jovens, mas entre homens e mulheres.
Nem um gênio da comédia como Dino Risi imaginaria uma eleição na Itália decidida pelo voto sexual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário