quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Liberdade


Do Versus Online


Por Frei Betto


Há meses, numa palestra em Brasília, um engenheiro me indagou por que há cubanos que deixam a Ilha. Respondi: pelas mesmas razões que frades deixam a vida religiosa; não é fácil viver numa sociedade de partilha, sem perspectivas de acumulação privada. Veio a segunda pergunta: por que os cubanos não têm liberdade de viajar para o exterior, como temos no Brasil?


Reagi: temos quem, cara-pálida? Gostaria de falar de liberdade com a sua faxineira. Quantas vezes por ano ela visita a família no Nordeste? Quantas vezes saiu do país? E se fica doente, quem lhe assegura tratamento adequado? Os filhos dela chegam à universidade? Têm acesso a teatro, balé, literatura e artes plásticas, como a maioria do povo cubano?Os cubanos viajam mundo afora. Hoje, há milhares de médicos e professores cubanos em 77 países do mundo, em missões de solidariedade, inclusive no Brasil. Se a viagem se justifica por razões culturais ou científicas, a Revolução patrocina o giro internacional de grupos de balé e música, pesquisas científicas e tecnológicas. O que não existe é turismo individual como mero lazer... e evasão de divisas!


Fidel e Raúl, que sonharam e lideraram a Revolução, estão vivos, único caso de líderes revolucionários sobreviventes a cinco décadas da própria obra. Na noite do último 11 de dezembro, trafegando pelas ruas de Havana – onde participei do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos – Raúl Castro comentou comigo: “Jamais acreditaria, se me dissessem em 1959, que eu estaria presente à comemoração dos cinquenta anos de nossa Revolução”.


Frente às dificuldades que Cuba enfrenta — a maioria decorrentes do bloqueio, porém agravadas pelos frequentes furacões que destroem sua agricultura e parte considerável da infraestrutura, como a rede elétrica —, a Revolução está consciente de que não há muito a celebrar, e sim enfrentar o desafio de incutir nas novas gerações algo imprescindível ao seu aprimoramento: a convicção de que ela, como alternativa solidária diante do mundo injusto e desigual do capitalismo, não é um fato do passado, e sim uma esperança de futuro.

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