quinta-feira, 11 de junho de 2009

TUA BELEZA É UM AVIÃO

Do Direto da Redação

Por José Inácio Werneck

Bristol (EUA) – Sou veterano em jornadas aéreas. Entre outras peripécias, já estive (na mesma viagem, em 1965) em um avião que fez um pouso de emergência, fora da pista, no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou, e outro que voltou a Roma, quando já se aproximava de Dacar, porque um dos motores começou a emitir chamas. No ano anterior, choveu dentro de um avião da Línhas Aéreas Paraguaias em que eu me deslocava de Assunção para o Rio de Janeiro. Em todas, mantive-me olímpico e indiferente, confiante em que viagens de avião, como afirmam as estatísticas, são mais seguras do que cruzar de uma calçada a outra na Avenida Rio Branco. Como dizia um amigo, há muitos anos, quando atavessávamos uma rua no Rio e um lotação dobrou a esquina: “Rápido, porque ele já nos viu”. Mas tudo isto aconteceu numa época em que não se falava em terrorismo e conspirações. Agora é forçoso reconhecer que aviões que nunca caíram estão caindo com incômoda frequência e, ou deixam o respeitável público em suspenso (seria melhor que as aeronaves tivessem se mantido suspensas) quanto às causas ou suas quedas revelam espantosa negligência das empresas aéreas, incompetência das autoridades públicas responsáveis ou lamentáveis falhas humanas da tripulação. Até hoje não há explicações sobre a queda do Egypt Air 990, que levantou vôo de Nova York em outubro de 1999, com destino a Cairo, e caiu no Atlântico Norte. As teorias vão desde o suicídio do co-piloto, que teria resolvido arrastar consigo outras 215 pessoas, até um ataque de míssil pelo governo de Israel, com a cumplicidade dos americanos, porque o avião tinha 32 militares egípcios a bordo (o que, por sinal, contrariava normas do Estado-Maior de Cairo). Três anos antes tívéramos a explosão do vôo TWA 800, com saída de Nova York e destino final em Roma, depois de escala em Paris. Ele caiu ao largo do litoral de Long Island, numa bola de fogo, vista por muita gente. O avião já partira com um atraso de mais de uma hora, com problemas de manutenção. A teoria oficial é que um tanque de gasolina debaixo das asas explodiu ao ser atingido por uma fagulha, em virtude de um curto-circuito no sistema elétrico. Agora, o vôo AF 447, perdido na zona de convergência inter-tropical entre o Atlântico Sul e o Atlântico Norte. Já passei também por muitas turbulências, mas imagino o que deve ter sido o horror a bordo quando os passageiros começaram a perceber que aquela não era uma turbulência costumeira, quando compreenderam que o aparelho estava totalmente desgovernado. Constata-se que, em desastres maiores ou menores, como o de um Bombardier que caiu também recentemente na cidade de Buffalo, estado de Nova York, há uma história de desmazelo causado, ao fim e ao cabo, pela cobiça. Na procura de lucros ou no afã de cortar despesas, empresas aéreas deixam de mudar peças que deveriam ter sido substituídas, ou levam pilotos e co-pilotos a trabalhar horas excessivas. Amedronta saber que, enquanto passageiros jantam ou dormem, equipamentos de suposta alta tecnologia podem falhar de maneira catastrófica, levando o aparelho a voar a uma velocidade tão baixa que não lhe permite manter-se alado ou tão alta que leva a fuselagem a desintegrar-se. Parafraseando o Barão de Itararé: “Há algo no ar, mas não são os aviões de carreira”.

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