segunda-feira, 8 de junho de 2009

POBRE ITÁLIA

Do Direto da Redação

por Eliakim Araujo

Contam os historiadores que as bacanais, festas regadas a muito vinho em homenagem ao deus Baco, foram introduzidas em Roma vindas do sul da península itálica através da Etrúria. Inicialmente eram secretas e frequentadas somente por mulheres durante três dias no ano. Posteriormente, os homens foram admitidos nos rituais e as comemorações passaram a acontecer cinco vezes por mês. O culto a Baco se celebrava durante a noite e a promiscuidade, unida ao furor causado pelo vinho, deu origem a todos os excessos de vulgaridades e libertinagem. A má reputação das bacanais, levou o Senado romano, em 186 AC, a proibir esse tipo de festa, não só em Roma, mas também em todas as outras províncias. Os infratores estariam sujeitos à pena capital. Não se sabe se alguém foi executado por infringir a norma do Senado, mas se ela ainda estivesse valendo a Itália teria que mandar para o cadafalso seu primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Apesar dos seus 72 anos de idade, e de uma operação de próstata, o homem é dado a todo tipo de libertinagem, não só política como sexual. Se a Itália tiver um pouco de dignidade, Berlusconi não deve ficar nem mais uma dia à frente do governo. As fotos divulgadas esta semana com exclusividade pelo jornal espanhol El Pais, e que ganharam repercussão mundial, com sua reprodução em vários países, não deixam dúvida de como eram as festas que ele promovia em sua casa de veraneio numa ilha da Costa Esmeralda, na Sardenha. A fotos mostram cenas típicas de uma orgia, com homens e mulheres nus ou seminus tomando sol à beira da piscina. A maioria dos convidados é formada por moças aspirantes a atrizes e modelo, que não medem esforços na busca do estrelato. Há um homem completamente nu, de pé, com o membro em estado de ereção, cuja identidade já foi descoberta. Trata-se do ex-premier tcheco Mirek Topolanke, até abril ultimo presidente da União Européia. Ele se defende afirmando que foi feita uma fotomontagem com o rosto dele, embora confirme que realmente passou férias na vila de Berlusconi. Não é de hoje que política e sexo muitas vezes caminham lado a lado e servem como moedas de troca...não só na Itália.Berlusconi tem frequentado o noticiário nos últimos dias, não por realizações de seu governo, mas por envolvimento em vários escândalos, um deles o relacionamento com uma menor de idade, Noemi Letizia, que completou 18 anos no mês passado e exibe orgulhosa a jóia caríssima que ganhou de seu "Papi". Quando o assunto se tornou público, a mulher do fanfarrão, Veronica Lario, entrou com o pedido de divórcio, depois de um casamento de 29 anos. A divulgação das fotos, por si só, já seria motivo suficiente para o afastamento de Berlusconi, não pelo que acontece nos limites de sua propriedade privada, mas pela importância política do personagem central do escândalo. Mas a procuradoria-geral italiana prefere acusá-lo apenas de abuso de poder por transportar seus convidados em aviões oficiais. Os gastos com vôos do atual governo triplicaram em relação ao governo anterior de Romano Prodi. As fotos na mansão do primeiro-ministro foram feitas pelo fotógrafo profissional Antonello Zapadu, que não conseguiu publicá-las em nenhum jornal italiano. Ele diz que “na Itália há problemas de liberdade de imprensa”. Casado com uma colombiana, Zapadu diz que “tem mais medo de Berlusconi do que da guerrilha das FARCs”. É triste e vergonhoso que a Itália, um dos berços da civilização, esteja no noticiário internacional por causa de assunto tão vulgar. Berlusconi é o maior barão da mídia italiana. Anote aí: ele é dono de três canais nacionais de televisão, que juntos respondem por metade da audiência do país, da maior agência de publicidade, da maior editora de livros e revistas, tem uma empresa que produz e distribui filmes, tem empresas de seguro e banco e é dono de dois jornais. Além disso, é proprietário do Milan, o um dos mais populares clubes de futebol, por onde transitam vários craques brasileiros, o mais famoso deles, o nosso Kaká. Cá entre nós, quem vai se meter com um cara poderoso como esse? Que jornal ou jornalista vai ter a coragem de denunciá-lo sabendo que o mercado de trabalho vai se fechar para ele? Isso é o que se pode chamar de monopólio de fato, quando uma empresa jornalística, dona de tantos canais de TV, se torna tão poderosa que o próprio poder concedente se torna refém da concessionária. Um velho filme que já vimos em outro país.

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