terça-feira, 16 de junho de 2009

BOTA A CAMISINHA

Do Direto da Redação

Por Eliakim Araujo

Por trás dos filmes pornográficos que fazem a alegria dos adolescentes na fase das espinhas no rosto e motivam casais enfastiados no mundo inteiro, está uma gigantesca indústria cinematográfica que movimenta 12 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos, mas esconde mazelas que não chegam ao conhecimento do grande público. É um círculo fechado, quase como uma máfia, com usos e costumes próprios e, de um modo geral, isento da fiscalização oficial. A indústria de filmes pornô é tão poderosa que possui seu sistema próprio de saúde, onde atores e atrizes são regularmente testados contra doenças sexualmente transmissíveis, informam seus dirigentes. A indústria resiste à qualquer tipo de regulamentação oficial e se opõe ferozmente ao uso de preservativos em seus filmes. Por outro lado, e isso é fácil de entender, o que acontece dentro dessas clínicas exclusivas é mantido em segredo, sempre que possível, longe do conhecimento do público e das autoridades. Essa falta de colaboração entre o serviço privado da indústria pornô e o serviço público de saúde oficial é que preocupa as autoridades. Há o temor de que esse descompasso permita a propagação do virus da AIDS. Esta semana, em Los Angeles, foi confirmado o caso de uma atriz pornô que teve o resultado positivo em seu teste de HIV. O teste foi realizado dia 4 de junho, no dia seguinte ela trabalhou normalmente. No dia 6 voltou a fazer o teste, que confirmou a presença do virus. Por algum motivo, o caso se tornou público e os chefões da indústria pornô logo tentaram minimizar o fato, informando que esse era o primeiro caso desde 2004. Os setores oficiais de saúde de Los Angeles não confirmam a versão e dizem que pelo menos 22 casos, não publicados, foram confirmados nos últimos cinco anos entre os que fazem performances em filmes eróticos.No caso da atriz, ela transou com o ator e com o namorado dela, já depois do teste positivo. O ator que “contracenou” com ela está em quarentena. Mas o pessoal da saúde pública já sabe que o ator e o namorado da moça transaram com outras seis pessoas. Todo mundo que se envolveu nessa teia está sendo chamado para testes e ninguém sabe onde vai parar essa corrente.A culpa, como sempre, acaba caindo em cima da mídia. Sharon Mitchell, uma das fundadoras de uma clínica que atende os atores, e ex-atriz pornô que trabalhou em mais de 2 mil filmes, diz que a mídia “é como a mariposa atraída pela chama”. E isso “se torna gritante quando aparecem na mesma frase as palavras HIV e pornografia”. É claro que Dona Sharon tem que puxar a sardinha para a brasa dela, ela ganhou dinheiro como “intérprete” e deve estar ganhando mais agora como “empresária” ligada a uma indústria que emprega 1.200 adultos que trabalham na frente das câmeras e mais 5.000 em funções de apoio, em cerca de 200 produtoras. Com esses números, a possibilidade de propagação rápida da doença é uma realidade. O que faz com que os especialistas em saúde pública da Califórnia não se cansem de repetir que essa indústria clama por regulamentação e o uso da camisinha deve ser obrigatório em qualquer filme.Não existe - e na verdade nunca existirá - uma lei que obrigue as pessoas a usarem a camisinha em suas relações sexuais, mas no caso de uma indústria que coloca seus filmes nos mercados do mundo inteiro, e ao alcance de qualquer um na internet, ela deve de alguma maneira contribuir para que as novas gerações vejam no uso do preservativo uma prática normal em favor do sexo seguro. É o mínimo que ela pode fazer como forma de retribuição pelos milhões que fatura.

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