quinta-feira, 14 de maio de 2009

Wall Street e os porcos do México


Do Blog Argemiro Ferreira


Na linguagem médica, Edgar Hernández Hernández, o garoto mexicano da foto acima, de apenas quatro anos, é o paciente zero da gripe suína – o primeiro a contrair a doença. Como já foi dito, provavelmente seu organismo tenha servido de plataforma para a combinação genética que tornaria o vírus mais poderoso. Mas ele conseguiu sobreviver, depois de medicado. A gripe tinha sido constatada na cidade de La Glória em dezembro de 2008. Em março passou a disseminar-se rapidamente.
Volto à doença hoje para falar do que li no website Global Research (conheça-o AQUI), do Centro para Pesquisas sobre a Globalização (CRG). Esta é uma organização independente, sem fins lucrativos, que reúne escritores, acadêmicos, jornalistas e ativistas. Registrada na província canadense de Quebec, também publica livros, apóia projetos humanitários e realiza atividades na área educacional.
Além disso e de ter o seu site, o CRG atua ainda como think tank, instituto de reflexão, sobre temas econômicos e geopolíticos. No final do mês passado o Global Research publicou sugestiva comparação a propósito da gripe suína, algo que não cheguei a fazer ao abordar o assunto antes. ”As fazendas industriais de porcos são exatamente como a Wall Street”, dizia o título insólito.
Os agronegociantes e os banqueiros
Embora o site do Global Research tenha versão em português, o artigo a que me refiro não foi traduzido – o que me leva a fazê-lo para o leitor. (A íntegra do original em inglês pode ser lida AQUI). Segue-se a tradução:
Uma teoria sobre a gripe suína que está ganhando força rapidamente é que ela se espalhou através de moscas que se concentram sobre as lagoas fecais nas fazendas industriais de porcos da Granjas Carroll no estado mexicano de Vera Cruz (saiba mais AQUI). A Carroll é propriedade, em parte, da Smithfield Foods – a maior companhia de porcos do mundo, que cria 950 mil por ano naquelas instalações (do México).
Em fazendas de porcos naquela escala industrial, os animais ficam amontoados em espaços tão pequenos, tão apertados, que mal conseguem se movimentar. Existem tantos que eles produzem muitas toneladas de excrementos, que são simplesmente lançados em gigantescas lagoas a céu aberto. É a Wall Street das fazendas de porcos. Tanto em Wall Street como naquelas fazendas de produção de carne, os porcos alimentam-se em instalações públicas.
E mais. Nas fazendas de porcos, como em Wall Street:
Um par de companhias gigantes dominaram a paisagem;
Agências reguladoras permitiram que elas ficassem ali fora de controle, fazendo o que bem entendem;
As companhias fizeram sua lambança sabendo que os governos viriam para juntar os cacos e consertar as coisas, caso isso se tornasse necessário;
Os lucros foram privatizados e as perdas socializadas.
No caso dos porcos, os lucros das megafazendas foram embolsados pelas companhias, mas a conta dos custos da epidemia de gripe suína vai para os contribuintes. As fazendas de porcos jogaram quantidades colossais de excrementos naquelas comunidades locais – o que não só espalhou doenças na área como causou um problema global de saúde. Da mesma forma, gigantes de Wall Street produziram sistematicamente trilhões de dólares em “ativos tóxicos” que as nações do mundo inteiro, como seus contribuintes, pedem agora que sejam “desintoxicados”.
Ou, como escreveu um blog: Os agronegócios têm de ser responsabilizados. Eles estão seguindo as mesmas regras adotadas para os banqueiros; embolsam lucros e jogam as perdas (na forma da doença da vaca louca ou, agora, da gripe suína) em cima do público. Afinal de contas, não é tão alto o preço. Só uns poucos milhões de mortos e o abandono da produção local em pequenas fazendas.

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