quinta-feira, 7 de maio de 2009

“Pra aparecer, atores dão dinheiro pra mendigo”, diz Marcello Antony

Do Terra Magazine

Dar entrevistas é, para Marcello Antony, puro dever de ofício. O ator, de ar reservado e fala enxuta, demonstra, inicialmente, até certa impaciência diante de perguntas sobre a “praga das celebridades” – expressão cunhada pelo jornalista Sergio Augusto – que assola nossa sociedade.
O ator parece medir com régua cada centímetro de palavra. Ao fim da entrevista, já mais descontraído, acaba por dizer algo que sintetiza sua postura: “Posso dar 30 horas de entrevista e os jornalistas só vão botar na chamada o que interessa a eles”.
O ator conversou comigo, no Teatro Vivo, em São Paulo, uma hora antes de dar início à entrevista coletiva destinada a divulgar Vestido de Noiva, que estreia amanhã, para convidados, e sábado para o público.
A peça, de Nelson Rodrigues, terá direção de Gabriel Villela, encenador dos mais requisitados do País, e um elenco encabeçado por Antony, Leandra Leal, Vera Zimmermann e Luciana Carnieli.
Parar para ouvir Antony é aproximar-se, pé ante pé, do circo das celebridades armado pela mídia, pela indústria do entretenimento e pelos próprios artistas. “A superficialidade é uma epidemia que está se alastrando”, diz, sem negar que é peça desse jogo.
Leia, abaixo, alguns trechos da conversa:
“A VIDA VIROU UM ENORME BIG BROTHER”
Com a internet, os celulares, os paparazzi, você tem que ter noticia a todo instante. E de todo mundo. Fulano foi comer um picolé no shopping, saiu do cinema com os filhos…
E não são só os atores. Isso acontece com qualquer pessoa pública: músico, político, celebridade instantânea, jornalistas. Se trombar com uma câmera, vira notícia.
Sempre existiu uma curiosidade de saber como seria a vida dos artistas fora da tela, mas isso tomou uma dimensão tal que a vida virou um enorme Big Brother.
Mas a realidade da minha vida não é essa realidade pasteurizada do mundo virtual, holográfico. Não vivo no mundo dos paparazzi, celebridades e big brothers. Isso é uma realidade construída holograficamente. As pessoas se comem, vomitam, regurgitam e estão ali.
Minha realidade é outra: trabalho, minha casa, minha família, meu filho, só isso. Isso é a minha certeza e é isso que me faz seguir.
QUANDO FOI PEGO COMPRANDO MACONHA: ‘FAZ PARTE DO JOGO”
Tudo isso faz parte de um grande pacote. A indústria funciona deste jeito. Cabe a cada um querer participar do jogo ou não. Sei que sou peça fundamental desse jogo e tento usar isso a meu favor.
Uso meu nome para divulgar esta peça, por exemplo. Muita gente verá a peça porque é Nelson Rodrigues, outros porque há atrizes conhecidas e outros para me ver. Nesse sentido, tenho que saber jogar a meu favor.
Sobre o episódio da maconha e a cobertura da mídia, não gosto de emitir opinião porque já foi. As pessoas têm as opiniões que quiserem ter, não posso fazer nada.
SOBRE SER UM GALÃ: “A INDÚSTRIA SOBREVIVE DE RÓTULOS”
As pessoas gostam de rotular. As novelas não precisam ter o vilão e o mocinho? O público precisa de rótulos. É assim que a grande indústria sobrevive.
Virei global por acaso. Eu primeiro estudei teatro e, depois de fazer umas 12 peças, deixei o currículo na Globo. Fiz um teste, fui chamado para fazer oficina e, depois, o teste para uma novela. Passei e rolou. Aí entrei no redemoinho.
Em 12 anos, fiz 12 novelas. Diminuí o número de peças, mas procuro me dedicar à profissão que me abraçou e que eu abracei. Procuro escolher papéis na tevê, no cinema ou no teatro para exercer minha profissão como ator. Se me rotulam como X ou Y, isso foge de mim.
“A IMPRENSA SÓ SE INTERESSA PELA INTRIGUINHA”
O jornalismo de celebridades é o que dá dinheiro, então é o que mais tem. E não tem jeito: posso dar 30 horas de entrevista e só vão botar na chamada o que interessa a eles. De certa forma, parece que a entrevista toda foi para falar aquilo.
Tenho opiniões formadas sobre muitos assuntos, mas nem quero dá-las porque serão desvirtuadas. O cerne da questão não vai ser discutido. O que interessa à imprensa é a intriguinha.
“PARA APARECER, OS ATORES DÃO DINHEIRO PRA MENDIGO”
Os atores vão nos bairros onde estão os paparazzi, dão dinheiro para mendigo… Mulher separada fica brincando com o filhinho para mostrar que está feliz. É tudo um jogo, um circo.
Hoje, é assim: uma atriz consagrada, de ponta, com bagagem cultural, teatral, cinematográfica, televisiva, é a mesma coisa que a mulher alguma coisa… Está tudo na mesma panela.
“POLÍTICO TINHA QUE GANHAR MENOS QUE PROFESSOR”
A sociedade brasileira não está encarando os problemas de maneira profunda. Os exemplos de cima também não estão vindo. Ministros do Supremo discutem como se estivessem num boteco…
Com relação à política, sou anarquista, no sentido de que não acredito em governo. Para mim, político tinha que ganhar menos que professor. Então, a partir dessa premissa, para mim óbvia, não consigo pensar em política direito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário