quarta-feira, 6 de maio de 2009

CRÔNICA

Do Blog Cidadania

Amor e ódio pelo Brasil

Vocês já se perguntaram o que sentem por este país? Quem pode me dizer assim, de bate-pronto, que ama incondicionalmente o Brasil? Em minha opinião, tão poucos quanto os que podem dizer, da mesma forma, que odeiam o país em que nasceram. Isso é porque o amor e o ódio não passam de faces da mesma moeda, como todos sabemos.
O país que odeio é o que amo porque, imerso em um mar de incoerências, esse país nada desesperadamente, mal se mantendo à tona, brandindo o desejo de se tornar uma nação de coerentes, de homens e mulheres que entendam que a única verdade que vale para todos é a de que o interesse destes é o único que a cidadania deve buscar, e a de que é por esse único parâmetro que todos devemos nos pautar em todas as questões.
Odeio o Brasil que deixa suas crianças se arrastarem pelas ruas das grandes cidades todas sujas, drogadas, prostituindo-se, roubando, formando-se numa universidade nefasta do crime, da ausência de valores e até mesmo, muitas vezes, de piedade, o que produz os monstros que vemos cometer monstruosidades democráticas todos os dias, atos de loucura que não escolhem cor, idade, região do país, nível social, escolaridade, nada.
Odeio o Brasil de maioria esmagadoramente negra ou descendente de negro que mal aparece na publicidade, nas novelas, nas universidades, nos postos de relevo da sociedade, em certos bairros quase que só de brancos, em clubes, festas e até praias, em tantos lugares nos quais, se negros e mestiços aparecem, são um para cada dezena de pessoas, quando muito.
Odeio o Brasil da desigualdade de oportunidades, no qual, de antemão, sempre se sabe de onde virão os mais bem sucedidos e de onde virão os que viverão em moradias fétidas em guetos fétidos nos quais imperam a violência, a ignorância, a insalubridade, o abandono.
Poderia dizer muito mais do que odeio no Brasil, porque a lista é longa. Mas não consigo dizer que odeio meu país mesmo odiando tantos de seus aspectos, porque este também é o país de gente que quer mudar tudo isso, de gente que compartilha minha cultura popular, meu idioma, meus anseios, meu orgulho da pujança brasileira, minha esperança nas tantas possibilidades desta nação.
É esta paixão que não me deixa. E não quero que deixe, porque a alternativa a amar o meu país é a de me tornar um pária sem história, sem passado, sem iguais, sem aqueles que gostam das mesmas comidas que eu, da mesma costa marítima que atrai democraticamente os brasileiros de todas as partes no verão, ou sem as tradições e festas populares às quais nos entregamos todos sem distinção de raça, credo, cor, classe social, embalados pelas músicas que nos sacodem a todos por dentro e por fora.
Não posso amar completamente o Brasil, mas não consigo odiar mais do que aspectos dele que podem ser mudados como sempre tentamos mudar aqueles que amamos e que eventualmente nos frustram, mas nos quais nunca perderemos a esperança de que mudem. Com o Brasil é assim, pois é nossa pátria-mãe, aquela que nos gerou e à qual jamais conseguiríamos odiar, mesmo se quiséssemos.

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