sexta-feira, 29 de maio de 2009

As cartilhas de São Paulo

Do JB online

por Mauro Santayana

A Secretaria de Educação de São Paulo distribuiu livros à rede estadual de ensino, destinados às crianças, que são uma ofensa aos pobres, já que os ricos não frequentam escolas públicas. Um deles, em quadrinhos, sob o argumento de que facilitaria o aprendizado da leitura, está recheado de ilustrações obscenas e textos apenas chulos, com linguagem de sarjeta. A pretexto de levar às crianças temas da atualidade – de acordo com a Folha de S.Paulo de ontem – distribuiu outra publicação, sob o título de Poesia do dia, poetas de hoje para os leitores de agora, em que se recomenda desprezar o amor e preferir o estupro, entre outros conselhos no mesmo estilo. Se os autores sabiam a que público se dirigiam, merecem a indignação do povo brasileiro, porque veem as crianças pobres como pequenos bandalhos, interessados em relatos fesceninos. Se quiseram imitar o método Paulo Freire, cometeram uma contrafacção perversa e criminosa. Ao contrário do que muitos pensam, os trabalhadores são muito ciosos da boa formação moral dos filhos, e naturalmente irão receber esses textos com indignação. É um erro entender a educação como um meio de ajustar o aluno a seu tempo, quando esse tempo é inconveniente ao homem. A educação deve ser teleológica. Os alunos têm que ser preparados não para submeter-se a uma sociedade deformada pela injustiça mas, sim, para mudá-la. A educação deve libertar o homem, e essa libertação não se encontra na banalização do sexo, no repúdio ao amor, no ódio psicopata contra a vida. As sociedades totalitárias – como a do neoliberalismo – sempre estimulam a liberdade dos costumes, a fim de distrair os povos de seus direitos reais, de sua essencial dignidade. A edição de livros escolares se tornou um negócio gigantesco, com grandes interesses comerciais em jogo. As editoras pressionam as autoridades em busca da adoção de seus livros na rede oficial, usando dos meios de convencimento conhecidos. Suspeita-se também que haja um sistema de trocas, em que o aprovador de hoje pode vir a ser o editado de amanhã. Ao escândalo (porque se trata de um escândalo) atual, o governo de São Paulo só pode responder com a instituição de um inquérito rigoroso, antes que a Assembleia Legislativa tome a iniciativa da investigação.

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