terça-feira, 12 de maio de 2009

O BUG DO ANO 2000 E A GRIPE

Do Direto da Redação

Por Rui Martins

Berna (Suiça) - Vocês se lembram do Bug do ano 2000 ?
Os jornais, tevê, rádio só falavam nisso, que na meia-noite do 31 de dezembro de 1999, o calendário dos computadores em lugar de passar para 2000, ia retornar a 1900. Para as empresas com todos seus sistemas computorizados, administrações, laboratórios, centros de pesquisa ia ser uma catástrofe. Essa passagem a uma data anterior poderia fazer com que fossem apagados arquivos e informações e provocar caos nos supermercados, lojas comerciais, sistemas de contabilidade e até nos aeroportos. A expectativa era de um apocalipse virtual mas com consequências reais.Diante do desconhecido, como se essa desgraça estivesse descrita nos escritos de Nostradamus, houve a correria das empresas e governos aos mestres da informática para evitarem o caos. Criaram-se programas, equipes de informáticos desembarcavam nos escritórios a fim de colocar sistemas de segurança, salvar todos os dados arquivados, era o pânico geral. Gastaram-se milhões e talvez mesmo bilhões.Muitos empresários não estavam com a família na passagem do ano, mas com seus informáticos para saber o que ia dar no momento da passagem do ano. Dizia-se mesmo que até aviões poderiam cair, pois muitos deles têm todo o sistema de vôo informatizado. Foi a versão moderna do medo dos nossos ancestrais na primeira passagem do milênio. A versão do medo do fim do mundo. Nenhum computador deu pane, nem o meu que não recebeu qualquer tratamento para o fantasmagórico reveillon. O bug do ano 2000 foi o maior blefe da história da informática. E todos que gastaram milhares e mesmo milhões, que perderam o sono ou horas de trabalho, sentiram-se paspalhos. Será que depois do bug da informática estamos vivendo o bug da ciência que novamente reacendeu os temores da humanidade de um fim do mundo, transformando uma gripe em alguma coisa mais temível que a peste negra que dizimou a Europa ou que a gripe espanhola ? Dizem (e já diziam com a ameaça da gripe aviária na Ásia) que esse virus, vindo de aves e porcos aclimatados no homem, é de uma nova geração porque, transmitido de ser humano a ser humano, aliará os efeitos de uma gripe forte aos de uma infecção pulmonar, tipo pneumonia com efeitos fatais. Explicam também que, em 1918, a gripe espanhola chegou fraca para retornar, alguns meses depois, com poder fulminante e que a gripe mexicana ou porcina ou suína poderá fazer a mesma coisa. Porém, os elementos colhidos nestas duas semanas de “gripe do fim do mundo” não parecem confirmar nada disso. As pessoas afetadas têm se recuperado e o número mínimo de mortos corresponde aos de uma gripe comum. Ao contrário do risco de uma pandemia de uma nova peste não estaríamos assistindo a um enorme blefe (felizmente!), cujo autor principal é a OMS, acometida do mesmo pânico dos informáticos do Bug 2000 ? E, digamos, se estivéssemos mesmo no limiar de uma pandemia planetária, o que se está fazendo para proteger os africanos ? Não estamos vivendo igualmente o escândalo escancarado do egoismo dos países do Primeiro Mundo? Uma versão científica do “salve-se quem puder” neoliberal ? A organização Médicos sem Fronteira denuncia a inexistência de genéricos dos remédios contra essa gripe para os países pobres. Em outras palavras, se houver de verdade uma pandemia da gripe suína terá o efeito de uma bomba atômica nos países pobres, porque para se proteger com máscaras e remédios é preciso se ter um bom dinheiro. A desigualdade social tem também sua versão econômico-científica ? A imprensa européia publicou que a dengue ressurgiu com força no sul da América latina por uma razão bem simples – como a Argentina autorizou, faz algum tempo, a plantação do milho transgênico da Monsanto, as plantações submetidas a fortes pulverizações não têm mais os predadores dos mosquitos transmissores da dengue, que se multiplicam com as chuvas nos milharais. Faltou só acrescentar que o falado surto da gripe suína no mundo, que mal chega a três dígitos, e de dois para vítimas fatais, já permitiu lucros astronômicos de bilhões para a Roche, fabricante do remédio Tamiflu, e vai permitir mais outros bilhões para os fabricantes da vacina, prevista para setembro e outubro.

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