quinta-feira, 30 de abril de 2009

Gripe suína (2)

Por José Saramago

Continuemos. No ano passado, uma comissão convocada pelo Pew Research Center publicou um relatório sobre a “produção animal em granjas industriais, onde se chamava a atenção para o grave perigo de que a contínua circulação de vírus, característica das enormes varas ou rebanhos, aumentasse as possibilidades de aparecimento de novos vírus por processos de mutação ou de recombinação que poderiam gerar vírus mais eficientes na transmissão entre humanos”. A comissão alertou também para o facto de que o uso promíscuo de antibióticos nas fábricas porcinas – mais barato que em ambientes humanos – estava proporcionando o auge de infecções estafilocócicas resistentes, ao mesmo tempo que as descargas residuais geravam manifestações de escherichia coli e de pfiesteria (o protozoário que matou milhares de peixes nos estuários da Carolina do Norte e contagiou dezenas de pescadores).
Qualquer melhoria na ecologia deste novo agente patogénico teria que enfrentar-se ao monstruoso poder dos grandes conglomerados empresariais avícolas e ganadeiros, como Smithfield Farms (suíno e vacum) e Tyson (frangos). A comissão falou de uma obstrução sistemática das suas investigações por parte das grandes empresas, incluídas umas nada recatadas ameaças de suprimir o financiamento dos investigadores que cooperaram com a comissão. Trata-se de uma indústria muito globalizada e com influências políticas. Assim como o gigante avícola Charoen Pokphand, radicado em Bangkok, foi capaz de desbaratar as investigações sobre o seu papel na propagação da gripe aviária no Sudeste asiático, o mais provável é que a epidemiologia forense do surto da gripe suína esbarre contra a pétrea muralha da indústria do porco. Isso não quer dizer que não venha a encontrar-se nunca um dedo acusador: já corre na imprensa mexicana o rumor de um epicentro da gripe situado numa gigantesca filial de Smithfield no estado de Veracruz. Mas o mais importante é o bosque, não as árvores: a fracassada estratégia antipandémica da Organização Mundial de Saúde, o progressivo deterioramento da saúde pública mundial, a mordaça aplicada pelas grandes transnacionais farmacêuticas a medicamentos vitais e a catástrofe planetária que é uma produção pecuária industralizada e ecologicamente sem discernimento.
Como se observa, os contágios são muito mais complicados que entrar um vírus presumivelmente mortal nos pulmões de um cidadão apanhado na teia dos interesses materiais e da falta de escrúpulos das grandes empresas. Tudo está contagiando tudo. A primeira morte, há longo tempo, foi a da honradez. Mas poderá, realmente, pedir-se honradez a uma transnacional? Quem nos acode?

GRIPE SUÍNA - MANIPULAÇÃO GENÉTICA?

Do Blog do Américo Canhoto

Vivemos num mundo onde somos assediados por todos os tipos possíveis de interesses; e uma das armas dos interesses ocultos é o medo que paralisa a inteligência - daí qualquer notícia capaz de causar mais medo do que já sentimos; e que passe a ser divulgada com insistência nos leva a buscar descaracterizá-la através da gozação. Quanto ao problema do atual surto de gripe denominada suína; ao que parece não é tão suína assim. Convidamos os amigos a colecionarem notícias para que possamos decifrar o quebra – cabeças que se apresenta.Algumas conclusões já podem ser tiradas: Há forte suspeita de manipulação genética – Estaremos em meio a uma guerra bacteriológica? – Manipulação para satisfazer interesses econômicos de grupos?A facilidade que a ciência atual proporciona para criar armas desse tipo é algo a ser considerado pela comunidade internacional. Eliminar as pontes naturais que proporcionam relativa segurança no controle de epidemias é algo antes não sonhado. Por exemplo, se algum grupo criar um vírus transgênico capaz de pular a ponte Aedes e transmitir diretamente de humano a humano, a febre amarela; teremos uma encrenca das boas (pandemia).Até o momento estamos no terreno das evidências não conclusivas; mas, apenas com algumas informações e associando suposições e desconfianças de outras pessoas; já é possível abrir um leque de novas hipóteses.Vamos ás informações:“Nova cepa de gripe suína é mistura genética.(Fonte Reuters).Uma gripe suína letal nunca vista antes apareceu no México, matando ao menos 16 pessoas e suscitando temores de uma possível pandemia. Autoridades da Organização Mundial de Saúde afirmaram que a gripe matou cerca de 60 mexicanos.Abaixo, alguns dados sobre esse vírus e sobre os vírus da gripe em geral:* A OMS confirmou ao menos alguns dos casos de uma cepa nunca vista antes do vírus influenza A, de designação H1N1.* Embora seja chamada de gripe suína, essa nova cepa não tem infectado porcos e nunca foi vista em porcos. A ameaça é a transmissão de pessoa a pessoa.* Ela é geneticamente diferente do vírus da influenza sazonal H1N1, totalmente humano, que tem circulado pelo mundo ao longo dos últimos anos. O novo vírus da gripe contém DNA típico de vírus humanos, aviários e suínos, incluindo elementos de vírus suínos europeus e asiáticos.* A OMS está preocupada, mas diz que é muito cedo para modificar o aviso do nível de ameaça para pandemia - uma epidemia global de uma gripe nova e perigosa.* Quando uma nova cepa de gripe começa infectar pessoas e quando ela adquire a capacidade de passar de pessoa a pessoa, ela pode iniciar uma pandemia. A última pandemia foi registrada em 1968 e matou cerca de 1 milhão de pessoas.* Nos Estados Unidos oito pessoas foram diagnosticadas com a nova cepa. Todas se recuperaram, mas os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA esperam o registro de mais casos.* Os vírus da gripe sofrem mutação constantemente. É por isso que a vacina da gripe é modificada todos os anos e podem ter o DNA trocado num processo chamado de reagrupamento. A maioria dos animais pode pegar uma gripe, mas os vírus raramente são transmitidos entre espécies diferentes.* Entre dezembro de 2005 e fevereiro de 2009, foram confirmados 12 casos de infecção humana com a influenza suína. Com a exceção de uma pessoa, todas as outras tiveram contato com porcos. Nesses casos não houve evidência de transmissão entre humanos.* Os sintomas da gripe suína nas pessoas são similares aos da influenza sazonal - febre repentina, tosse, dores musculares e cansaço extremo. A gripe suína parece causar mais diarréia e vômitos que a gripe normal.* A gripe sazonal mata entre 250 mil e 500 mil pessoas em todo o mundo num ano normal.* Em 1976, uma nova cepa de gripe suína começou a infectar pessoas e, preocupadas, as autoridades de saúde norte-americanas iniciaram uma ampla vacinação. Mais de 40 milhões de pessoas foram vacinadas. Mas uma série de casos da síndrome de Guillain-Barre -- uma condição severa e por vezes fatal relacionada a algumas vacinas -- levou o governo dos EUA a interromper a campanha. O incidente provocou uma grande desconfiança com relação a vacinas de forma geral”.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Inesperada, gripe suína foi prevista há seis anos

Do Esquerdanet

Em 1965, por exemplo, havia 53 milhões de porcos em mais de 1 milhão de fazendas; hoje, 65 milhões de porcos estão concentrados em 65 mil instalações. Foi a transição dos antiquados redis de porcos para vastos infernos de excrementos, contendo dezenas de milhares de animais com sistemas imunitários enfraquecidos, sufocando de calor e estrume enquanto trocavam patogéneos a uma rapidez cega com os colegas do lado.
No ano passado, uma comissão reunida pelo Pew Research Center publicou um relatório sobre "a produção animal em fazendas industriais" que enfatizou o perigo agudo de que "os contínuos ciclos de vírus... em grandes rebanhos ou manadas [vão] aumentar as oportunidades para a geração de novos vírus através da mutação de eventos recombinantes que podem resultar em mais eficiente transmissão humano a humano." A comissão também advertiu que o uso promíscuo de antibióticos nas suiniculturas (mais barato que em ambientes humanos) estava a incentivar o crescimento de infecções de estafilococos resistentes, ao mesmo tempo que os derramamentos de esgotos produziam erupções de E coli e de pfiesteria (o protozoário que matou mil milhões de peixes nos estuários da Carolina e infectou dezenas de pescadores).
Qualquer melhoria desta nova ecologia patogénica teria de se confrontar com o monstruoso poder dos conglomerados de gado como as Smithfield Farms (porco e vaca) e a Tyson (frangos). A comissão relatou a existência de obstrução sistemática da sua investigação por parte das empresas, incluindo ameaças grosseiras de reter financiamentos a investigadores.
Trata-se de uma indústria altamente globalizada com influência política global. Só o gigante Charoen Pokphand, produtor de frangos com sede em Bangcoc, foi capaz de suprimir as investigações ao seu papel na disseminação da gripe das aves no sudoeste asiático, por isso é provável que a epidemiologia forense da erupção de gripe suína bata com a cabeça contra o muro da indústria de suínos.
Isto não quer dizer que nunca se encontrem provas flagrantes: já há bisbilhotices na imprensa mexicana sobre um epicentro de gripe em torno de uma grande subsidiária da Smithfield no estado de Veracruz. Mas o que mais importa (especialmente dada a contínua ameaça do H5N1) é a maior configuração: a fracassada estratégia pandémica da OMS , o maior declínio da saúde pública mundial, a camisa de forças da indústria farmacêutica sobre os medicamentos essenciais, e a catástrofe planetária da produção de gado industrializada e ecologicamente demente.

É a doença originada do agronegócio internacional

Do Diário do Gauche

Eu sempre insisto aqui neste blog Diário Gauche que o nome que se dá a coisas, objetos, projetos, episódios e até a doenças é muito importante.Vejam o caso dessa epidemia mundial de gripe viral. Estão chamando-a – de forma imprópria – de gripe suína. Nada mais ideológico. Nada mais acobertador da verdade.O vírus dessa gripe se originou da combinação de múltiplos pedaços de ADN humanos, aviários e suínos. O resultado é um vírus oportunista que acomete animais imunodeprimidos, preferencialmente porcos criados comercialmente em situações inadequadas, não-naturais, intensivas, massivas, fruto de cruzamentos clonados e que se alimentam de rações de origem transgênica, vítimas de cargas extraordinárias de antibióticos, drogas do crescimento e bombas químicas visando a precocidade e o anabolismo animal.Especulações científicas indicam que o vírus dessa gripe teve origem nas Granjas Carroll, no Estado mexicano de Vera Cruz. A granja de suínos pertence ao poderoso grupo norte-americano Smithfield Foods, cuja sede mundial fica no Estado de Virgínia (EUA).A Smithfield Foods detém as marcas de alimentos industriais como Butterball, Farmland, John Morrell, Armour (que já teve frigorífico no RS e na Argentina), e Patrick Cudahy. Trata-se da maior empresa de clonagem e criação de suínos do mundo, com filiais em toda a América do Norte, na Europa e China.Deste jeito, pode-se ver que não é possível continuar chamando a gripe de “suína”, pois trata-se de um vírus oportunista que apenas valeu-se de condições biológicas ótimas – propiciadas pela grande indústria de fármacos, de engenharia biogenética, dos oligopólios de alimentos e seus satélites de grãos e sementes. Todos esses setores contribuiram com uma parcela para criar essa pandemia mundial de gripe viral.O nome da gripe, portanto, não é “suína”. O nome da gripe é: “gripe do agronegócio internacional” – que precisa responder judicialmente o quanto antes – urgentemente – pela sua ganância e irresponsabilidade com a saúde pública mundial.

Perigos da desglobalização

Do Vi o Mundo

16/3/2009, Jayshree Bajoria, Council of Foreign Affairs
De trabalhadores da construção civil a banqueiros formados em Harvard, muitos estrangeiros estão sendo forçados a deixar Europa e EUA e voltar para casa, ao ritmo em que economias que cresciam há alguns meses, entram em violenta e rápida contração em todo o mundo.
Em termos globais, são 24 milhões das 52 milhões de pessoas que perderam seus empregos em 2009, segundo estimativas recentes da Organização Internacional do Trabalho, OIT. Sentimentos populares e ações protecionistas em países que dependeram do trabalho de migrantes estrangeiros nos anos do boom têm hoje, como centro de seus problemas em todo o mundo, cerca de 200 milhões de migrantes.Há muitos exemplos de novo protecionismo: em 2009, os EUA aprovaram lei que impõe restrições severas a que as empresas beneficiadas com dinheiro no Tesouro nas operações de 'resgate', empreguem trabalhadores qualificados não norte-americanos.
A Malásia e a Arábia Saudita orientam suas empresas para que, nas operações de redução de custo ou reestruturação dos negócios, demitam primeiro os trabalhadores estrangeiros. Na Inglaterra, houve protestos em grande escala (Telegraph), contra os trabalhadores não-ingleses, numa refinaria. Há notícias das Filipinas, de que mais de 5 mil filipinos já perderam seus empregos no exterior, de outubro/2008 a janeiro/2007.
Até a Irlanda já está rediscutindo suas leis de imigrações, sempre tidas como liberais, e que possibilitaram que levas massivas de imigração sustentassem o crescimento do país desde o final dos anos 90s. Em pesquisa de setembro de 2008, quando a economia do país já estava abalada, 66% dos irlandeses declararam-se a favor de leis mais restritivas para trabalhadores estrangeiros (IrishTimes).Muitos especialistas estão estudando essa 'desglobalização'. Alguns também já temem uma drenagem reversa (dos EUA para fora) de cérebros.Examinando a contribuição de trabalhadores qualificados estrangeiros, para a economia dos EUA, o professor Vivek Wadhwa, da Duke University, observa que trabalhadores imigrados para os EUA fundaram 25% de todas as empresas de tecnologia e engenharia criadas entre 1995 e 2005, e metade de todas que se instalaram no Vale do Silício.
Matthew Slaughter, do Conselho de Foreign Affairs diz que imigrantes qualificados podem ajudar a ressuscitar a economia, criando mais empregos nos EUA. "Se os impedirmos de ficar, estaremos nos prejudicando", escreveu como co-autor de artigo recentemente publicado no Wall Street Journal. A pesquisa de Wadhwa demonstra que as empresas de alta tecnologia fundadas por imigrantes geraram 52 bilhões de lucros e empregaram 450 mil trabalhadores em 2005.No curto prazo, os especialistas temem os efeitos, para a economia norte-americana, de medidas protecionistas contra imigrantes e a perda dos empregos – que mandem de volta esses migrantes para seus países de origem e contenham as ondas migratórias para os EUA. Esses movimentos reduziriam o dinheiro enviado para seus países de origem, o quê, associado ao desemprego, faria aumentar os riscos de instabilidade social e política.
O Banco Mundial estima que haverá queda de 0,9% nessas remessas em 2009, mas que a queda pode chegar a 6%, se a situação econômica agravar-se nos EUA. A Organização Internacional para a Migração também alerta contra o risco de crescerem as manifestações de xenofobia "baseadas na falsa ideia" de que os migrantes 'roubariam' empregos de trabalhadores locais.No longo prazo, escreve Stephen Castles, co-autor do livro The Age of Migration, the motivation to migrate, em tempos de recessão, talvez mais do que antes, as remessas de dinheiro podem converter-se em forma consistente e resistente de transferência internacional de fundos.
Argumenta também que a desigualdade econômica global e os desequilíbrios demográficos entre populações mais idosas do norte e a massiva população mais jovem e em idade produtiva do sul ainda são fatores importantes para gerarem futuras ondas migratórias.A recente queda no número de prisões de imigrantes na fronteira EUA-México levanta pelo menos uma questão: o encolhimento do mercado de trabalho nas economias desenvolvidas deterá a imigração ilegal? Os especialistas parecem divididos. Alguns, de fato, pensam que leis de imigração mais rígidas nos mercados de destino podem apenas fortalecer o mercado de trabalho ilegal.Para responder efetivamente à crise financeira, os economistas em geral argumentam contra os países ricos imporem barreiras aos migrantes. Em outubro de 2008, o secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon destacou que a migração pode arrancar o mundo de sua crise econômica. "Agora, mais do que nunca, políticos e governantes estão obrigados a cooperar através de todas as fronteiras", disse ele.Também há quem pense em reformar as leis de migração de modo a não impedir o trânsito de trabalhadores qualificados, sem, com isso, afrouxar o controle nas fronteiras. Em recente entrevista a CFR.org, o ex-secretário de Segurança Interna dos EUA, Michael Chertoff, disse que os legisladores, nos EUA, deveriam já estar trabalhando para alterar as políticas de imigração, antes até de que o país entre em processo de recuperação econômica. "Há muito o que dizer agora, antes de que a economia se recupere, e a demanda por mão-de-obra volte a crescer", disse ele.

terça-feira, 28 de abril de 2009

CADELA, PUTA OU LÉSBICA

Do Direto da Redação

Por Eliakim Araújo

As mulheres que servem ao exército norte-americano no Iraque têm que enfrentar dois inimigos: os iraquianos , que querem matá-las, e os próprios americanos, que querem violentá-las se elas não os atendem em seus instintos sexuais. Leia o relato de Mickiela Montoya, que passou onze meses na guerra. Montoya conta que, certa noite, quando terminava sua guarda, o companheiro que veio substitui-la lhe disse: "Sabe de uma coisa, eu poderia te possuir agora mesmo e ninguém te ouviria gritar ou ficaria sabendo do que aconteceu". Com presença de espírito, Montoya respondeu: "se você tentar, eu mato você com o meu punhal ". Ela não tinha o punhal, mas daquele dia em diante passou a andar com um punhal amarrado à perna. Não para se defender dos iraquianos, mas dos próprios companheiros. Montoya termina seu depoimento com uma afirmação que é, ao mesmo tempo, um desafio aos comandantes militares e ao próprio governo dos EUA: “Só há três coisas que eles deixam a mulher ser no exército: cadela, puta ou lésbica”. Essa história real está narrada no livro "O soldado solitário: a guerra particular das mulheres que servem no Iraque", da professora de jornalismo Helen Benedict, da Universidade de Columbia, recentemente lançado nos EUA. No livro, a professora reuniu os depoimentos de quarenta mulheres soldados que foram apresentados no mês de março em teatros de NY, em forma de monólogos. Das quarenta ouvidas pela autora, todas ex-combatentes no Iraque, 28 foram violentadas, agredidas ou assediadas sexualmente. Este é um dos lados mais sombrios e cruéis da guerra no Iraque, a que reune o maior contingente feminino da história das guerras norte-americanas, numa proporção de uma para cada dez homens.Além da cultura machista, por si só origem do tratamento diferenciado entre os dois sexos a partir das próprias organizações militares, as mulheres são vítimas da discriminação dos homens que não as respeitam porque a elas são atribuídas tarefas de apoio, embora pelas características próprias da guerra no Iraque elas corram os mesmos riscos que os combatentes homens. Essa discriminação e o isolamento em que vivem faz com que elas não consigam criar um espírito de camaradagem, o que as torna vulneráveis à perseguição sexual dos companheiros.A estatística do Departamento de Veteranos, aparentemente mais branda do que as quarenta ouvidas por Benedict, indica que 30% das mulheres que serviram no Iraque foram violentadas por seus próprios companheiros. Em compensação revela que 90% dos casos de ataques não são denunciados por várias razões, a principal delas o medo de entregar os estupradores e agressores, que são muitas vezes seus superiores hierárquicos. E assim, muito do que acontece nos bastidores da guerra no Iraque não chega ao conhecimento do público.Daí a importância do livro de Helen Benedict que é implacável em acusar os vários tipos de discriminação de que são vítimas as mulheres soldados americanas. Ela aconselha as mulheres a resistirem, a denunciarem os violadores custe o que custar, como única forma de luta pela igualdade de direitos dentro das organizações militares. Por último, Helen Benedict acusa os recrutadores de serem coniventes e mentirem para as mulheres quando elas se apresentam para o voluntariado. Eles só falam das “vantagens” de se alistar nas forças armadas, tais como carreira, boa remuneração, benefícios de saúde e ensino para ela e a família. Mas não as alertam para os riscos da guerra e a indiferença da burocracia em cumprir os compromissos assumidos.Certamente o hábito de tratar a mulher como um ser inferior não deve ser um “privilégio” das forças armadas americanas. Penso que essa luta deve ser também das mulheres brasileiras engajadas em organizações militares. Está mais do que na hora delas se unirem e exigirem uma mudança radical na mentalidade e no comportamento masculino, para que não se ouça novamente depoimentos como este, extraido do livro de Helen Benedict:“Acabei de lutar a minha própria guerra, contra um inimigo vestido com o mesmo uniforme que o meu”.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Seis meses no Senado garantem plano de saúde familiar vitalício

Do Blog do Bourdoukan

“Os 310 ex-senadores e seus familiares pensionistas custam pelo menos R$ 9 milhões por ano, cerca de R$ 32 mil por parlamentar aposentado. Detalhe: para se tornar um ex-senador e ter direito a usar pelo resto da vida o sistema de saúde bancado pelos cofres públicos é preciso ocupar o cargo por apenas seis meses. Antes de 1995, a mordomia era ainda maior: bastava ter ficado na suplência por apenas um dia”.Talvez isto explique a proliferação dos planos de saúde e o desmantelamento dos hospitais públicos.Não é para se indignar?

Joaquim Barbosa refletiu a opinião de boa parte dos brasileiros

Da Revista Algo Mais

Por Edimar Lyra

A população brasileira presenciou algo que nunca antes na história desse país aconteceu. Uma discussão entre o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Gilmar Mendes e o Ministro Joaquim Barbosa, o primeiro negro a ser nomeado ministro da suprema côrte brasileira.Eles estavam analisando os recursos contra duas leis consideradas inconstitucionais pelo STF. Uma, tratava da criação de um sistema de seguridade do estado do Paraná, e outra, da permanência de processos de autoridades no Tribunal, ainda que os réus perdessem cargos políticos.Até que o ministro Gilmar Mendes criticou o posicionamento do ministro Joaquim Barbosa dizendo que o mesmo "não tinha condições de dar lição de moral a ninguém". Barbosa respondeu, dizendo-lhe que o mesmo "está destruindo a justiça neste país e vem agora dar lição de moral a mim?Saia à rua, ministro Gilmar. Saia à rua, faça o que eu faço”.Mendes rebateu dizendo que já estava na rua, foi quando recebeu a mais dura crítica: “Vossa Excelência [Gilmar Mendes] não está na rua não, vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro. É isso. Vossa Excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas de Mato Grosso, ministro Gilmar. Respeite”. Até o Ministro Marco Aurélio Mello propor o final da sessão pelos ânimos acirrados.Pois bem, o Ministro Gilmar Mendes, Presidente do STF vem de fato manchando a imagem do judiciário brasileiro, que já é vergonhosa. Pelo fato dos procedimentos jurídicos durarem muito tempo e muitas vezes os detentores de poder político e econômico se sobressaírem em relação ao que manda a justiça.A maioria da população brasileira se sentiu representada pelo Ministro Joaquim Barbosa. Um homem íntegro, respeitado e com vontade de melhorar este país. É de representantes como Joaquim Barbosa que os poderes executivo, legislativo e judiciário estão precisando.É inadmissível que Gilmar Mendes continue como presidente do STF, sujando a imagem do judiciário brasileiro. Ele, quer queira, quer não, é um representante do povo. E não pode tomar atitudes que desmoralizem o país como a de conceder liberdade a Daniel Dantas. Chegando a ser apelidado de "Libertador Geral da República".Como se não bastasse a vergonha que é o Congresso Nacional, o judiciário ser presidido por uma pessoa inescrupulosa, que defende apenas o interesse dos mais "endinheirados".Era necessário que alguém chegasse e questionasse este posicionamento do Presidente do STF, e o Ministro Joaquim Barbosa honrou sua posição e representou de fato o povo brasileiro no judiciário. São poucos os que têm a coragem dele. *Estudante de Administração

sexta-feira, 24 de abril de 2009

SUSAN, A FEIA

Do Direto da Redação

Por Leila Cordeiro

Como explicar alguém que nunca viveu em outro lugar a não ser na mesma casa numa aldeota da Escócia, que nasceu com problemas de oxigenação no cérebro o que retardou sua capacidade de aprendizado, que aos 47 anos aparenta ter mais de 60 e que nunca beijou um homem na boca, levar o mundo às lágrimas quando entoou os primeiros acordes da difícil “I dreamed the dream” de "Os Miseráveis", num show de calouros britânico? Que se cuide a famigerada “Beth, a feia”, fenômeno de seriado televisivo representado em vários países, inclusive no Brasil, com estréia já prevista na Record , porque Susan, que também não tem atributos de beleza, já ultrapassou a fama de Beth, conquistando o planeta com sua simplicidade e modéstia, apesar do tipo físico desengonçado e sem graça. Susan é daqueles fenômenos que aparecem de vez em quando para acordar a humanidade trazendo alguma mensagem. No caso dela, os mais espiritualistas dizem ter sido um alerta do Universo às frivolidades mundanas dos dias de hoje quando o que conta é a aparência das pessoas, que no caso da escocesa, era a última coisa que podia transformá-la em estrela. Eles também atribuem à Susan o encargo de ser um anjo de esperança num momento de desespero mundial gerado pela crise quando dezenas de mulheres e crianças são mortas pelos próprios chefes de família que perderam casa, emprego, dignidade e principalmente a sanidade mental. Com sua voz clara, forte e sem nenhum artifício tecnológico, Susan canta sem fazer esforço, é como se falasse através da música, passando uma mensagem que , talvez nem ela mesma saiba o significado. Uma mensagem de coragem e determinação. Afinal ela viveu a vida inteira na esperança de ser uma cantora profissional. Sua pureza de sentimentos e falta de malícia são tantas que ela, com a maior tranquilidade, disse isso no palco do programa, arrancando gargalhadas do público e dos jurados. Evidentemente que nem preciso relembrar tudo isso pois todos os detalhes do video passaram a ser conhecidos no You Tube que já teve mais de vinte milhões de acessos. Além disso, Susan já foi capa de revista no mundo todo, manchete de jornais de papel e on line, teve sua apresentação reproduzida em todas as emissoras de TV do planeta, foi entrevistada em noticiários e programas jornalísticos e agora já está na pauta dos mais famosos talk-shows. A presença dela na Oprah está agendada e dizem que Simon Cowel, o jurado durão e produtor de todos os reality-shows musicais já teria convidado Susan para gravar um CD. Tomara. Ela merece estourar nas paradas de sucesso do mundo todo. Pois é…ficar aqui falando de Susan é dizer o que todo mundo já sabe, ela virou um exemplo de determinação, um ídolo de verdade em meio a tantos fabricados e inventados pela indústria da música. Ela se impôs com um talento indiscutível, desafiando preconceitos e calando a boca dos debochados. Susan Boyle deu um verdadeiro “Olé” nos que vivem por aí promovendo só os “bonitinhos” mauricinhos e patricinhas em detrimento dos verdadeiros talentos. Susan escolheu cantar “I dreamed the dream” de os Miseráveis onde a personagem Fantine, linda e sedutora, sonhava em sair da vida infernal que levava. Não conseguiu. Susan, ao contrário , não achava sua vida miserável, ela, mesmo feia e desengonçada, só queria ser uma cantora famosa e não há dúvida que já chegou lá!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Quem são os capangas de Mendes?

Do site Vi o Mundo

Por Luiz Carlos Azenha

A quem o ministro Joaquim Barbosa estava se referindo quando disse que não era um dos capangas de Gilmar Mendes em Mato Grosso?
Sabemos que Mendes adora agradar aos poderosos, especialmente aos brancos de olho azul.
Todos os dias, na TV, vejo presos algemados. Nem um pio do presidente do STF.
Todos os dias somos informados de casos escabrosos de presos que sofrem de doenças gravíssimas -- câncer e Aids, entre outros -- e continuam presos, muitas vezes sem atendimento médico. Nem um pio do presidente do STF.
No entanto, quando se tratou de beneficiar uma empresa que cobra pedágio contestado pela população, entre Ourinhos e Jacarezinho, lá estava o canetaço de Gilmar Mendes para refazer decisões de instâncias inferiores.
Leia aqui
Quando se tratou de atropelar os interesses dos indígenas de Mato Grosso e beneficiar indiretamente os amigos do governador Blairo Maggi, lá estava o canetaço de Gilmar Mendes.
Leia aqui
O presidente do STF deu pernas a dois "grampos" para os quais ainda não apareceram provas: a "escuta ambiental" sem áudio do STF e o grampo sem áudio da conversa dele, Gilmar, com o senador Demóstenes Torres. São duas farsas que "estrelaram" capas da revista Veja cujo objetivo principal era salvar Daniel Dantas, demitir Paulo Lacerda e afastar o delegado Protógenes Queiroz.
Como é que pode o presidente da mais alta Corte de um país ser co-partícipe de armações tão evidentes?
Agora que Joaquim Barbosa rompeu o silêncio, quem são os "capangas" de Gilmar, em Mato Grosso e fora dele?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Carta do exílio de Bruno Daniel

Do Blog Desemprego Zero
França, 16 de abril de 2009

Caros amigos

Hoje, 16 de abril, Celso Daniel, meu irmão, estaria completando 58 anos de vida. Como todos sabem, foi sequestrado, torturado e assassinado há mais de sete anos quando era prefeito de Santo André e coordenava a elaboração do programa de governo do então candidato à presidência da república Luis Inácio Lula da Silva. Sérgio Gomes da Silva, que o acompanhava no momento do sequestro, foi denunciado pelo Ministério Público como mandante desse crime. Foi preso por um pequeno período, mas responde em liberdade, após obter habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, sob a alegação de que não representa perigo para a sociedade.
Apesar de todas as evidências colhidas pelo MP que mostraram que o crime foi planejado e que há pelo menos um mandante, o Poder Judiciário ainda sequer decidiu se o julgamento deve ir a júri popular porque, segundo informações que obtivemos do MP, a última das testemunhas arroladas pela defesa de “Sombra” (conforme Sérgio é chamado pela imprensa e era conhecido nos meios petistas) ainda não foi ouvida, pois nunca é encontrada. Parece-nos que expedientes como esse e tantos outros são usados para que as tramitações legais se alonguem no tempo, de modo a tornar mais difícil sua solução.
Inúmeros outros assassinatos que ganharam amplo espaço na imprensa já foram resolvidos ou a justiça já se posicionou quanto ao encaminhamento a ser dado. Como explicar que no “caso Isabella”, de cinco anos, morta em 2008 ao cair do apartamento onde residia, seu pai e sua madrasta já tenham ido a júri popular e até hoje o processo de Celso segue sem essa decisão após mais de 7 anos? Como explicar que o promotor Igor Ferreira, 3 anos após ter tirado a vida de sua esposa já tenha sido julgado e condenado e o caso de Celso segue ainda sem resposta da justiça? Como explicar que no crime de que foi acusado o promotor Thales Ferri Schoedl a decisão final tenha sido tomada em menos de 4 anos e os indiciados pelo crime contra Celso ainda sequer tenham ido a júri popular? Como explicar que o jornalista Pimenta Neves tenha sido condenado em primeira instância após 6 anos pela morte de sua namorada, a jornalista Sandra Gomide, e o assassinato de Celso ainda se encontra em fase de arguição de testemunhas pelo juiz?
Poderíamos citar outros crimes, mas esses já são exemplares para afirmar: há algo de estranho que impede que o julgamento dos responsáveis por seu sequestro, tortura e assassinato não seja solucionado. Quais são as razões dessa morosidade? Quais são as pessoas e instituições que têm interesse no sentido de que nada seja resolvido?
Não cabe a mim julgar os indiciados, mas cabe a mim denunciar esta morosidade. Além disso tenho o direito de apontar problemas de procedimentos correntes na justiça brasileira. Por exemplo, procedimentos que impedem o juiz de tomar a decisão se o processo relativo ao assassinato de meu irmão, passados mais de 7 anos de sua morte, vai ou não a júri popular enquanto não for ouvida a última testemunha de defesa de Sérgio Gomes da Silva.
Que país é o nosso em que pessoas já condenadas em primeira instância podem ficar soltas até que todos os recursos nas demais instâncias sejam analisados enquanto nós, minha família e eu, tivemos que deixar o país em 2006 em função de intimidações, perseguições e ameaças que sofremos e depois de terem ocorrido oito mortes relacionadas à morte do Celso? Se é justo que um julgamento tenha que chegar a seu fim para que haja punições, é justo que os procedimentos legais possam se alongar quase que indefinidamente?
Para aqueles que esperam que eu me cale, apesar da condição de exílio que hoje vivo, outorgado pelo Estado francês, uma vida que tem um lado amargo porque fico distante de meu país e sou impedido de ver amigos e parentes, quero dizer que o presente que tenho a dar ao meu irmão em cada um de seus aniversários é e será a minha luta, mesmo à distância, pelo aperfeiçoamento das nossas instituições através de nossas reivindicações de punição aos culpados pela morte de Celso e de mudanças ligadas às causas que lhe deram origem.
Como aceitar que Donizeti Braga, que teria tido seu celular rastreado na região do cativeiro de meu irmão, tenha direito a foro especial no processo de investigação pelo único fato de ser deputado estadual? Como aceitar que o “Sombra” responda em liberdade por decisão da mais importante instância do Judiciário brasileiro enquanto somos obrigados a viver exilados? Como aceitar que a lentidão de recursos interpostos possam retardar durante anos e anos a punição de criminosos, agora que o STF decidiu que a prisão de um condenado só pode ocorrer quando julgados todos os recursos?
Sabemos que contamos com a solidariedade e apoio de muitos que lutam e também desejam que o Brasil seja um país mais democrático e menos injusto. Que esta carta ajude neste sentido e contribua para que o caso seja equacionado o mais rápido possível.
Bruno José Daniel Filho
França, 16 de abril de 2009

Não interessa a ninguém

Da Carta Capital

Por Sócrates

Ao acompanhar as reações de quase todos em relação ao episódio envolvendo o atacante Adriano, diante da notícia de seu afastamento por estar insatisfeito com os rumos de sua vida, lembrei-me de quando resolvi abandonar a minha aventura italiana. Até hoje, acreditem, muitos consideram um absurdo minha decisão de voltar para a minha terra e o meu povo, deixando por lá um caminhão de dinheiro, algo em torno de 1 milhão e meio de dólares americanos. São os mesmos que jamais conseguirão entender que morar em Florença, o berço da Renascença, tomar na hora em que quiser um dos melhores vinhos do mundo, o Chianti, comer uma suculenta bisteca à Fiorentina, quando, como e onde preferir. Ou visitar cotidianamente, se conseguir, a galeria Degli Ufizzi e ver de perto o original da escultura Davi, de Michelangelo, e mil outras obras de arte. Jantar em um restaurante chiquérrimo na Piazzale, batizada com o nome do mestre, visitar as ruínas da civilização etrusca em Fiesole. Tudo isso ou ainda qualquer outro atrativo é NADA comparado ao que chamamos de felicidade. Felicidade não é ter, e, sim, ser. É um estado de espírito e uma série de sentimentos concomitantes em que predominam a paz interior e a alegria de se sentir vivo e sabedor do que e de para que estamos aqui. Para tanto, temos de estar onde nos sentimos bem, com quem nos faz bem, envoltos em uma bruma que nos afague e acaricie e nos complete. Felicidade está no sorriso de uma criança, bem ou malvestida, bem ou mal alimentada. Não em uma bolsa Louis Vuitton ou em um perfume igualmente francês. Felicidade está em sentir o frescor da brisa marinha ao lado da mulher ou do homem amado, caminhando despreocupadamente pela areia banhada pela água salgada. E não nas inúmeras horas passadas no cabeleireiro, falando mal dos outros e maquiando a si próprio. Ou apenas no prazer de se deleitar na leitura de um bom livro, ouvindo uma linda música. Ou em uma gostosa gargalhada escutada a dezenas de metros. É certo que vivemos em uma sociedade viciada em consumo e que muitos dos que dela fazem parte pouco estão se lixando com a tal da felicidade. Encontramos, justamente por esse motivo, tanta gente infeliz, mal-amada, mascarando o seu dia a dia, para, quem sabe, nele achar alguma coisa de útil ou prazeroso. Também é por isso que o amor pelos outros parece definitivamente em extinção, pois já não vemos um cavalheiro levantar para dar lugar a uma pessoa de idade, muito menos para uma dama jovial nos metrôs da vida. Daí, contudo, a ficarem estarrecidos com a opção de um indivíduo em busca da felicidade é uma demonstração de acomodação completa com a própria escolha, o que os torna incapazes de enxergar a grandiosidade do gesto. Além do que, ele pode estimular pelo menos uma reflexão crítica das futuras gerações para, eventualmente, estas optarem por um comportamento mais realista e mais humano. No entanto, para um fato como esse tornar-se uma ferramenta de educação social é preciso contemplar os dois lados da questão. Que se analisem com isenção os prós e contras de atitude tão radical. Respeitando-se, claro, as decisões pessoais, pois estas são indiscutíveis. Assim como Leandro decidiu não viajar para a Copa do Mundo realizada no México, jogando pela janela tudo o que conquistara e o futuro na profissão, em solidariedade ao colega Renato Gaúcho, que com ele havia ferido o dogma da “concentração-prisão” em determinada situação. Solidariedade é uma ação comportamental que deveria ser eternamente valorizada, para o bem das relações sociais. E apenas energúmenos podem declinar de utilizar exemplos públicos como este para difundi-la no seio da sociedade. E foi o que infelizmente aconteceu. A maior parte da mídia e, consequentemente, das pessoas que engolem qualquer “sapo” vindo da mesma sem ao menos usufruir de uma visão crítica – eternamente escondida no fundo de algum porão de suas personalidades – difundiu o episódio como se fosse um caso de homossexualismo barato, rebaixando-o ao menor nível possível, como é praxe dos preconceituosos e racistas, para não falar de coisa pior. Deixemos, pois, Adriano seguir o caminho escolhido. Só a ele cabe essa decisão. Não divaguemos pelo desconhecido da especulação maldosa e vil, numa tentativa de arrasar um ser humano só porque este tomou uma estrada que causa aversão a tantos, já que não lhes foi dado o prazer de conhecê-la. Somos poucos, mas ainda acreditamos que viver bem passa necessariamente pela felicidade que podemos conquistar.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Cristovam explica idéia de plebiscito

Do Balaio do Kotscho

Uma semana depois de todo barulho causado pela proposta em que lançou a idéia de um plebiscito, para o povo decidir se deseja ou não o fechamento do Congresso Nacional, recebi do senador Cristovam Buarque o texto, que reproduzo abaixo, no qual ele explica a origem da polêmica.
Tudo começou numa despretenciosa entrevista do senador ao blog do colega Magno Martins, de Pernambuco, e correu célere até chegar à tribuna do Senado, mostrando como a internet mudou as relações entre os políticos e a opinião pública.
Cristovam revela que aprendeu quatro lições com este episódio, a principal delas, a meu ver, mostrando que, se o plebiscito fosse mesmo realizado, a maioria absoluta da população votaria pelo fechamento do Congresso Nacional.
Entre a entrevista e o artigo, mais uma enxurrada de denúncias contra os parlamentares nos últimos dias alagou os salões acarpetados da ilha da fanstasia onde eles vivem.
A mais recente, revelada hoje, dá conta de que um deputado do Rio Grande do Norte, Fábio Faria, do PMN usou sua cota para pagar com dinheiro público passagens para a ex-namorada Adriane Galisteu, a mãe dela, e outros artistas.
Ao se explicar, Faria lançou mais uma novidade: Adriane era como se fosse sua parente. Se esse critério vingar, e tivermos que pagar as passagens de todas as namoradas dos senhores deputados e senadores como se fossem parentes, estamos fritos.
Vale a pena ler o artigo em que o senador Cristovam Buarque faz uma serena e, ao mesmo tempo, dramática análise do atual momento vivido pelo Congresso Nacional:

Lições de uma Frase
Cristovam Buarque

Na semana passada, em Recife, em entrevista por telefone para o blog do Magno Martins, respondi que diante da crise de credibilidade do Congresso, em breve surgiria uma proposta de plebiscito para o povo decidir se deseja ou não um Parlamento aberto. A dimensão tomada pela divulgação desta frase, no blog, permite algumas lições.
A primeira, de como uma frase por telefone, de dentro de um carro no meio do engarrafamento, em poucas horas se espalha por todo o Brasil. Quando cheguei aonde ia, já havia jornalista me ligando para saber sobre o assunto.
Anos atrás, a frase ficaria restrita a poucas pessoas, porque demoraria tanto a se espalhar, que se espalharia morta. Esta lição nos permite descobrir que os políticos, como eu, não estamos preparados para os novos tempos das comunicações universalizadas e instantâneas. O Parlamento também não.
Apesar desta instantaneidade universal das informações e, portanto, das imediatas manifestações de vontade da população, nós parlamentares continuamos agindo no mesmo ritmo de décadas ou mesmo séculos atrás.
Nossos projetos de lei demoram anos, ou décadas, para esgotarem todo o processo até aprovação ou rejeição. Ficamos um poder atrasado em relação ao Executivo, daí as Medidas Provisórias como uma necessidade, mas que terminam paralisando o Congresso. Mas, além do oportunismo do Executivo, as MP são fruto da baixa velocidade como o Congresso desempenha suas funções. Esta é outra lição.
Outra, mais grave é a prova de que o Congresso está tão desmoralizado, que nenhum dos críticos à frase levantou a hipótese de que o plebiscito poderia receber o voto favorável do eleitor para manter o Congresso funcionando.
A crítica considerando a frase golpista demonstrou que todos tomaram a idéia do Plebiscito como se a resposta fosse um claro e rotundo apoio ao fechamento, não à manutenção. Esta é a mais importante das lições.
Os formadores de opinião estão convictos de que o povo deseja fechar o Congresso. Caso contrário, teriam tomado a idéia de um plebiscito como o momento da reafirmação do Congresso, que receberia o apoio popular.
Uma quarta lição é como as frases adquirem vôo próprio, transformam-se e passam a definir o que não estava na sua origem. Eu quero abrir o Congresso, não fechá-lo, como ele de certa forma está neste momento.
As pessoas já esqueceram que durante os 21 anos do regime militar, o Congresso só esteve fechado por poucas semanas. Estava aberto todo o tempo, mas era irrelevante e inoperante, e não respeitado pela opinião pública. Até 1978, quando novos parlamentares começaram a falar contra o regime e articularem o fim da ditadura. Imediatamente recebeu o respeito e o reconhecimento do povo porque essa era a pauta do povo: a anistia, as eleições diretas para presidente, o fim do exílio, da tortura e das prisões políticas.
Alguns congressistas estavam sintonizados com o povo. Mas nem todos. A emenda das diretas foi recusada pelos congressistas, muitos deles até hoje com mandatos. Naquela época, um plebiscito teria aprovado as eleições diretas, o Congresso, com sua elite bem formada, derrubou-a.
A crise do Congresso é imensa e não adianta imaginar que vai ser resolvida sem um choque de idéias levando em conta o que o povo deseja. Até recentemente, o povo ficava silencioso entre as eleições, agora, a mídia, por todos seus meios modernos, colocou o povo na “rua virtual” que leva uma frase de dentro de um carro para o País inteiro.
Não vai demorar que esta rua se manifeste. Pode ser de forma eleitoral, substituindo todos os atuais parlamentares, nas eleições de 2010, pode ser de formas não eleitorais, que ainda não conhecemos, porque ainda não sabemos como vai agir, no futuro, no Brasil, a “rua virtual”. Nos EUA ela encontrou seu caminho e elegeu um negro para presidente, contra a vontade da elite que teve esta oportunidade por mais de dois séculos.
Não há forma de manter um Congresso aberto, durante a democracia, sem que esteja respeitado e sintonizado com a opinião pública. Há golpes barulhentos e golpes silenciosos, uns que fecham o Congresso e outros que o mantém aberto, mas irrelevante, sem sintonia com o povo, desmoralizado.
Esse golpe silencioso está em marcha, por culpa de nós próprios parlamentares, todos nós, não coloquemos a culpa em apenas alguns. E uma das culpas é o silêncio. Melhor passar a aparência de golpista por mostrar o risco de o golpe acontecer, do que ficar no silêncio omisso diante do golpe que já está acontecendo.
Outra lição é de que o político hábil é aquele que não corre risco dizendo frases polêmicas. A polêmica pode levar a desgastes de dimensões fatais eleitoralmente. O bom político é o silencioso, que trabalha sem polêmica, que concentra sua ação nas articulações internas ao Congresso e no convívio dos seus eleitores. Esta lição eu não vou seguir. Não vale a pena ver os problemas sem fazer deles o alarde que a história precisa um dia saber que foi feito.

Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília e senador pelo PDT/DF

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Novo modelo de sociedade

Do Brasil do Fato
Se queremos tirar algum proveito da atual crise financeira, devemos pensar como mudar o rumo da história
Frei Betto

Ao participar do Fórum Econônimo Mundial para a América Latina, a 15 de abril, no Rio, indaguei: diante da atual crise financeira, trata-se de salvar o capitalismo ou a humanidade? A resposta é aparentemente óbvia. Por que o advérbio de modo? Por uma simples razão: não são poucos os que acreditam que fora do capitalismo a humanidade não tem futuro. Mas teve passado?
Em cerca de 200 anos de predominância do capitalismo, o balanço é excelente se considerarmos a qualidade de vida de 20% da população mundial que vivem nos países ricos do hemisfério Norte. E os restantes 80%? Excelente também para bancos e grandes empresas. Porém, como explicar, à luz dos princípios éticos e humanitários mais elementares, estes dados da ONU e da FAO: de 6,5 bilhões de pessoas que habitam hoje o planeta, cerca de 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, dos quais 1,3 bilhão abaixo da linha da miséria. E 950 milhões sofrem desnutrição crônica.
Se queremos tirar algum proveito da atual crise financeira, devemos pensar como mudar o rumo da história, e não apenas como salvar empresas, bancos e países insolventes. Devemos ir à raiz dos problemas e avançar o mais rapidamente possível na construção de uma sociedade baseada na satisfação das necessidades sociais, de respeito aos direitos da natureza e de participação popular num contexto de liberdades políticas.
O desafio consiste em construir um novo modelo econômico e social que coloque as finanças a serviço de um novo sistema democrático, fundado na satisfação de todos os direitos humanos: o trabalho decente, a soberania alimentar, o respeito ao meio ambiente, a diversidade cultural, a economia social e solidária, e um novo conceito de riqueza.
A atual crise financeira é sistêmica, de civilização, a exigir novos paradigmas. Se o período medieval teve como paradigma a fé; o moderno, a razão; o pós-moderno não pode cometer o equívoco de erigir o mercado em paradigma. Estamos todos em meio a uma crise que não é apenas financeira, é também alimentar, ambiental, energética, migratória, social e política. Trata-se de uma crise profunda, que põe em xeque a forma de produzir, comercializar e consumir. O modo de ser humano. Uma crise de valores.
Desacelerada a ciranda financeira, inútil os governos tentarem converter o dinheiro do contribuinte em boia de salvação de conglomerados privados insolventes. A crise exige que se encontre uma saída capaz de superar o sistema econômico que agrava a desigualdade social, favorece a xenofobia e o racismo, crminaliza os movimentos sociais e gera violência. Sistema que se empenha em priorizar a apropriação privada dos lucros acima dos direitos humanos universais; a propriedade particular acima do bem comum; e insiste em reduzir as pessoas à condição de consumistas, e não em promovê-las à dignidade de cidadãos.
Há que transformar a ONU, reformada e democratizada, no fórum idôneo para articular as respostas e soluções à atual crise. Urge implementar mecanismos internacionais de controle do movimento de capitais; de regular o livre comércio; de pôr fim à supremacia do dólar e aos paraísos fiscais; e assegurar a estabilidade financeira em âmbito mundial.
Não haveremos de encontrar saída se não nos dermos conta de que novos valores devem ser rigorosamente assumidos, como tornar moralmente inaceitável a pobreza absoluta, em especial na forma de fome e desnutrição. É preciso construir uma cultura política de partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano, e passar da globocolonização à globalização da solidariedade.
As Metas do Milênio e, em especial, os sete objetivos básicos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, de 1995, devem servir de base a um pacto para uma nova civilização: 1) Escolaridade primária universal; 2) Redução imediata do analfabetismo de adultos em 50%; 3) Atenção primária de saúde para todos; 4) Eliminação da desnutrição grave e redução da moderada em 50%; 5) Serviços de planificação familiar; 6) Água apta para o consumo ao alcance de todos; 7) Créditos a juros baixos para empresas sociais.
A experiência histórica demonstra que a efetivação dessas metas exige transformações estruturais profundas no modelo de sociedade que predomina hoje, de modo a reduzir significativamente as profundas assimetrias entre nações e desigualdades entre pessoas.
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Luis Fernando Veríssimo e outros, de “O desafio ético” (Garamond), entre outros livros.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

OS PERIGOS DA CIDADANIA ATIVA

Por Paulo R. Santos

Ser cidadão ou cidadã, de fato e de direito, é perigoso? Sim. Tanto no Brasil como em qualquer outra parte do planeta. Afinal, fazer valerem direitos e respeito a costumes socialmente determinados, a leis que equilibram a convivência social, sempre vão esbarrar em interesses de casta, classe e, principalmente, em interesses pessoais.
Chico Mendes é atualmente lembrado e celebrado como um homem exemplar na defesa da Amazônia, do meio ambiente, dos direitos dos pequenos diante dos abusos e da tirania dos grandes e poderosos. Foi indiretamente ameaçado. Recebeu recados de que sua vida estava em perigo. Fez denúncia à Polícia, ao Ministério Público, mas só foi levado a sério depois de ter sido encontrado morto, com o peito cheio de chumbos de uma espingarda de grosso calibre.
Chico Mendes morreu por aquilo em que acreditava. Morreu por seus ideais, por causa de sua determinação, de sua ousadia em enfrentar os donos do negócio (o negócio, neste caso, é a Amazônia e suas riquezas naturais). Morreu por reclamar menos e fazer mais. A isso se denomina cidadania ativa.
Cidadania não se resume a um status jurídico. Um direito outorgado pelo Estado a partir de uma determinada idade. Cidadania é, sobretudo, uma escolha moral, e essa escolha pode acontecer em qualquer idade. Independe de sexo, etnia, idade, religião, grau de escolaridade, vida urbana ou rural.
Cidadania é um estado de alma. Um comprometimento com a vida coletiva, com o bem-estar de todos e de todas. A cidadania está colada à solidariedade e aos direitos para todos e para todas. Direitos e não privilégios. Os poderosos de todos os tempos defendem seus supostos privilégios de classe ou casta, e os revolucionários (ou cidadãos ativos) de sempre, morrem pela preservação ou conquista de direitos.
A cidadania passiva é conveniente para a democracia liberal-burguesa. Afinal, uma vez a cada quatro anos vamos às urnas para sacramentar o que já está decidido no topo da pirâmide do poder. Ainda assim, o voto é um meio de mudar os rumos da vida coletiva sem derramamento de sangue, ... mas depende de cidadãos ativos, atentos ao que de fato acontece na vida coletiva.
A cidadania ativa é cotidiana e, por isso mesmo, perigosa. Exige o enfrentamento das mazelas sociais, da corrupção, dos desmandos, dos maus tratos produzidos por aqueles que deveriam atender bem ao contribuinte. Exige posicionamento sobre assuntos controversos, que se admita o contraditório, que se treine a convivência entre diferenças e divergências dentro dos limites das leis do país e dos costumes.
A cidadania passiva é complacente, omissa e conivente, e seus adeptos sofrem da “síndrome de Pilatos” (“Isso não e comigo!”). Lavam as mãos diante de tudo que lhes afete a rotina ou lhes fira algum interesse pessoal.
A cidadania ativa é perigosa porque exige exposição pessoal, a denúncia e a renúncia. Só pode ser levada a efeito por aqueles que estão dispostos a sofrer (ou a morrer) pelo que é justo e bom para todos. São muitos os casos na história. Gandhi, Nelson Mandela, Martin Luther King Jr., Chico Mendes, ... e muitos outros e outras, conhecidos e anônimos que, aliás, são maioria.
Reclamar e terceirizar responsabilidades ou ações não muda os rumos das coisas. Basta ver como anda a vida social na atualidade. Os indicadores crescentes de homicídios, suicídios, linchamentos, violências de todos os tipos, não serão reduzidos pelo poder público, fragilizado e contaminado pelo crime organizado. Os membros conscientes da sociedade civil terão que aliar-se à sociedade política (dos três poderes) para reverter, quanto possível, a curva ascendente da decadência social.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Quem está doente: Adriano ou os outros?

Da Agência Carta Capital

Que sociedade é esta que, quando alguém diz que não estava feliz no meio de tanto treino, tanta pressão, tanta grana, tanta viagem, que prefere voltar à favela onde nasceu e cresceu, compra cerveja e hambúrguer para todo mundo, fica empinando pipa – se considera que está psiquicamente doente e tem que procurar um psiquiatra? Estará doente ele ou os deslumbrados no meio da grana, das mulheres, das drogas, da publicidade, da imprensa, da venda da imagem? Quem precisa mais de apoio psiquiátrico: o Adriano ou o Ronaldinho Gaucho?O normal é ter, consumir, se apropriar de bens, vender sua imagem como mercadoria, se deslumbrar com a riqueza, a fama, odiar e hostilizar suas origens, se desvincular do Brasil. Esses parecem “normais”. Anormal é alguém renunciar a um contrato milionário com um tipo italiano, primeiro colocado no campeonato de lá.Normal é ser membro de alguma igreja esquisita, cujo casal de pastores principais foram presos por desvio de fundos. Normal é casar virgem, ser careta, evangélico, bem comportado, responder a todas as solicitações e assinar todos os contratos. Normal é receber uma proposta milionária de um clube inglês dirigida por um sheik, ficar pensando um bom tempo, depois resolver não aceitar e ser elogiado por ter preferido seu clube, quando antes ele ficou avaliando, com a calculadora na mão, se valia a pena trocar um contrato milionário por outro.Considera-se desequilibrado mental quem recusa um contrato milionário, para viver com bermuda, camiseta e sandália havaiana. Falou à imprensa de todo o mundo, disposta a confissões espetaculares sobre o que havia feito nos três dias em que esteve supostamente desaparecido – quando a imprensa não sabe onde está alguém, está “desaparecido”, chegou-se até a dizer que Adriano teria morrido -, buscando pressioná-lo para que confessasse que era alcoólatra e/ou dependente de drogas, encontrar mulheres espetaculares na jogada.Falou como ser humano, que singelamente tem a coragem de renunciar às milionárias cifras, eventualmente até pagar multar pela sua ruptura, dizer que “vai dar um tempo”, que não era feliz no que estava fazendo, que reencontrou essa felicidade na favela da sua infância, no meio dos seus amigos e da sua família.Este comportamento deveria ser considerado humano, normal, equilibrado. Mas numa sociedade em que “não se rasga dinheiro”, em que a fama e a grana são os objetivos máximos a ser alcançados, quem está doente: Adriano ou essa sociedade? Quem ter que ser curada? Quem é normal, quem está feliz?

ONU aposta em política falida


Do Brasil de Fato


Nações Unidas aprofunda política repressiva contra drogas ilícitas, mesmo após o fracasso das últimas décadas

Dafne Melo


“Utopia totalitária”. Assim é a política antidrogas preconizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) há quase cinco décadas, de acordo com o professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), Henrique Carneiro. Guiada pela repressão à produção, tráfico e consumo, ela ainda estabelece como meta máxima a erradicação das drogas no mundo. Entretanto, ainda que duramente criticada por países europeus, latino-americanos e organizações não-governamentais – sobretudo nos últimos anos –, a ONU não dá sinais de que pode ceder.
De 12 a 20 de março, representantes de 130 países se reuniram em Viena (Áustria) para reavaliar essa política. A posição de setores progressistas presentes na 52º Sessão da Comissão de Narcóticos da ONU é que a organização não só não reconheceu a ineficácia e impertinência de sua política, como ainda retrocedeu no pouco que tinha de avançado.
No documento final, a expressão “redução de danos”, presente em declarações anteriores, foi retirada, mesmo com a insistência de 26 países – a maioria da União Européia, mais Bolívia e Austrália. Esse termo abria uma brecha para atuação de alguns países que não concordam com a política puramente repressiva das Nações Unidas que, na verdade, é a defendida historicamente pelos Estados Unidos. O termo “redução de danos” foi aprovado pela maioria esmagadora das nações, mas saiu do documento final da reunião após veto estadunidense. Japão, Vaticano, Rússia, Itália e Colômbia foram os outros países contrários à manutenção do termo.
Fracasso
Antes e durante a reunião da comissão, a ONU liberou uma série de relatórios sobre o tema. Em todos prevalecem o tom eufemístico de que a “guerra contra as drogas”, ainda que com tropeços, é bem sucedida. Os números, contudo, são desanimadores. A produção de cocaína, por exemplo, aumentou de 362 toneladas para 994 toneladas, de 1986 a 2007, período que coincide com o endurecimento das políticas antidrogas.
O documento também aponta para o aumento do consumo de substâncias sintéticas e de maconha, embora não forneça novas estimativas. De acordo com o relatório de 2008, a produção da erva aumentou de 33 mil toneladas em 1986 para 41 mil toneladas em 2007, mantendo o status de droga mais consumida do mundo. Porém, a própria ONU reconhece que esse número deve ser ainda maior, já que é uma planta que pode ser mais facilmente cultivada, dificultando o monitoramento dos plantios.
Quanto à papoula (usada para fabricar heroína), a produção tem aumentado vertiginosamente nas últimas duas décadas, sobretudo – e paradoxalmente – após a ocupação estadunidense no Afeganistão, país que cultiva 92% da papoula do mundo. A produção ilegal da planta (há produção legal para fabricação de morfina, usada como medicamento) passou de pouco mais de uma tonelada em 1980 para 8,8 toneladas em 2007.
Lucros
Para a socióloga mexicana Ana Esther Ceceña, um dos principais motivos para o “fracasso” dessa política é o fato do narcotráfico ser uma atividade altamente lucrativa, que movimenta, segundo dados de 2005 da ONU, 320 bilhões de dólares por ano. Para ela, é contra a própria natureza do capitalismo erradicar uma atividade econômica de tamanha envergadura, seja ela ilegal ou não. “O tráfico de drogas é a atividade econômica mais dinâmica do capitalismo contemporâneo; e altamente rentável, por ser ilegal, livre de impostos”. Na sua avaliação, o único objetivo das políticas atuais é mantê-la simplesmente sob controle. Legalizar significaria diminuir em muito os lucros, uma vez que seria necessário criar uma série de controles e impostos.
E são justamente os países ricos que mais ganham com esse negócio. De acordo com a própria ONU, aqueles que produzem a droga embolsam apenas 4% dos lucros. A venda direta para o consumidor final fica com a maior fatia, 71%. O restante, 25%, vai para os exportadores e importadores do produto. Só nesta última fase, a movimentação é de 94 bilhões de dólares, mais do que a soma anual das exportações de carne e cerais.
Como a fabricação de matérias-primas para as drogas está nos países pobres e o consumo é mais alto nos ricos, na prática, revela a ONU, 76% do lucro das vendas fica nas nações desenvolvidas. A América do Norte responde, sozinha, por 44% do faturamento no varejo dessas drogas. A Europa aparece como segundo maior mercado, com 33%. A América do Sul representa apenas 3%, percentual menor do que o da Oceania, de 5%. (Leia mais na edição 319 do Brasil de Fato que está nas bancas)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

MALHAÇÃO - A lavagem cerebral nos jovens

Do Observatório da Imprensa


Por Adriano Degra

Uma telenovela que retrata o cotidiano de jovens de classe média alta, com foco maior no colégio. Para a emissora, é uma espécie de "escola" de atores para que os mesmos possam ingressar nas telenovelas de maior destaque da emissora. Claro que tem o intuito também de formar novos telespectadores, assegurando assim sua audiência futura.
Não é difícil observarmos atitudes de nossos jovens tendo como exemplo essa telenovela, pessoas com realidades totalmente diferentes da imagem transmitida na mesma, mas que, por certa "imposição" da sociedade, acabam absorvendo esse tipo de mentalidade.
Já imaginou chegar ao seu colégio, ver que todos estão comentando sobre a novela Malhação e você não saber nada para debater? Mas como assim? Como uma pessoa não sabe o que passou na Malhação? Afinal, ela passa na Globo...
Deve ser mais cômodo "anestesiar" a mente com aquela realidade do que buscar associar algo mais próximo à sua própria realidade.
Olhar crítico
Novelas com um sentido mais próximo da realidade são marginalizadas, como Turma do Gueto, por exemplo. Se o jovem assistir, os demais o chamarão de violento, de "bandido" etc.
O reflexo disso tudo são os adolescentes muito mais preocupados em "ficar", garotas tendo gravidez precoce – afinal, em Malhação tem garotas grávidas, então não deve ser tão ruim assim. Afinal, a menina sempre se dá bem no final, não é? Quando, na realidade, esses jovens deveriam estar preocupados com o seu futuro, preocupados em observar o mundo à sua volta, conquistar seus objetivos, correr atrás de seus sonhos.
Temos o direito de assistir a tudo? Claro que sim, mas devemos ter sempre o olhar crítico, sempre saber interpretar o que estamos vendo – será que aquela historinha sempre repetitiva é por acaso? Será que o fato de os personagens, em sua grande maioria, serem de boa aparência é por acaso?

Empréstimo a pessoa física no Brasil chega a custar dez vezes mais do que na Europa

Da Agência Brasil

Uma comparação sobre o custo do crédito no Brasil e em outros países demonstra que as taxas brasileiras são bem mais altas do que as cobradas no exterior.
Pesquisa divulgada hoje (7) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que o empréstimo para pessoa física no Brasil chega a custar dez vezes mais do que em uma agência européia do mesmo banco.
No caso de pessoa jurídica, o brasileiro tem que pagar quatro vezes pelo empréstimo em relação ao valor cobrado nos Estados Unidos e na chamada Zona do Euro, indica o estudo Transformações na Indústria Bancária Brasileira e o Cenário de Crise.
Apesar das diferenças entre as taxas, o Ipea aponta "avanço" na popularização de serviços bancários no Brasil, por meio operações de correspondentes não-bancários. Em 2008, havia no país 84,3 mil correspondentes bancários em estabelecimentos como padarias, postos lotéricos, farmácias e agências dos Correios.
O estudo mostra a evolução da concentração bancária no Brasil desde os anos 90, a divisão dos ativos e dos depósitos entre as 20 maiores instituições no país, a repartição entre bancos públicos, privados e estrangeiros, e a concentração de agências e do crédito no país, por grandes regiões e por estado.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Produção industrial se mantém aquecida na maior parte do país

Do Jornal Correio do Brasil

O desempenho da produção industrial em fevereiro, na comparação com janeiro, avançou em nove das 14 regiões incluídas na Pesquisa Industrial Regional Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados divulgados nesta segunda-feira mostram que o destaque foi a indústria da Bahia, com alta de 13,7%, seguida pelo Espírito Santo, com 8,3%; Minas Gerais e Paraná, com 5,7%, e Região Nordeste com 4,1%. Nesses locais, o crescimento superou a média nacional da produção industrial, que foi de 1,8% na mesma base de comparação, conforme os números divulgados pelo instituto na semana passada.
A queda na produção, também entre janeiro e fevereiro, foi mais acentuada em Pernambuco (-5,6%) e Santa Catarina (-4,6%). Já em relação a fevereiro de 2008, apenas a indústria do Paraná apresentou resultado positivo (1,5%) devido ao desempenho do setor de edição e impressão.
Nos outros 13 locais pesquisados, também na comparação com fevereiro de 2008, as quedas foram tão significativas que atingiram os dois dígitos. O ranking é liderado pelo Espírito Santo (-29,5%), seguido por Minas Gerais (-26%), Amazonas (-20,8%), Rio Grande do Sul (-20,5%), Santa Catarina (-19,8%), Pernambuco (-17,5%) e São Paulo (-17,5%). Ainda com queda na produção, mas com taxa inferior à média nacional (-17%), aparecem Bahia (-10%), Pará (-10,2%), Ceará (-10,5%), Goiás (-11,1%), região Nordeste (-12,1%) e Rio de Janeiro (-13,2%).
Ainda de acordo com a pesquisa do IBGE, no primeiro bimestre do ano (janeiro e fevereiro) houve recuo na produção das 14 regiões verificadas.

A MUDANÇA NOS JORNAIS

Do Luís Nassif
Por Luís Nassif

Um estudo amplo sobre os dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC) - que audita a tiragem de jornais e revistas - e do IBOPE - para TV e rádio - comprova que a última década foi de mudanças estruturais.
Essas modificações reduziram sensivelmente o papel e a influência da chamada grande mídia - categoria onde entram a Rede Globo, os jornais Folha, Estado, O Globo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense. E um sensível aumento de competidores, da imprensa do interior e dos jornais populares.
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Entre as TVs abertas, a Globo tinha um share de audiência de 50,7% em 2001. Chegou a bater em 56,7% em 2004 - coincidindo com a queda de audiência do SBT. Hoje está em 40,6% - coincidindo com a subida da TV Record - que saiu de 9,2% em 2001 para 16,2%.Nas três últimas semanas, o Jornal Nacional deu 26% de audiência em São Paulo. Seis anos atrás, era de 42%. Nessa época, quando o JN caiu para 35% houve um reboliço na Globo. A ponto de edições do JN terem blocos de 22 minutos com várias matérias de apelo.
Aparentemente, perdeu esse pique.
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Com os jornais da chamada grande mídia, repete-se o mesmo fenômeno.O estudo dividiu os jornais entre Tradicionais (Folha, Estado, Globo, JB e Correio Braziliense), jornais das capitais, jornais do interior e jornais populares.
De 2001 a 2009, os tradicionais perderam 300 mil exemplares diários - de 1,2 milhão para 942 mil, queda de 25%. Os jornais de capitais (excetuando os do primeiro grupo) cresceram de 1,2 milhão para 1, 37 milhão - crescimento de 10,5%. Os jornais populares passaram de 663 mil para 1,2 milhão - alta de 85%. E os jornais do interior saltaram de 300 mil para 552 mil - alta de 83,5%.
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Não apenas isso. Nos últimos anos, gradativamente os jornais estão se desvencilhando da pauta da chamada grande mídia. Antes, havia um processo de criação de ondas concêntricas em torno dos temas levantados pelo núcleo central, com os demais jornais acompanhando as manchetes e as análises.
De alguns anos para cá, essa dependência cessou. Um estudo de caso analisou bem essa diferença de enfoque. Lula esteve em São Paulo. Anunciou que as informações do INSS seriam fornecidas em 3 horas. Os grandes jornais e o JN deram destaque para a visita a uma Sinagoga (para repercutir a questão do Holocausto) e para intrigas políticas. Todos os jornais populares, do interior e das capitais deram destaque àquilo que interessava diretamente ao seu leitor: a diminuição dos prazos de informações do INSS.
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Esse exemplo sintetiza a armadilha na qual se meteu nos últimos anos a chamada grande mídia. Perdeu-se a noção dos temas relevantes ao leitor. Em vez de buscar a informação útil, enrolaram-se no chamado jornalismo de intriga - sempre procurando frases ou enfoques que privilegiassem conflitos.
Enquanto isto, os jornais populares - com exceção dos paulistanos (Agora, Diário de São Paulo e Jornal da Tarde), que não decolaram - passaram a tratar dos temas de interesse de seu público, assim com os jornais de interior e da capital.
Vai ser um longo trajeto para recuperar os princípios do jornalismo.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O "cara", por Luis Fernando Verissimo

Do Entrelinha

Está simplesmente imperdível o texto abaixo. O que Beth pensou ao posar ao lado do pernabucano é tema para outra crônica do filho de Érico. Fernando Henrique Cardoso já revelou que entre os dois Verissimos, prefere o pai. Se o ex-presidente ler o texto reproduzido a seguir, vai mesmo continuar preferindo...
Lado a lado
Encosto ou não encosto? Só o joelho. O que pode acontecer? Ela dizer “Mr. Lula, please!” Ai eu recolho o joelho, peço desculpas, “aimsórri, aimsórri” e pronto. Se eu soubesse falar inglês, explicaria. Sabe o que é, Elizabeth? Eu estava aqui pensando: quando é que, lá em Pernambuco, eu ia imaginar que um dia estaria sentado ao lado da rainha da Inglaterra? Não sei quem é que me botou aqui para tirar esta fotografia dos G-20. Não acho que tenha sido um pedido seu, “Quero o bonitinho de barba à minha esquerda”. Claro que não. Mas o fato é que estou aqui e o Barack está aí atrás em algum lugar, de pé e se perguntado o que eu tenho que ele não tem. O Sarkozy não deve nem estar aparecendo. Ficou atrás da Merkel e não vai sair na foto. E eu aqui ao seu lado, na primeira fila.Isto significa muito, viu Elizabeth? Lá na minha terra vai ter gente se mordendo de raiva. Onde já se viu, aquele retirante nordestino que nem fala direito sentado à esquerda da Rainha da Inglaterra? Quando eu me elegi muita gente ficou horrorizada: como é que vai ser quando ele, um torneiro mecânico, tiver que nos representar num jantar oferecido, por exemplo, pela coroa inglesa? Vai ser servido na cozinha, para não dar vexame na escolha dos talheres. E aqui estou eu, sentado ao lado - com todo o respeito - da coroa inglesa em pessoa.Se foi o protocolo que me botou aqui, ele acertou, viu Beth? Você, queira ou não, não é só a rainha dos ingleses, é, simbolicamente, a rainha de todos os loiros de olhos azuis do mundo, incluindo o Barack. De todos os bandidos que causaram esta crise e hoje nos infernizam a vida. E, de certo modo, eu sou o seu oposto. Sou uma espécie de rei republicano dos não-loiros do mundo - ou pelo menos deve ter sido essa a idéia do protocolo aos nos botar lado a lado. Todos os outros chefes de estado desta fotografia seriam dispensáveis. A foto poderia ser só de nós dois e estariam todos representados.E isto significa outra coisa também, viu Beth? Eu não me contentei em ter nascido na miséria, no Nordeste, e quis mais. Não me contentei em ser um torneiro mecânico em São Paulo e quis mais. Não me contentei em ser um líder sindical e quis mais. Não me contentei em perder eleição atrás de eleição, insisti e acabei presidente. Agora estou aqui, lado a lado com a Rainha da Inglaterra, num dos pontos mais altos da minha carreira, e também quero mais. Por isso minha perna se moveu e meu joelho encostou no seu. De certa forma, o movimento da minha perna foi o passo final da caminhada que começou em Pernambuco, tantos anos atrás. Já que, ao contrário de você, Beth, não posso ficar no poder para sempre.

Favelas no paredão


Da Carta Capital


As obras de construção de um muro para cercar o morro Dona Marta, recém-ocupado pela polícia do Rio de Janeiro, trouxeram a reboque as contradições costumeiras de quando o assunto é o que fazer com as favelas da cidade. Ou do mundo. Paredões de 3 metros de altura cercarão onze comunidades, todas localizadas na zona sul da cidade, e custarão 40 milhões de reais. A iniciativa do governador Sérgio Cabral (PMDB) agrada em cheio àquela parcela da população que, se pudesse, além de murar, taparia com uma laje ou implodiria as aglomerações de pobres que recobrem os morros cariocas. Oficialmente, a medida é anunciada como forma de controlar a expansão horizontal das favelas. A eficácia, porém, é questionada. “Os muros são uma resposta imediatista às pressões de parte da opinião pública no Rio de Janeiro, têm caráter apenas simbólico diante de uma questão complexa”, disse à CartaCapital Gerônimo Leitão, professor de Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. “Controlar a expansão também interessa aos moradores. Para isso, seria necessário legislação apropriada, orientação técnica e fiscalização efetiva. Mas fiscalizar não é simples, por conta da violência gerada pela ação do narcotráfico.” José Saramago não é urbanista e viu outras conexões atrás do muro. “Tivemos o Muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio”, protestou o escritor português em seu blog. A favela da Rocinha será a próxima da lista a ser murada. No local, o arquiteto Luiz Carlos Toledo projetou e supervisiona obras do PAC das favelas, um dos xodós de Lula e Dilma. “Cercar, simplesmente, uma comunidade é um absurdo. Uma sacanagem”, esclarece. Na Rocinha, o projeto para evitar a invasão da mata nativa prevê a construção de um caminho de circulação nos limites da favela e um muro diferente: concreto até 1,20 metro de altura e, dali para cima, tijolo vazado. “Não precisa ser um paredão fechado”, explica o arquiteto. “E outra, não existe limite físico que segure uma favela se não existir legislação e fiscalização. Pobre não é diferente de rico: se não tem fiscalização, constrói até onde dá. Seja em bairro nobre, seja onde for.”

Crise? Nunca se vendeu tanto automóvel em março

Do Monitor Mercantil

As vendas de veículos novos somaram 271.393 unidades em março, o que representa um crescimento de 16,89% em relação ao mesmo período do ano passado e de 36,10%, na comparação com fevereiro deste ano, segundo dados divulgados nesta sexta-feira pela Federação Nacional das Distribuidoras de Veículos Automotores (Fenabrave). Os números referem-se à comercialização de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus e mostram que foi o melhor março do setor.
Considerando também motos e implementos rodoviários, o número total de unidades novas vendidas no mês passado foi de 418.435, o equivalente a um crescimento de 6,78% sobre igual mês de 2008. Na comparação com fevereiro, a expansão é de 34,05%.
Segundo a Fenabrave, no acumulado do ano, que coincide com o primeiro trimestre de 2009, as vendas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus somaram 668.319 unidades, com alta de 3,13% sobre igual período do ano passado, mas considerando também a comercialização de motos e implementos rodoviários, o número total de unidades vendidas chega a 1.058.083 unidades, uma queda de 4,43% ante os três primeiros meses de 2008.

EUA já demitiram 5 milhões

Do Monitor Mercantil

DESDE INÍCIO DA RECESSÃO, EM DEZEMBRO/07, DESEMPREGO SALTOU PARA 8,5%. SÓ EM MARÇO, FORAM MAIS 663 MIL - A taxa de desemprego dos Estados Unidos subiu para 8,5%, em março, alcançando o maior nível desde novembro de 1983, informou o Departamento de Trabalho. A taxa estava em 8,1%, em fevereiro.
O mercado de trabalho norte-americano continuou a desempregar em março, levando o total de vagas cortadas desde o início da recessão, em dezembro de 2007, para 5,1 milhões.
Segundo o Departamento do Trabalho, o número de vagas de emprego eliminadas atingiu 663 mil, em março, praticamente em linha com a previsão dos economistas consultados pela Dow Jones, de 673 mil desempregados.
O número de postos de trabalho eliminados em fevereiro não foi revisado, do total de 651 mil informado anteriormente.
O total de desempregados em janeiro foi revisado para 741 mil, contra o calculo anterior de 655 mil. O corte de emprego em janeiro é o maior desde outubro de 1949, quando foram eliminadas 834 vagas.
O número de vagas eliminadas em janeiro é o terceiro maior na história. Entretanto, os dois registros anteriores - o corte de 834 mil em 1949 e de quase dois milhões em 1945 - foram provocados por eventos extraordinários, como uma greve geral de trabalhadores dos setores de carvão e aço e pelo final da II Guerra Mundial, respectivamente.
Dos 5,1 milhões de desempregados desde o início da recessão, em dezembro de 2007, cerca de 2 milhões perderam o emprego somente nos últimos três meses.
Já a renda média por hora do trabalhador norte-americano aumentou US$ 0,03, ou 0,2%, em março, para US$ 18,50, informou o Departamento de Trabalho.
Em relação ao mesmo mês de 2008, o aumento é de 3,4%. As horas médias trabalhadas por semana caíram para 33,2.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Uma juventude sem ética

Artigo publicado no Jornal Gazeta do Povo

Por João Malheiro


Cada vez mais, nos dias que correm, pais e educadores de jovens e adolescentes se deparam com um problema muito sério nessa passagem difícil da adolescência para a idade adulta: a grande indiferença para o aprendizado moral e para a vivência ética das virtudes.
De fato, observa-se que são muitos os jovens que passam, como ensinava Piaget, dessa fase da heteronomia moral - fase de viver o que lhe mandam - para a fase da autonomia ética de forma bastante indiferente e desinteressada, como se suas escolhas não determinassem, em parte, sua felicidade e seu futuro. A resposta para este fenômeno parece estar não só na desvalorização e/ou incapacidade familiar e escolar para a educação ética/moral, mas também no atraso dessa passagem que a própria família e a sociedade de consumo estão provocando, mais ou menos inconscientemente.
Infelizmente, como diz Tony Anatrella, renomado psicanalista francês, uma das maiores contradições de nossa sociedade ocidental consiste em fazer crescer a juventude muito rapidamente, facilitando-lhe várias experiências precoces, muitas delas nocivas, e, ao mesmo tempo, animá-la a permanecer adolescente o maior tempo possível, com as facilidades de uma vida cômoda e sem dificuldades. Aprofundemos no fenômeno.
Desde a mais tenra idade, tanto os pais como as empresas de consumo, com seus poderosos veículos de comunicação de massa, ambos com intenções muitas vezes duvidosas e pouco éticas, procuram satisfazer as crianças com todos os equipamentos de diversão e comunicação, de forma que os "convençam" que ficarem em casa, no seu quartinho, como numa autêntica "bolha protetora de micróbios", é a forma de serem e viverem mais felizes e seguras, depois da escola. Constroem para eles uma autêntica "bolha material", onde há pouco espaço para o diálogo educativo e para as amizades verdadeiras. Como aponta Tânia Zaguri, sentimentos de culpa pela ausência e omissão dos pais, que têm que trabalhar, são muitas vezes os motivadores para esses excessos.
Quando chegam à idade de desenvolver mais suas capacidades e habilidades intelectuais, as famílias as "entopem" de cursos e esportes extraescolares, com a ilusão de que assim conseguirão maior realização profissional futura. Entretanto, como com a "bolha material" só conseguiram desenvolver uma ou duas amizades reais - virtuais muitas! - as crianças, ao sair de casa para esses inúmeros cursos, sentem dificuldade no relacionamento e muita insegurança. Como solução, muitas são como que obrigadas a transportar de forma inconsciente essa bolha material invisível para se refugiar: celulares com os seus derivativos, mp4 player, livros... Tendo dificuldade para se comunicar e descobrir um "outro tu", reforçam a bolha material criando uma nova camada que poderíamos chamar de "bolha psicológica", que as cegam para qualquer interesse que não seja individual.
Por fim, se tiveram a sorte de conseguir ingressar na vida universitária, onde existe habitualmente uma explosão intelectual, um aumento do conhecimento e uma liberdade falsamente ilimitada, os jovens que não aprenderam o certo e errado, sentem necessidade de criar uma ética própria para satisfazer suas inseguranças ou justificar suas ações, muitas vezes erradas, que tranquilize suas consciências. Criam uma terceira camada da bolha, chamada "bolha filosófica". As tragédias nesta fase, que quase sempre são de tentativa e erro, costumam ser frequentes e deixam marcas para o resto da vida.
Esta tríplice camada que envolve os "meninos-bolha" é a que produz depois uma enorme força-resultante centrípeta egocêntrica que os leva a realizar somente aquilo que alimenta um eu voraz de prazer sem lógica e sem limites, gerando, consequentemente, um subjetivismo irracional, uma ética sem fundamentos sólidos e, ao final, um coração embolhado, isto é, vazio de amor: não conseguem entender a linguagem do amor e da amizade verdadeiros. Estes "meninos-bolhas" não conseguem, na prática, transcender e valorizar a ética, porque ela só se busca quando se tem um porto a chegar, um ideal de perfeição a se alcançar.
A forma de se abrir para uma educação ética é esperar que a própria vida, com suas vicissitudes e tragédias dolorosas, se encarregue de furar a bolha, acordando-os para uma realidade que não conhecem. Outra forma mais prazerosa e inteligente, é aquela em que um amigo(a) os ajude não só a repensar a própria vida moral, mas também a descobrir que é a própria dinâmica e vivência das virtudes da temperança, fortaleza, justiça e prudência, nessa ordem, que evitará que essas bolhas e camadas se formem.
João Malheiro é doutor em Educação e integra o grupo de Pesquisa de Ética na Educação da UFRJ.

Fernando Lyra não tem papas na língua.

Do Terra Magazine


Por Bob Fernandes, na Terra Magazine.


Desde que era um “autêntico” do MDB. O termo, cunhado num histórico encontro no Recife, início dos anos 70, presentes entre os “autênticos” o próprio Lyra e os então deputados Chico Pinto e Alencar Furtado. MDB, ainda sem o P imposto pela ditadura, dos tempos em que o partido combatia e não servia e servia-se do poder de plantão. E o poder de plantão era o dos generais-ditadores.

No enterro formal da ditadura de 21 anos, Fernando Lyra foi dos mais próximos, senão o mais próximo, dentre os articuladores da candidatura Tancredo Neves à presidência da República. Um pouco dessa história ele conta no livro Daquilo que eu Sei, lançado em março último (Editora Iluminuras).

Ministro da Justiça nomeado por Tancredo seguiu no cargo por 11 meses, já sob a presidência de José Sarney. Experimentado homem de poder, conhecedor dos atalhos e caminhos da Brasília oficial, Fernando Lyra é direto, e duro, nessa conversa com Terra Magazine.

O assunto é a mal disfarçada troca de chumbo entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e setores das primeiras instâncias da Justiça, entre Mendes e o Ministério Público, entre Mendes e porções - cada vez mais acuadas - da Polícia Federal.

Troca de chumbo, sempre, no rastro de alguma operação da Polícia Federal que leve para a prisão algum representante daquilo que Lyra chama de “O Brasil de cima”.

O ex-ministro da Justiça diz:

- O presidente do Supremo Federal, Gilmar Mendes, está falando demais. Demais mesmo…Ele comenta todos os casos, principalmente os crimes que envolvem a elite…

Para deixar mais claro o que pensa, Lyra especifica:

- Ele fala o tempo todo sobre o Brasil de cima, mostra suas preocupações com isso, enquanto no Brasil de baixo nunca se sabe quem morreu, assim como não se sabe quem matou. Essa situação de hoje é a explicitação do apartheid. Os crimes que a ele parecem interessar são os da elite, onde surge a elite, o resto é abandonado ao silêncio, como se todos fossem apenas criminosos. Mas alguém aí sabe quem matou, quem morreu? Alguém investigou, verificou, confirmou? E se é pra falar, alguém falou?

Terra Magazine - A polícia do Rio de Janeiro ocupou a Ladeira dos Tabajaras e os mortos foram quatro. Numa outra semana foram cinco de uma vez só, em Salvador tem sido mais de uma dezena por semana, no Recife também, e Brasil afora são centenas de mortos sem rosto e sem nome a cada mês. Supostamente todos seriam bandidos. No entanto, já há uma semana as manchetes são basicamente sobre prisões “arbitrárias”, os “excessos” da Polícia Federal, do juiz, do Ministério Público… Outra vez estão em julgamento os juízes, os procuradores, a polícia e não os acusados de cometer crimes. Não há algo estranho no ar?

Fernando Lyra - Primeiro, há uma questão que o País evita que é o consumo assustador de drogas por parte das classes média e alta, e o que se deveria fazer diante disso.
Alguma sugestão? Não há uma estratégia nacional de segurança e nem mesmo há o debate verdadeiro sobre essa questão que é gravíssima e não apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo, aqui em Pernambuco também é, como é na Bahia, no Brasil inteiro. Aliás, é questão grave no mundo inteiro e já há países que a enfrentam.

E vendo isso sob outra perspectiva, que não apenas a do cotidiano?

Há, realmente, algo muito estranho. O judiciário é um poder fechado, não se tem informação clara do que acontece nos seus meandros, e o que se vê é uma grande confusão no debate. Isso está refletido nas manchetes.

O senhor se refere às manifestações de juízes, procuradores, policiais federais, em resposta às manifestações do presidente do STF, Gilmar Mendes?

Exatamente. O presidente do Supremo, Gilmar Mendes, está falando demais. Demais mesmo, muito mais do que seria prudente e desejável. Ele comenta todos os casos, principalmente os crimes que envolvem a elite. E não falo aqui sobre o conteúdo dos seus habeas corpus, das suas decisões como juiz, me refiro à maneira como ele tem se portado…

Que maneira seria essa?

Ele se porta como se fosse a maior autoridade no Brasil, coisa que ele não é. Ele é, circunstancialmente, presidente de um poder. E eu não vejo ele se pronunciar sobre essa mortandade, sobre essa matança toda no Brasil. Ele tem se pronunciado sobre, principalmente, casos que envolvem a elite.

O noticiário indica claramente um choque, atritos, entre instâncias da Justiça, setores da Polícia Federal, do Ministério Público. Essa excitação toda teria a ver com isso?

A impressão que se tem é que tudo isso é uma resposta aos comentários do presidente do Supremo, ao seu falar demais. A opinião pública se confunde, não consegue entender porque ele se pronuncia sempre em relação a juízes, policiais, promotores, enquanto não toca no assunto dos réus. Ele fala o tempo todo sobre o Brasil de cima, mostra suas preocupações com isso, enquanto no Brasil de baixo nunca se sabe quem morreu, assim como não se sabe quem matou. Essa situação de hoje é a explicitação do apartheid. Os crimes que a ele parecem interessar são os da elite, onde surge a elite, o resto é abandonado ao silêncio, como se todos os mortos fossem apenas criminosos. Mas alguém aí sabe quem matou, quem morreu? Alguém investigou, verificou, confirmou? E já que é pra falar, alguém falou?

Nos dê um detalhe desse “clima de excitação” no cotidiano.

Esse clima não está apenas nas manchetes dos telejornais e da mídia do Sul e Sudeste. Aqui no Recife, por exemplo, nas televisões e rádios, entre 11h30 da manhã e 1h30 da tarde, só tem assassinato, morte, estupro, seqüestro…numa feroz disputa pela audiência. Uma posição correta sobre qualquer assunto não é notícia, não atrai o público, o que sobra é a versão divulgada.

Isso não é um tema para o Ministério Público?
Certamente também para o Ministério Público. Temos que deixar de lado, um pouco, o Brasil de cima e prestar atenção no que acontece no Brasil de baixo.

Castel de Hipocrisia

Do Blog Guilherme Scalzilli

Investiga-se um vasto esquema de corrupção envolvendo quase todo espectro político nacional, ministros do Tribunal de Contas da União e uma das maiores empresas do país, e tudo que a grande imprensa consegue é pedir temperança à autoridades e criticar os servidores que nada fazem além de cumprir seu dever funcional.Onde está agora a turma do “Cansei”? Não era apartidário e desapegado? E a OAB, calará? Ou defenderá a concessão de habeas corpus para empresários, enquanto pobres diabos padecem anos nas masmorras do sistema penitenciário sem que alguém descubra que suas penas já expiraram ou seus processos foram irregulares? E as redações, estarão dispostas a investigar todos os casos de abusos policiais ocorridos nas delegacias da capital paulista, ou sua indignação só serve para a Daslu e a Camargo Corrêa? E os nobres ministros do STF, perderão a pressa, ou violarão procedimentos para impedir que os crimes da Camargo Corrêa prescrevam? E os probos parlamentares da oposição, não lhes interessa agora propor uma CPI?Um bando de hipócritas ideológicos, eis o que são. É fácil comparar negativamente as atuações de nossos promotores e delegados federais com as dos congêneres estadunidenses, mas não se ouviu uma só voz na imprensa gringa chamando a prisão de Bernard Madoff de pirotecnia ou exagero. Agora que o esqueleto apareceu no baú de PSDB, DEM (PFL), Fiesp (a Fiesp, senhores!) e asseclas, os jornais abraçam a prudência e o rigor apurativo. Engraçado lembrar Freud Godoy, né mesmo?Mas há de se ter um certo cuidado com tudo isso. Bastou Paulo Skaf inventar uma candidatura a governador paulista (atrapalhando os planos de José Serra para 2010), e surge misteriosamente uma ação da PF jogando areia na idéia. Algo semelhante aconteceu com Roseana Sarney, em 2002.

Livro mostra que meios de produção do país pertencem a 6% da população

Da Agência Brasil

São Paulo - Os meios de produção de riqueza do país estão concentrados nas mãos de 6% dos brasileiros. É uma das conclusões apresentadas no livro Proprietários: Concentração e Continuidade lançado hoje (2), na sede do Conselho Regional de Economia (Corecon), em São Paulo.
A publicação é o terceiro volume da série Atlas da Nova Estratificação Social do Brasil, produzida por Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e vários economistas do órgão. Do livro, consta um levantamento que revela que, de cada 20 brasileiros, apenas um é dono de alguma propriedade geradora de renda: empresa, imóvel, propriedade rural ou até mesmo conhecimento – também considerado um bem pelos pesquisadores.
Em entrevista coletiva organizada para o lançamento do livro, Pochmann afirmou que a concentração das propriedades no Brasil é antiga e remete aos tempo da colonização. Desde a concessão das primeiras propriedades agrícolas, passando pela industrialização ocorrida no século 20, até o aumento da atividade financeira, os meios de produção sempre estiveram sob controle da mesma e restrita parcela da população nacional.
"A urbanização aumentou o número de propriedades e de proprietários, mas não acompanhou o aumento da população. A concentração permanece. Nós [brasileiros] nunca vivemos uma experiência de democratização do acesso às propriedades no nosso país”, disse.
De acordo com o livro, os proprietários brasileiros têm um perfil específico comum. A grande maioria tem entre 30 e 50 anos de idade, é de cor branca, concluiu o ensino superior, e não tem sócios.
Para Pochmann, o quadro da distribuição das propriedades brasileira é grave. O Brasil tem seus meios produção de riqueza mais mal distruídos entre os países da América Latina, por exemplo. E isso não deve mudar em um curto prazo, segundo o economista.
“Estamos fazendo reforma agrária desde os anos 50 e nossa distribuição fundiária é pior do que a de 50 anos atrás; nossa carga tributária onera os mais pobres; a única coisa que vai bem é a educação”, afirmou ele, citando dados que apontam que o percentual dos jovens que frequenta a universidade passou de 5,6%, em 1995, para cerca de 12%, em 2007.
Pochmann disse porem que mesmo com o aumento dos índices da educação, ele ainda está muito aquém do encontrado na Europa, onde 40% dos jovens têm diploma universitário. Ressaltou também que a mudança da distribuição das propriedades por meio da educação é a forma mais lenta de justiça.

Crise já fechou 120 jornais nos EUA

Do site Vermelho

Desde janeiro de 2008, 5 mil jornalistas já estão desempregados e 120 jornais fecharam ou apenas possuem edições on-line nos Estados Unidos. É o que aponta um relatório anual do Centro para a Excelência em Jornalismo do Pew Institute, que foi divulgado na semana passada e mostra os estragos feitos pela crise na imprensa americana.
As receitas publicitárias no setor caíram cerca de 23%. Segundo o Diário de Notícias, existe um debate sobre a intervenção do Estado para conter as demissões e os fechamentos. Benjamin Cardin, senador democrata, lançou a Lei de Revitalização dos Jornais. Espécie de “Proer da mídia”, a medida pretende converter as empresas de comunicação em organizações sem fins lucrativos, para ajudá-las e oferecer isenções fiscais.

A concentração dos meios de comunicação e a não-intervenção do Estado são citadas como possíveis causas da crise, já que as entidades reguladoras não atuaram no mercado para impedir o aglutinamento. Segundo Paul Gillin, ex-jornalista e especialista em marketing de meios de comunicação, é preciso descobrir um padrão econômico que possa dar continuidade aos jornais, impressos e on-line.

"As empresas de informação têm de focar os seus investimentos na cobertura das notícias em nível local e no desenvolvimento de modelos de publicidade que tirem partido dos benefícios das audiências locais”, diz Gillin. Segundo ele, a internet precisa ser mais explorada, focando as notícias regionais.

"A internet é ótima para espalhar uma mensagem publicitária em dimensão global, mas não funciona muito bem em nível local. E é aí que os jornais podem reforçar a sua presença, aproveitando essa oportunidade", complementou o especialista.

Da Redação, com informações do Adnews

Medo do desemprego retrai o consumidor

Do Monitor Mercantil

O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec), divulgado nesta quinta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que o risco do desemprego está desmotivando o brasileiro a consumir.
"A deterioração do mercado de trabalho, que se manifesta no desemprego, foi o ponto mais importante apontado pela pesquisa. Constatamos que para 70% da população, o desemprego vai aumentar (51%) ou vai aumentar muito (19%)", disse o gerente de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
Para Castelo Branco, "o medo de perder o emprego faz com que as pessoas fiquem mais receosas de consumir, tomar créditos, financiamentos ou assumir prestações". De acordo com ele, esse temor afeta principalmente o consumo de bens de maior valor, "por dependerem do comprometimento da renda futura".

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Crianças consumidoras: onde se quer chegar?


Do site Envolverde


Por Reinaldo Canto


É interessante notar como acontecimentos inusitados imprimem em nossa vida constantes transformações, moldando nossos pensamentos e nossas ideias. A chegada de um ser especial faz tudo mudar, ou melhor, trás novos sentidos para muitas das mesmas questões.A preocupação com a preservação ambiental, com a exaustão dos recursos naturais e com a perda da biodiversidade sempre foram encaradas, sem levar em conta a finitude da minha própria vida. A indignação com o nonsense pela forma como o ser humano tem lidado com o nosso sofrido planeta, já era motivo suficiente para fazer parte da batalha por corações e mentes em busca dessa difícil convivência entre o homem e a natureza.Aí chega a paternidade e a visão se amplifica e ganha novos horizontes e contornos. Novas velhas perguntas passam a receber um olhar ainda mais crítico e atento: Minha filha vai crescer num planeta mais triste, com mais fome, guerras e destruição? O mundo que conhecemos hoje será muito diferente e pior de se viver daqui há 20, 30, 40 anos?São perguntas que vêem seguidas de um arrepio na espinha ao imaginar para minha filha, que ainda não completou dois anos de idade, uma herança bastante amarga.. Fatos não faltam para fazer esse tipo de afirmação. Escassez de água e de produção de alimentos não são visões de catastrofistas de plantão, mas a pura realidade com sinais bastante claros para nenhum cartesiano colocar dúvida.


Das atuais para as próximas gerações


A esperança reside na expectativa de que, se soubermos orientar e educar as nossas crianças e jovens para frear o consumo e o desperdício desenfreado, além de respeitar as outras criaturas que habitam o planeta, estaremos contribuindo para formar as novas gerações com valores muito mais positivos em prol da sustentabilidade.. Agora, a tarefa não é nada fácil. Começando pela simples observação de que temos feito muito pouco para mudar essa realidade. A nossa geração já tem elementos e informação suficientes sobre as graves conseqüências que a sociedade de consumo, ávida por energia e recursos naturais, vem causando notadamente nos últimos anos. Mesmo assim continua a consumir muito mais do que o planeta consegue repor. Nossos lixões e aterros sanitários, principalmente em grandes capitais brasileiras como São Paulo e Rio de Janeiro, entraram em colapso, como já alertou o jornalista Washington Novaes, em seus artigos no jornal O Estado de São Paulo. E, muitos desses materiais, ou melhor, pelo menos 30% de tudo o que vai abarrotar esses lixões e aterros sanitários são perfeitamente reaproveitáveis ou recicláveis e poderiam ter um destino mais nobre e reduzir os impactos ambientais causados pelas cadeias produtivas e seus consequentes descartes. Recentemente, o escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu um artigo indignado contra a cultura do descartável. Galeano lembrou a sua infância e a utilização quase total de todo tipo de material. No Uruguai de 50 anos atrás, tudo era reaproveitado e até mesmo transformado em brinquedos como tampas e latas. Desperdício de alimentos, então, nem pensar. Cascas e restos de alimentos viravam doces, compotas deliciosas, o que aliás não diferencia muito das antigas estórias de muitas famílias brasileiras.Não é que não existam mudanças ou novas atitudes em busca de um mundo mais sustentável. Aqui e ali surgem projetos dignos de nota: projetos de reciclagem, de redução de gastos de energia, de reaproveitamento de água e por aí afora. Mas convenhamos que diante do comportamento da maioria, é caminhar a passos de tartaruga, enquanto os efeitos do aquecimento global, da perda de florestas, da contaminação da água, correm a jato. Todos nós, uns mais outros menos consumimos mais do que das nossas reais necessidades e as possíveis exceções só confirmam a regra. É exatamente aí que quero chegar: que lições estamos passando para as futuras gerações? E quais as contribuições que podemos dar aos nossos filhos?Com certeza, o primeiro passo é ampliar nossas ações. Pensar nos 3 Rs - acrescidos de um R inicial proposto pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente (Repensar; Reduzir; Reutilizar e Reciclar. Depois colocar em prática e viver uma vida mais simples e saudável. No caso das crianças, trocar o material, ou seja, mais uma boneca, ou um novo carrinho por mais afeto e compartilhamento de momentos em família, como um passeio ao ar livre, por exemplo. Os terapeutas são unânimes em afirmar que o afeto é mais importante que o material e o contato com a natureza é a melhor maneira de fazer com que as crianças a admirem e respeitem.Se elas vão receber um planeta mais caótico para se viver, nós temos no mínimo, o dever de orientá-las desde os seus primeiros passos. E isso, é claro, não é responsabilidade apenas dos pais, mas da escola, dos governos e também das empresas que precisam fazer a sua parte em prol de um mundo melhor.


Bombardeio publicitário


Se a vida já não parece fácil, a nossa tarefa, como pais, fica ainda mais difícil e complicada quando assistimos pasmos, a publicidade insana voltada para as crianças. São anúncios na televisão, outdoors e vitrines de supermercados que se utilizam de todos os recursos para atrair os pequenos. São brinquedos e alimentos muito atraentes na sua apresentação e pouco saudáveis em muitos sentidos, seja para o planeta, como também para a saúde das crianças. É o caso de brindes associados a alimentos industrializados e fast-foods pouco nutritivos e muito calóricos responsáveis pela incidência da obesidade infantil.Organizações de defesa do consumidor, como o IDEC e o Instituto Alana, há tempos lutam contra a publicidade infantil que, aliás, já é proibida em muitos países desenvolvidos. Em recente entrevista, a coordenadora de educação e pesquisa do Instituto Alana, Laís Pereira, afirmou que crianças até os 12 anos ainda não formaram um pensamento crítico sendo presas fáceis da publicidade irresponsável. Outra informação da pesquisadora, que é também bastante preocupante para pais e educadores, se refere às crianças de até quatro anos de idade. Segundo ela, nessa faixa etária, a criança não distingue a diferença entre publicidade e conteúdo de um programa. As agências de propaganda e as indústrias responsáveis por esses produtos costumam alegar que quaisquer proibições aos anúncios constituem restrições a liberdade de expressão e de informação. Não creio que isso faça sentido. Antes de mais nada essas bem vindas restrições viriam ao encontro do que estabelece o Código de Defesa do Consumidor e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Instrumentos do mais alto nível que vem contribuindo e muito para o aprimoramento da democracia e da cidadania em nosso país e proteger os direitos mais elementares da nossa sociedade e das nossas crianças.Esses são apenas alguns exemplos dos enormes desafios pelos quais nós pais temos que lutar. E é evidente que tais lutas vão muito além de nossas atitudes pessoais. É preciso agir também coletivamente ao participar e enfrentar forças que, muitas vezes, tem como interesse apenas os ganhos imediatos e como resultado final, enormes prejuízos sociais. O futuro dos nossos filhos é uma boa razão para manter a espinha ereta e o olhar firme no horizonte. As crianças merecem essa chance.


* Reinaldo Canto é jornalista, ex-Diretor de Comunicação do Greenpeace e ex-Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. BLOG – cantodasustentabilidade.zip.net