segunda-feira, 6 de abril de 2009

Favelas no paredão


Da Carta Capital


As obras de construção de um muro para cercar o morro Dona Marta, recém-ocupado pela polícia do Rio de Janeiro, trouxeram a reboque as contradições costumeiras de quando o assunto é o que fazer com as favelas da cidade. Ou do mundo. Paredões de 3 metros de altura cercarão onze comunidades, todas localizadas na zona sul da cidade, e custarão 40 milhões de reais. A iniciativa do governador Sérgio Cabral (PMDB) agrada em cheio àquela parcela da população que, se pudesse, além de murar, taparia com uma laje ou implodiria as aglomerações de pobres que recobrem os morros cariocas. Oficialmente, a medida é anunciada como forma de controlar a expansão horizontal das favelas. A eficácia, porém, é questionada. “Os muros são uma resposta imediatista às pressões de parte da opinião pública no Rio de Janeiro, têm caráter apenas simbólico diante de uma questão complexa”, disse à CartaCapital Gerônimo Leitão, professor de Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. “Controlar a expansão também interessa aos moradores. Para isso, seria necessário legislação apropriada, orientação técnica e fiscalização efetiva. Mas fiscalizar não é simples, por conta da violência gerada pela ação do narcotráfico.” José Saramago não é urbanista e viu outras conexões atrás do muro. “Tivemos o Muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio”, protestou o escritor português em seu blog. A favela da Rocinha será a próxima da lista a ser murada. No local, o arquiteto Luiz Carlos Toledo projetou e supervisiona obras do PAC das favelas, um dos xodós de Lula e Dilma. “Cercar, simplesmente, uma comunidade é um absurdo. Uma sacanagem”, esclarece. Na Rocinha, o projeto para evitar a invasão da mata nativa prevê a construção de um caminho de circulação nos limites da favela e um muro diferente: concreto até 1,20 metro de altura e, dali para cima, tijolo vazado. “Não precisa ser um paredão fechado”, explica o arquiteto. “E outra, não existe limite físico que segure uma favela se não existir legislação e fiscalização. Pobre não é diferente de rico: se não tem fiscalização, constrói até onde dá. Seja em bairro nobre, seja onde for.”

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