quarta-feira, 29 de abril de 2009

Inesperada, gripe suína foi prevista há seis anos

Do Esquerdanet

Em 1965, por exemplo, havia 53 milhões de porcos em mais de 1 milhão de fazendas; hoje, 65 milhões de porcos estão concentrados em 65 mil instalações. Foi a transição dos antiquados redis de porcos para vastos infernos de excrementos, contendo dezenas de milhares de animais com sistemas imunitários enfraquecidos, sufocando de calor e estrume enquanto trocavam patogéneos a uma rapidez cega com os colegas do lado.
No ano passado, uma comissão reunida pelo Pew Research Center publicou um relatório sobre "a produção animal em fazendas industriais" que enfatizou o perigo agudo de que "os contínuos ciclos de vírus... em grandes rebanhos ou manadas [vão] aumentar as oportunidades para a geração de novos vírus através da mutação de eventos recombinantes que podem resultar em mais eficiente transmissão humano a humano." A comissão também advertiu que o uso promíscuo de antibióticos nas suiniculturas (mais barato que em ambientes humanos) estava a incentivar o crescimento de infecções de estafilococos resistentes, ao mesmo tempo que os derramamentos de esgotos produziam erupções de E coli e de pfiesteria (o protozoário que matou mil milhões de peixes nos estuários da Carolina e infectou dezenas de pescadores).
Qualquer melhoria desta nova ecologia patogénica teria de se confrontar com o monstruoso poder dos conglomerados de gado como as Smithfield Farms (porco e vaca) e a Tyson (frangos). A comissão relatou a existência de obstrução sistemática da sua investigação por parte das empresas, incluindo ameaças grosseiras de reter financiamentos a investigadores.
Trata-se de uma indústria altamente globalizada com influência política global. Só o gigante Charoen Pokphand, produtor de frangos com sede em Bangcoc, foi capaz de suprimir as investigações ao seu papel na disseminação da gripe das aves no sudoeste asiático, por isso é provável que a epidemiologia forense da erupção de gripe suína bata com a cabeça contra o muro da indústria de suínos.
Isto não quer dizer que nunca se encontrem provas flagrantes: já há bisbilhotices na imprensa mexicana sobre um epicentro de gripe em torno de uma grande subsidiária da Smithfield no estado de Veracruz. Mas o que mais importa (especialmente dada a contínua ameaça do H5N1) é a maior configuração: a fracassada estratégia pandémica da OMS , o maior declínio da saúde pública mundial, a camisa de forças da indústria farmacêutica sobre os medicamentos essenciais, e a catástrofe planetária da produção de gado industrializada e ecologicamente demente.

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