terça-feira, 1 de dezembro de 2009

SUSPEITOS E INSUSPEITOS

Do Direto da Redação

Por Eliakim Araujo

A coluna de hoje começa com uma inocente pergunta: se José Roberto Arruda já tinha sido pego em flagrante em 2001 no escândalo de violação do painel de votação do Senado, por que lhe foi permitido voltar à política como deputado e mais tarde como governador do DF?
Se me disserem que a lei permite que os políticos estão isentos de punição desde que antes renunciem ao mandato, então mude-se essa lei com urgência urgentíssima. Ela é um convite à safadeza, uma porta aberta aos inescrupulosos gatunos que sabem por onde escapar se forem pegos com a boca na botija. E o dinheiro do qual se apropriaram, também é esquecido se o gatuno renuncia antes da punição?
Se ainda resta alguma dignidade no Parlamento brasileiro, esse dispositivo legal precisa ser defenestrado imediatamente da nossa prática política.A coluna segue com outra pergunta. O que se passa na cabeça do eleitor de Brasilia que reconduziu à política um confesso desonesto que usou o artifício legal da renúncia para não ser cassado?
Não é preciso pesquisar muito para se saber que Arruda construiu sua carreira aliado a políticos de honestidade duvidosa e negócios suspeitos no exercício do munus público. A Wikepedia está ao alcance de qualquer eleitor brasiliense. E está lá, pra quem quiser ler, que Arruda, como secretário de obras do “insuspeito” Joaquim Roriz, foi responsável pela execução de uma das obras mais polêmicas do governo, o metrô de Brasilia, que “tempos depois teve sua obra embargada por suspeitas de irregularidades”.
Também está dito lá que, em 2001, como líder do governo FHC no Senado, Arruda envolveu-se no famoso escândalo da violação do painel eletrônico quando se votava a cassação do ex-senador Luis Estevão. Depois de jurar de pés juntos sua inocência, acabou confessando sua culpa na tribuna do Senado, enquanto anunciava sua renúncia para escapar da cassação inevitável, que poderia torná-lo inelegível por 9 anos.
Perdeu o lugar no ninho tucano e correu para os braços do “insuspeito” Joaquim Roriz, com quem havia brigado, e abrigou-se sob o manto “insuspeito” do PFL. A jornada do inferno ao paraíso político não demorou mais que um ano e meio. Arruda voltou ao Parlamento como o deputado federal mais votado de Brasília.
Em 2006, tendo como vice outro “insuspeito” político brasiliense, o empresário da construção civil, Paulo Octavio, Arruda elegeu-se governador do DF, sob a égide de “acordos escusos entre os dois”, como denunciou a imprensa na época. O resto da história todo mundo sabe. Arruda está em vídeos espalhados por todo país recebendo pacotes de dinheiro para comprar deputados da base aliada.
Arruda não pode sair impune do atual escândalo. Não basta sofrer o impeachment. Ele precisa ser punido exemplarmente, até com pena de prisão, como acontece em outros países, e transferir aos cidadãos de Brasilia cada centavo que recebeu de propina de empresários tão desonestos como ele.
A mão pesada da Justiça deve cair sobre toda quadrilha, do governador aos deputados que recebiam propinas, sem esquecer dos empresários que doavam dinheiro em troca de favores.
Espera-se que o Supremo, se chamado a intervir, não inverta os papéis e transforme os policiais responsáveis pela Operação Caixa de Pandora em vilões da história.

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