terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Quatro frases que fazem o nariz do Pinóquio crescer

Do site Adital

Por Eduardo Galeano

1 - Somos todos culpados pela ruína do planeta.
A saúde do mundo está feito um caco. ‘Somos todos responsáveis’, clamam as vozes do alarme universal, e a generalização absolve: se somos todos responsáveis, ninguém é. Como coelhos, reproduzem-se os novos tecnocratas do meio ambiente. É a maior taxa de natalidade do mundo: os experts geram experts e mais experts que se ocupam de envolver o tema com o papel celofane da ambiguidade. Eles fabricam a brumosa linguagem das exortações ao ‘sacrifício de todos’ nas declarações dos governos e nos solenes acordos internacionais que ninguém cumpre. Estas cataratas de palavras - inundação que ameaça se converter em uma catástrofe ecológica comparável ao buraco na camada de ozônio - não se desencadeiam gratuitamente. A linguagem oficial asfixia a realidade para outorgar impunidade à sociedade de consumo, que é imposta como modelo em nome do desenvolvimento, e às grandes empresas que tiram proveito dele. Mas, as estatísticas confessam.. Os dados ocultos sob o palavreado revelam que 20 por cento da humanidade cometem 80 por cento das agressões contra a natureza, crime que os assassinos chamam de suicídio, e é a humanidade inteira que paga as consequências da degradação da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento da água, do enlouquecimento do clima e da dilapidação dos recursos naturais não-renováveis. A senhora Harlem Bruntland, que encabeça o governo da Noruega, comprovou recentemente que, se os 7 bilhões de habitantes do planeta consumissem o mesmo que os países desenvolvidos do Ocidente, "faltariam 10 planetas como o nosso para satisfazerem todas as suas necessidades." Uma experiência impossível.
Mas, os governantes dos países do Sul que prometem o ingresso no Primeiro Mundo, mágico passaporte que nos fará, a todos, ricos e felizes, não deveriam ser só processados por calote. Não estão só pegando em nosso pé, não: esses governantes estão, além disso, cometendo o delito de apologia do crime. Porque este sistema de vida que se oferece como paraíso, fundado na exploração do próximo e na aniquilação da natureza, é o que está fazendo adoecer nosso corpo, está envenenando nossa alma e está deixando-nos sem mundo.
2 - É verde aquilo que se pinta de verde.
Agora, os gigantes da indústria química fazem sua publicidade na cor verde, e o Banco Mundial lava sua imagem, repetindo a palavra ecologia em cada página de seus informes e tingindo de verde seus empréstimos. "Nas condições de nossos empréstimos há normas ambientais estritas", esclarece o presidente da suprema instituição bancária do mundo. Somos todos ecologistas, até que alguma medida concreta limite a liberdade de contaminação.
Quando se aprovou, no Parlamento do Uruguai, uma tímida lei de defesa do meio-ambiente, as empresas que lançam veneno no ar e poluem as águas sacaram, subitamente, da recém-comprada máscara verde e gritaram sua verdade em termos que poderiam ser resumidos assim: "os defensores da natureza são advogados da pobreza, dedicados a sabotarem o desenvolvimento econômico e a espantarem o investimento estrangeiro." O Banco Mundial, ao contrário, é o principal promotor da riqueza, do desenvolvimento e do investimento estrangeiro. Talvez, por reunir tantas virtudes, o Banco manipulará, junto à ONU, o recém-criado Fundo para o Meio-Ambiente Mundial. Este imposto à má consciência disporá de pouco dinheiro, 100 vezes menos do que haviam pedido os ecologistas, para financiar projetos que não destruam a natureza. Intenção inatacável, conclusão inevitável: se esses projetos requerem um fundo especial, o Banco Mundial está admitindo, de fato, que todos os seus demais projetos fazem um fraco favor ao meio-ambiente. O Banco se chama Mundial, da mesma forma que o Fundo Monetário se chama Internacional, mas estes irmãos gêmeos vivem, cobram e decidem em Washington. Quem paga, manda, e a numerosa tecnocracia jamais cospe no prato em que come. Sendo, como é, o principal credor do chamado Terceiro Mundo, o Banco Mundial governa nossos escravizados países que, a título de serviço da dívida, pagam a seus credores externos 250 mil dólares por minuto, e lhes impõe sua política econômica, em função do dinheiro que concede ou promete. A divinização do mercado, que compra cada vez menos e paga cada vez pior, permite abarrotar de mágicas bugigangas as grandes cidades do sul do mundo, drogadas pela religião do consumo, enquanto os campos se esgotam, poluem-se as águas que os alimentam, e uma crosta seca cobre os desertos que antes foram bosques.
3 - Entre o capital e o trabalho, a ecologia é neutra.
Poder-se-á dizer qualquer coisa de Al Capone, mas ele era um cavalheiro: o bondoso Al sempre enviava flores aos velórios de suas vítimas... As empresas gigantes da indústria química, petroleira e automobilística pagaram boa parte dos gastos da Eco 92: a conferência internacional que se ocupou, no Rio de Janeiro, da agonia do planeta. E essa conferência, chamada de Reunião de Cúpula da Terra, não condenou as transnacionais que produzem contaminação e vivem dela, e nem sequer pronunciou uma palavra contra a ilimitada liberdade de comércio que torna possível a venda de veneno.
No grande baile de máscaras do fim do milênio, até a indústria química se veste de verde. A angústia ecológica perturba o sono dos maiores laboratórios do mundo que, para ajudarem a natureza, estão inventando novos cultivos biotecnológicos. Mas, esses desvelos científicos não se propõem encontrar plantas mais resistentes às pragas sem ajuda química, mas sim buscam novas plantas capazes de resistir aos praguicidas e herbicidas que esses mesmos laboratórios produzem. Das 10 maiores empresas do mundo produtoras de sementes, seis fabricam pesticidas (Sandoz-Ciba-Geigy, Dekalb, Pfizer, Upjohn, Shell, ICI). A indústria química não tem tendências masoquistas.
A recuperação do planeta ou daquilo que nos sobre dele implica na denúncia da impunidade do dinheiro e da liberdade humana. A ecologia neutra, que mais se parece com a jardinagem, torna-se cúmplice da injustiça de um mundo, onde a comida sadia, a água limpa, o ar puro e o silêncio não são direitos de todos, mas sim privilégios dos poucos que podem pagar por eles. Chico Mendes, trabalhador da borracha, tombou assassinado em fins de 1988, na Amazônia brasileira, por acreditar no que acreditava: que a militância ecológica não pode divorciar-se da luta social. Chico acreditava que a floresta amazônica não será salva enquanto não se fizer uma reforma agrária no Brasil. Cinco anos depois do crime, os bispos brasileiros denunciaram que mais de 100 trabalhadores rurais morrem assassinados, a cada ano, na luta pela terra, e calcularam que quatro milhões de camponeses sem trabalho vão às cidades deixando as plantações do interior. Adaptando as cifras de cada país, a declaração dos bispos retrata toda a América Latina. As grandes cidades latino-americanas, inchadas até arrebentarem pela incessante invasão de exilados do campo, são uma catástrofe ecológica: uma catástrofe que não se pode entender nem alterar dentro dos limites da ecologia, surda ante o clamor social e cega ante o compromisso político.
4 - A natureza está fora de nós.
Em seus 10 mandamentos, Deus esqueceu-se de mencionar a natureza. Entre as ordens que nos enviou do Monte Sinai, o Senhor poderia ter acrescentado, por exemplo: "Honrarás a natureza, da qual tu és parte." Mas, isso não lhe ocorreu. Há cinco séculos, quando a América foi aprisionada pelo mercado mundial, a civilização invasora confundiu ecologia com idolatria. A comunhão com a natureza era pecado. E merecia castigo. Segundo as crônicas da Conquista, os índios nômades que usavam cascas para se vestirem jamais esfolavam o tronco inteiro, para não aniquilarem a árvore, e os índios sedentários plantavam cultivos diversos e com períodos de descanso, para não cansarem a terra. A civilização, que vinha impor os devastadores monocultivos de exportação, não podia entender as culturas integradas à natureza, e as confundiu com a vocação demoníaca ou com a ignorância. Para a civilização que diz ser ocidental e cristã, a natureza era uma besta feroz que tinha que ser domada e castigada para que funcionasse como uma máquina, posta a nosso serviço desde sempre e para sempre. A natureza, que era eterna, nos devia escravidão. Muito recentemente, inteiramo-nos de que a natureza se cansa, como nós, seus filhos, e sabemos que, tal como nós, pode morrer assassinada. Já não se fala de submeter a natureza. Agora, até os seus verdugos dizem que é necessário protegê-la. Mas, num ou noutro caso, natureza submetida e natureza protegida, ela está fora de nós. A civilização, que confunde os relógios com o tempo, o crescimento com o desenvolvimento, e o grandalhão com a grandeza, também confunde a natureza com a paisagem, enquanto o mundo, labirinto sem centro, dedica-se a romper seu próprio céu.

* Escritor e jornalista uruguaio

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O presidente e o palavrão que incomoda

Da Agência Carta Maior

A fala sem rodeios do presidente Lula, durante cerimônia de assinatura dos contratos do programa Minha Casa, Minha Vida, no Maranhão, vai encher a seção de cartas de jornais e revistas, além de dar o tom do moralismo seletivo dos grandes articulistas.

Gilson Caroni Filho

Se tratar da língua é tratar de um tema político, a fala sem rodeios do presidente Lula, durante cerimônia de assinatura dos contratos do programa Minha Casa, Minha Vida, no Maranhão, vai encher a seção de cartas de jornais e revistas, além de dar o tom do moralismo seletivo dos grandes articulistas. Fingirão não saber que palavras tidas como chulas são formas lingüísticas ímpares para expressar emoções que permeiam o corpo e os amplos campos das relações sociais. Não está em questão se o emprego se deu em contexto adequado, mas o que move o coro dos “indignados”.
Ao afirmar que "eu não quero saber se o João Castelo é do PSDB. Se o outro é do PFL. Eu não quero saber se é do PT. Eu quero é saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra; esse é o dado concreto", Lula tem consciência de que os opositores dirão que desrespeitou a postura pública que deveria manter em face de majestade do cargo que ocupa. Tanto que se antecipa à crítica anunciada: “Amanhã os comentaristas dos grandes jornais vão dizer que o Lula falou um palavrão, mas eu tenho consciência que eles falam mais palavrão do que eu todo dia e tenho consciência de como vive o povo pobre desse país".
Como tem sido colonizada para ter vergonha de ser o que é, uma boa parcela da classe média urbana se apresenta como defensora intransigente da propriedade, da família e do Estado Patrimonial. Confunde governo e salvação, ignora a representação, desconhece direitos sociais e políticos, menosprezando a exploração econômica, embora seja “mobilizável” por campanhas de caridades que reforcem a sua imagem de privilegiadas. Em busca de ilusões perdidas, está disponível para aventuras que realçam a ferocidade dos seus recalques. E qualquer enunciado que apresente um padrão variante é o suficiente para açular o seu ódio de classe.
Pouco lhe importa se campeia a violência, a truculência e a miséria. Em seu ilusório casulo, o que merece relevo é o destempero verbal de um presidente que não segue os padrões dos antigos donos do poder. É de pouca importância se o governo anterior reduziu a zero os empréstimos da Caixa Econômica Federal às autarquias e estatais da área de saneamento básico. Também não lhe tira o sono se a decisão política do tucanato provocou, além da dengue, surtos de cólera, leishmaniose visceral, tifo e disenterias. Ora, doenças resultantes da falta de saneamento não lhe incomodam, pois fezes liquefeitas são desprezíveis. A merda que lhe aflige é aquela que aparece no improviso presidencial como dado concreto.
Para Lula, o descalabro no saneamento é uma tragédia, e, de fato, o é. Por sua história, o presidente faz parte de uma legião de sobreviventes. De um exército que resistiu a séculos de dificuldades imensas, naturais e humanas. Tem orgulho saudável de sua força. Da força desse povo que come mandacaru e capulho verde de algodão e ainda tem a esperança desesperada de querer viver. Isso é coragem, é grandeza. Essa é a merda que a causa engulhos na grande imprensa e nos seus leitores indignados. Mas indignados com o quê, afinal?
Indignados pela existência de erros que se repetem há tempos? Indignados pela impotência de um saber divorciado da dimensão histórica e da responsabilidade social que deveria caber aos centros de ensino que freqüentaram? Indignados pela ameaça, concreta e imediata, da morte, pela fome endêmica e, até bem pouco tempo epidêmica, dos mais miseráveis? Não. O que os ruborizados pelo emprego da palavra "merda" não suportam é a ausência do promotor da "paz social", do garantidor de uma ordem política que lhes oferecia, através do conservadorismo autoritário, uma institucionalidade que muito apreciavam ética e esteticamente. Um simulacro de república feito sob medida. O problema é que a vestimenta institucional brasileira parece calça curta, fazendo o país caminhar desajeitado, com medo do ridículo. A reforma mais urgente requer produção crescente de cidadania, a criação incessante de sujeitos portadores de direitos e deveres. Em uma sociedade fracionada, essa é a "merda" que ameaça e choca os estamentos mais reacionários: a realidade que não deveria ter emergido com modelagem tão nítida.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

Fome e aquecimento do planeta

Do site Alainet

Por Sérgio Barbosa de Almeida

No momento em que se discute em Copenhagen como reorganizar as atividades humanas, que aceleram as mudanças climáticas em escala planetária e colocam em risco a vida de boa parte dos habitantes da Terra, não há como manter em segundo plano a questão da fome, que voltou a se alastrar no mundo a partir de 2005. A solução desse obsceno problema está intimamente ligada às mudanças climáticas. A reunião de cúpula convocada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO, em meados de novembro, em Roma, mereceu pouca atenção dos países ricos, cujos chefes de Estado se abstiveram de participar, à exceção do da Itália, país anfitrião do encontro.

Mas qual é o tamanho do problema? Em 2009, a FAO estima em mais de um bilhão o número de pessoas subalimentadas, ou seja, um em cada seis habitantes do planeta. A Ásia contribui com 640 milhões de “famintos”, a África e Oriente Médio com 310 milhões, a América Latina com 53 milhões e, pasmem, os países ricos com 15 milhões. Atualmente, a cada seis segundos uma criança morre de fome no mundo e as perspectivas de curto prazo são assustadoras. Segundo Olivier de Schutter, Relator da FAO para o direito à alimentação, “todas as condições para uma nova crise alimentar (sic) nos próximos dois anos estão reunidas; não se trata de saber se ela ocorrerá, mas sim quando” (Fonte: Le Monde, 16/11/2009). Apesar da afirmação do Relator, a fraqueza política da FAO pode ser constatada ao se verificar que as projeções de redução da fome, pactuadas entre os países membros, são sucessivamente revistas para pior: em 1991, foi ‑­

estabelecida a meta de se reduzir à metade, até 2015, o número de 840 milhões de subnutridos. Em 2005, a meta para 2015 foi elevada de 420 para 750 milhões, mas não ocorreu uma redução dos subnutridos e sim seu crescimento para um bilhão de pessoas (Ver figura abaixo, publicada no jornal conservador Le Figaro, de 16/11/2009). Além disso, o encontro de Roma encerrou-se sem que os países ricos assumissem compromissos com as demandas de Jacques Diouf, Secretário-Geral da FAO há 15 anos, seja em termos dos aportes financeiros solicitados seja em relação à proposta de “Fome zero”, primeiro dos Objetivos do Milênio, estabelecidos em 2000. Ironicamente, convivemos também com meio a um bilhão de pessoas afetadas por problemas de saúde decorrentes do excesso ou da inadequação alimentar, muitas delas pobres, com acesso apenas a alimentos que “matam” a fome, mas que não nutrem suficientemente e provocam problemas de obesidade e outras doenças.

Durante o encontro da FAO, a Via Campesina e outras organizações sociais realizaram um evento paralelo, no qual intensificaram a defesa do conceito de “Soberania alimentar”, em contraposição ao de “Segurança alimentar”, divergência que transcende a questão semântica. Na prática, a “segurança ‑­

alimentar” como entendida pelos governos representados na FAO baseia-se na disponibilização de novos recursos financeiros para a intensificação da chamada “Revolução Verde”, cujos fundamentos são o desenvolvimento intensivo de monoculturas em grandes áreas de terra – compreendendo a irrigação e o uso de adubos químicos –, o uso de sementes selecionadas, que rapidamente confundiu-se com o de sementes geneticamente modificadas, combinado com o de agrotóxicos, produzidos e controlados por um número reduzido de empresas.

Por seu turno, a proposta de “soberania alimentar” reafirmada por organizações que congregam pequenos agricultores, trabalhadores rurais sem terra, povos das florestas e pescadores artesanais, dentre outros grupos, baseia-se no “direito humano fundamental de todos os povos, nações e Estados definirem seus próprios sistemas e políticas de produção alimentar”, de forma a assegurar o acesso a todos a uma alimentação adequada e saudável, que respeite a diversidade cultural dos povos, aí incluídos os saberes e hábitos tradicionais, alimentares e lingüísticos. As organizações presentes ao encontro paralelo redigiram o documento “Políticas e ações para erradicar a fome e a subnutrição”, disponível no site www.eradicatehunger.org em espanhol, francês e inglês, que apresenta de forma meticulosa e abrangente as engrenagens do sistema dominante de oferta de alimentos, bem como as alternativas para superação do problema da fome no planeta. No documento são abordadas: a) as deficiências e limitações do processo dominante de suprimento alimentar da população mundial; b) a visão conceitual de soberania alimentar; c) as formas de acesso a uma agricultura em bases sustentáveis; d) a relação entre meio ambiente, mudanças climáticas e agro combustíveis; e) a relação ‑­ entre mercados, políticas de preços e subsídios agrícolas; f) o papel dos Estados e instituições internacionais.

Luiz Gonzaga: eterno brasileiro, eterno rei do baião


Da Revista Algo Mais


Por Edmar Lyra Filho


No dia 13 de dezembro de 1912 em Exu, Pernambuco, nascia Luiz Gonzaga do Nascimento, há exatos 97 anos. Nascia aquele que seria o maior ícone da música e da cultura pernambucana e nordestina, e um dos maiores ícones da música popular brasileira.
Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, era “malero”, “bochudo”, “cabeça-de-papagaio”, “zambeta”, “fêi pa peste”, como ele se autodefinia numa de suas canções mais conhecidas: ‘Respeita Januário’ que ele compôs em parceria com o advogado Humberto Teixeira, dentre muitos outros sucessos compostos pela dupla.
O velho Lua cantou em verso e prosa a dura realidade do Nordeste, a realidade de pessoas que saiam do interior do Nordeste, de estados como: Pernambuco, Paraíba, Bahia, Rio Grande do Norte, etc. que viajavam de suas cidades no sertão nordestino na esperança de uma vida melhor lá pelas bandas do Sul.
Luiz Gonzaga era, sem dúvidas, um verdadeiro defensor das causas do povo nordestino. Em suas músicas sempre buscou retratar a dura realidade dos nossos conterrâneos. Como em Súplica Cearense – “Ó Deus, perdoe esse pobre coitado que de joelhos rezou um bocado pedindo pra chuva cair sem parar, Ó Deus será que o senhor se zangou e só por isso o sol ‘arretirou’ fazendo cair toda chuva que há...”, música eternizada numa parceria feita com o inesquecível Fagner.
Sua principal canção, Asa Branca, retratava a seca do nordeste brasileiro: “Quando ‘oiei’ a terra ardendo, qual a fogueira de São João, eu ‘preguntei’ a Deus do céu ai, pru quê tamanha judiação?” nela, falava da necessidade do sertanejo ter que abandonar sua terra por conta da seca, caso ficasse, corria o risco de morrer de sede, de fome, dentre outras causas.
Além dessas maravilhosas canções, lembremos de outras que apenas citaremos seus respectivos nomes, pois, se formos colocar trechos, não conseguiremos concluir o texto, são elas: Xote das meninas, A triste partida, A vida do viajante, Olha pro céu, A feira de Caruaru, Assum preto, A morte do vaqueiro, Sabiá, Último pau de arara, Pagode russo, Cintura fina, Baião, Qui nem jiló, Boiadeiro, Riacho do navio, Luar do sertão, Vozes da seca, Vem morena, Apologia ao jumento, Paraíba, Karolina com K, Petrolina Juazeiro, dentre outras verdadeiras jóias compostas por esse maravilhoso ídolo brasileiro.
Nosso Rei faleceu em 2 de agosto de 1989. Quando Luiz Gonzaga se foi, eu não tinha nem um ano completo de idade. Mas, suas músicas quando são tocadas e relembradas estão no coração de milhares de gerações. Sejam aqueles que conheceram Luiz Gonzaga, sejam aqueles que apenas conhecem sua história.
Ele é um mito que jamais deverá ser esquecido, pois, no que depender do povo pernambucano e brasileiro, sua biografia e suas canções serão sempre relembradas. A cada Missa do Vaqueiro, a cada São Pedro, a cada São João, a cada Santo Antônio, suas músicas serão cantadas por todos.
Independentemente de idade, de crença, de raça, de religião Gonzagão estará vivo em nossos corações. Uma figura mitológica, e sem dúvidas, única. A prova é tanta que sequer deixou algum descendente, os mitos dificilmente deixam alguém que possam ser iguais a eles.
O que cabe a nós, pobres mortais e admiradores da vasta carreira desse grande ídolo do Brasil, é fazer com que a lembrança de Gonzagão esteja em evidência para todos os pernambucanos, cearenses, paulistas, cariocas, gaúchos, enfim, todos os brasileiros.
Daqui a três anos estaremos comemorando o centenário de nascimento do Rei do Baião e nada mais justo que haja uma homenagem conjunta em nível nacional para que ele jamais seja esquecido.
*Edmar Lyra Filho é pernambucano, graduando em Administração de Empresas e eterno admirador do eterno Rei do Baião.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Jornal vaza esboço de documento elitista em Copenhague

Do Portal Vermelho

O segundo dia da conferência sobre a mudança climática realizada em Copenhague, capital dinamarquesa, foi marcado por um escândalo que provocou a indignação dos países em desenvolvimento. O jornal britânico The Guardian publicou o esboço de documento final da conferência feito pelo país sede, no qual se daria mais poder aos países ricos e poria as Nações Unidas em uma posição secundária em relação às futuras negociações sobre o tema.
Segundo o The Guardian, o chamado Texto Dinamarquês, elaborado em segredo por um grupo que ficou conhecido como "círculo do compromisso", foi finalizado nesta semana e mostrado a um grupo muito restrito de países. O texto seria revelado apenas no final da conferência.No texto, os líderes presentes ao encontro seriam convidados a assinar um acordo que dá mais poder aos países ricos e remete as Nações Unidas para um lugar secundário nas futuras negociações sobre alterações climáticas.
Além disso, estabelece limite diferentes para as emissões per capita de países desenvolvidos e em desenvolvimento até 2050. Ao segundo grupo de países será permitido emitir quase o dobro de gases, segundo revelou o jorna britânico.
O texto abandona os princípios do Protocolo de Quioto, no qual as nações ricas, responsáveis pela maior parte das emissões de CO2, assumiam a liderança no combate ao efeito de estufa, enquanto as nações mais pobres poderiam agir em menor escala.
O documento entrega ainda ao Banco Mundial a responsabilidade de financiar o combate às alterações climáticas.
Ongs criticam documento
Lumumba Stanislas Dia Ping, chefe da delegação sudanesa que atualmente preside o G77, grupo que reúne 130 países em desenvolvimento, afirmou que o projeto representa uma "ameaça". "Os membros do G77 não deixarão as negociações neste estágio. Não podemos nos permitir um fracasso em Copenhague", afirmou.
Organizações ambientais também criticaram o documento. "O texto proposto pelo primeiro-ministro dinamarquês é fraco e mostra a posição elitista e sem transparência da presidência dinamarquesa”, afirmou Kim Carstensen, da organização WWF.
"As táticas de negociações debaixo dos panos, sob a presidência dinamarquesa, querem agradar os países ricos em vez de servir à maioria das nações que pedem uma solução justa e ambiciosa", acrescentou.
Antonio Hill, da Oxfam International, pediu que os líderes se concentrem no texto negociado há meses por diferentes grupos de trabalho. "A proposta dinamarquesa não deve distrair (os participantes)", comentou.
Brasil cancela entrevista

A divulgação do tal documento fez com que a delegação do Brasil na COP-15 suspendesse uma entrevista coletiva sobre o andamento das negociações para iniciar conversações com Brasília; a China mudou sua entrevista para uma sala menor, informou o jornal O Globo.

O esboço escrito pelos dinamarqueses, apoiados por britânicos e estadunidenses, foi colocado na mesa na semana passada, durante negociações preparatórias. De acordo com o brasileiro Sérgio Serra, embaixador extraordinário para o clima, o texto chegou a ser entregue a 10 ou 15 diplomatas, mas diante da reação negativa, foi retirado da mesa.

Países como Brasil, China e Índia, discordaram das propostas apresentadas no rascunho, que também sugeria que só os países "mais vulneráveis" seriam beneficiados com repasses de recursos de países ricos.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

29 anos sem Lennon, seus últimos momentos

Lennon e seu assassino


Do Blog da Leila Cordeiro




Há exatos 29 anos, no dia 8 de dezembro de 1980, o ex-beatle John Lennon era assassinado em frente ao prédio onde morava em Nova Iorque, o famoso Dakota, ao lado Central Park. O crime chocou o mundo, Lennon estava em plena fase de produção musical, depois da separação dos Beatles.


O mais impressionante na história é que Lennon foi morto por um de seus fãs. Veja como tudo aconteceu.


Naquele dia 8 de dezembro, por volta das 5 da tarde, John Lennon e Yoko Ono sairam de casa para uma gravação no Record Plant Studio.


Quando caminhavam em direção à limousine deles, diversas pessoas se aproximaram para pedir autógrafos. Essa era uma cena comum que Lennon admnistrava muito bem, atendia a todos com delicadeza. O que ele não poderia imaginar é que entre aqueles fãs estava Mark Chapman, um morador de Honolulu, Hawaii, que iria matá-lo horas depois.


Chapman silenciosamente se aproximou de Lennon com uma cópia do disco "Double Fantasy". Depois de assinar o álbum, Lennon polidamente perguntou a ele: "isso é tudo que você queria?" Chapman balançou a cabeça, concordando. O fotógrafo Paul Goresh estava perto e fez a foto do encontro dos dois, a vítima e seu assassino.


Mas o crime não aconteceu naquele momento. Lennon e Ono passaram várias horas no estúdio e combinaram de jantar fora, mas antes Lennon resolveu dar um pulo em casa para dar boa noite ao filho Sean, de 5 anos.


Às 10:50 da noite, os dois chegaram ao Dakota. Fazia frio. Ono foi na frente, Lennon um pouco atrás. No arco da entrada do prédio, estava Mark Chapman, que chamou "Mr. Lennon". Quando Lennon se virou, recebeu quatro tiros de revólver calibre 38, todos em regiões vitais. Minutos depois, John Lennon morria num hospital das proximidades.

Última década deverá ser a mais quente já registrada

Da Rádio ONU


Relatório da Organização Meteorológica Mundial mostra que o ano 2009 deve figurar entre os dez mais quentes desde 1850; alterações extremas provocaram inundações devastadoras, secas severas, tempestades de neve, e ondas de calor e de frio.


O ano 2009 deve figurar entre os dez mais quentes desde 1850, quando começaram os primeiros registros do clima analisados pela Organização Meteorológica Mundial.
Trata-se até agora do 5º ano de maior calor dos últimos 160 anos, segundo relatório parcial da OMM divulgado nesta terça-feira que será usado nos debates da Conferência da ONU sobre Mudança Climática.
Década
A década entre 2000 e 2009 também deverá ser a mais quente já registrada.As temperaturas acima da média foram sentidas na maior parte das regiões, com exceção dos Estados Unidos e Canadá, que tiveram mais frio do que a média.
Alterações extremas provocaram inundações devastadoras, secas severas, tempestades de neve, e ondas de calor e de frio.
O relatório indica que o sul da Ásia e da América do Sul e a Austrália foram os mais afetados por períodos quentes e intensos, principalmente entre os meses de março e maio.
Países como o Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina tiveram temperaturas diárias no outono entre 30ºC e 40ºC, números recordes para a estação. A OMM também cita o nordeste e o sul do Brasil como as regiões mais afetadas por chuvas pesadas e inundações no mesmo período.
Quente
Na África Oriental houve forte escassez de alimentos devido às secas, e no Quênia, prejuízos na colheita de milho e mortes de animais. Já na África Ocidental as tempestades em setembro afetaram mais de 100 mil pessoas.
Os dados foram coletados com informações preliminares de estações climáticas, navios, bóias e satélites. O relatório completo será publicado em março de 2010.

Crise cortou 20 milhões de empregos, diz OIT

Da BBC Brasil


Mais de 20 milhões de postos de trabalho foram cortados desde o início da crise econômica mundial, em outubro de 2008, revela um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado nesta segunda-feira. O relatório alerta ainda que quase 43 milhões de pessoas correm o risco de serem excluídas do mercado de trabalho.
"O emprego nos países ricos não vai retornar aos níveis pré-crise antes de 2013. Nas economias emergentes, a recuperação dos níveis de emprego pode começar em 2010, mas não atingirá os índices anteriores à crise antes de 2011", afirma o relatório Mundo do Trabalho 2009 – A crise global do emprego e perspectivas.
O relatório aponta que as reduções de empregos têm sido menores do que as previsões baseadas em crises anteriores. Mas a organização ressalta que a crise do emprego "é muito mais ampla do que os números sugerem".
"A economia mundial está mostrando sinais encorajadores de recuperação, mas a crise do emprego está longe de ter acabado", diz o estudo.
"Há riscos significativos de que a crise do emprego tenha implicações sociais e econômicas negativas por um longo prazo", afirma
Segundo a OIT, quase 43 milhões de pessoas podem ser excluídas do mercado de trabalho por um longo período ou mesmo definitivamente se programas adequados de estímulo ao crescimento econômico não forem adotados ou se os planos que já estão em andamento terminarem.
"Experiências em relação às crises anteriores sugerem que esse risco é crítico principalmente para pessoas com baixa qualificação, imigrantes e trabalhadores com mais idade", afirma o estudo, que analisou a situação do emprego em 51 países.
"Pessoas que entram agora no mercado de trabalho, incluindo jovens e mulheres, terão mais dificuldades para obter um emprego."

Brasil

O estudo da OIT revela que nos países em desenvolvimento "empregos com alta qualificação foram perdidos e os trabalhadores afetados provavelmente migram para a economia informal".
Nos países ricos, 10,2 milhões de pessoas perderam o emprego desde o último trimestre de 2008. Em países como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, os cortes dos postos de trabalho começaram até antes dessa data.
Nas economias em desenvolvimento, 10,7 milhões de empregos foram cortados desde outubro de 2008, sendo quase 9 milhões apenas no primeiro trimestre deste ano.
O Brasil, a China, a Rússia e África do Sul representam quase a metade do total de empregos cortados nos países em desenvolvimento.
Mas a Turquia, que perdeu mais de 2 milhões de vagas entre o último trimestre de 2008 e o primeiro trimestre deste ano, também foi afetada de maneira dramática, diz a OIT.
De acordo com a organização, o desemprego vem diminuindo desde o segundo trimestre de 2009 nos países em desenvolvimento. Alguns países, como o Brasil, vem mostrando um retorno ao crescimento do emprego, enquanto outros continuam sofrendo cortes dos postos de trabalho, diz o estudo.
"As tendências atuais indicam que o emprego nos países em desenvolvimento não vai retornar aos níveis pré-crise até o final de 2010. No Brasil, no entanto, a recuperação provavelmente será mais rápida", diz o estudo.
A OIT afirma ainda que 5 milhões de pessoas podem perder o emprego imediatamente. "Apesar da queda da demanda e da produção, as empresas mantiveram milhões de trabalhadores, frequentemente por meio de ajudas governamentais", diz o estudo.
"Eles correm o risco de perder o emprego se as atividades da empresa se tornarem inviáveis, se os governos retirarem as medidas de apoio ou se a retomada econômica não for forte o suficiente", afirma a OIT.

A blogueira Yoani e suas contradições

Do site Brasil de Fato

Por Frei Betto

Só os ingênuos acreditam que se trata de uma simples blogueira. Nem sequer é vítima da segurança ou da Justiça cubanas

O mundo soube que, a 7 de novembro último, a blogueira cubana Yoani Sánchez teria sido golpeada nas ruas de Havana. Segundo relato dela, “jogaram-me dentro de um carro... arranquei um papel que um deles levava e o levei à boca. Fui golpeada para devolver o documento. Dentro do carro estava Orlando (marido dela), imobilizado por uma chave de karatê... Golpearam-me nos rins e na cabeça para que eu devolvesse o papel... Nos largaram na rua... Uma mulher se aproximou: “O que aconteceu?” “Um sequestro”, respondi. (www.desdecuba.com/generaciony )
Três dias depois do ocorrido nas ruas da Havana, Yoani Sánchez recebeu em sua casa a imprensa estrangeira. Fernando Ravsberg, da BBC, notou que, apesar de todas as torturas descritas por ela, “não havia hematomas, marcas ou cicatrizes” (BBC Mundo, 9/11/2009). O que foi confirmado pelas imagens da CNN. A France Press divulgou que ela “não foi ferida.”
Na entrevista à BBC, Yoani Sánchez declarou que as marcas e hematomas haviam desaparecido (em apenas 48 horas), exceto as das nádegas, “que lamentavelmente não posso mostrar”. Ora, por que, no mesmo dia do suposto sequestro, não mostrou por seu blog, repleto de fotos, as que afirmou ter em outras partes do corpo?
Havia divulgado que a agressão ocorreu à luz do dia, diante de um ponto de ônibus “cheio de gente.” Os correspondentes estrangeiros em Cuba não encontraram até hoje uma única testemunha. E o marido dela se recusou a falar à imprensa.
O suposto ataque à blogueira cubana mereceu mais destaque na mídia que uma centena de assassinatos, desaparecimentos e atos de violência da ditadura hondurenha de Roberto Micheletti, desde 27 de junho.
Yoani Sánchez nasceu em 1975, formou-se em filologia em 2000 e, dois anos depois, “diante do desencanto e a asfixia econômica em Cuba”, como registra no blog, mudou-se para a Suíça em companhia do filho Téo. Ali trabalhou em editoras e deu aulas de espanhol.
Em 2004, abandonou o paraíso suíço para retornar a Cuba, que qualifica de “imensa prisão com muros ideológicos”. Afirma que o fez por motivos familiares. Quem lê o blog fica estarrecido com o inferno cubano descrito por ela. Apesar disso, voltou.
Não poderia ter assegurado um futuro melhor ao filho na Suíça? Por que regressou contra a vontade da mãe? “Minha mãe se recusou a admitir que sua filha já não vivia na Suíça de leite e chocolate” (blog dela, 14/08/2007).
Na verdade, o caso de Yoani Sánchez não é isolado. Inúmeros cubanos exilados retornam ao país após se defrontarem com as dificuldades de adaptação ao estrangeiro, os preconceitos contra mulatos e negros, a barreira do idioma, a falta de empregos. Sabem que, apesar das dificuldades pelas quais o país atravessa, em Cuba haverão de ter casa, comida, educação e atenção médica gratuitas, e segurança, pois os índices de criminalidade ali são ínfimos comparados ao resto da América Latina.
O que Yoani Sánchez não revela em seu blog é que, na Suíça, implorou aos diplomatas cubanos o direito de retornar, pois não encontrara trabalho estável. E sabe que em Cuba ela pode dedicar tempo integral ao blog, pois é dos raros países do mundo em que desempregado não passa fome nem mora ao relento...
O curioso é que ela jamais exibiu em seu blog as crianças de rua que perambulam por Havana, os mendigos jogados nas calçadas, as famílias miseráveis debaixo dos viadutos... Nem ela nem os correspondentes estrangeiros, e nem mesmo os turistas que visitam a Ilha. Porque lá não existem.
Se há tanta falta de liberdade em Cuba, como Yoani Sánchez consegue, lá de dentro, emitir tamanhas críticas? Não se diz que em Cuba tudo é controlado, inclusive o acesso à internet?
Detalhe: o nicho Generación Y de Sánchez é altamente sofisticado, com entradas para Facebook e Twitter. Recebe 14 milhões de visitas por mês e está disponível em 18 idiomas! Nem o Departamento de Estado do EUA dispõe de tanta variedade linguística. Quem paga os tradutores no exterior? Quem financia o alto custo do fluxo de 14 milhões de acessos?
Yoani Sánchez tem todo o direito de criticar Cuba e o governo do seu país. Mas só os ingênuos acreditam que se trata de uma simples blogueira. Nem sequer é vítima da segurança ou da Justiça cubanas. Por isso, inventou a história das agressões. Insiste para que suas mentiras se tornem realidades.
A resistência de Cuba ao bloqueio usamericano, à queda da União Soviética, ao boicote de parte da mídia ocidental, incomoda, e muito. Sobretudo quando se sabe que voluntários cubanos estão em mais de 70 países atuando, sobretudo, como médicos e professores.
O capitalismo, que exclui 4 bilhões de seres humanos de seus benefícios básicos, não é mesmo capaz de suportar o fato de 11 milhões de habitantes de um país pobre viverem com dignidade e se sentirem espelhados no saudável e alegre Buena Vista Social Club.

Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ciro acha que Serra vai desistir do Planalto e disputar reeleição

Do Portal Vermelho

O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) afirmou, em entrevista exclusiva ao colunista do UOL Notícias e da Folha de S. Paulo Fernando Rodrigues, que José Serra, governador de São Paulo pelo PSDB, dificilmente será candidato à Presidência em 2010. Segundo ele, Serra "se dará conta da derrota e abandonará a disputa já em março do ano que vem".
Na avaliação do deputado, o mais provável é que José Serra concorra novamente ao governo paulista. "Ele [Serra] é intragável no Nordeste e intolerável no Norte. O Aécio [Neves, governador de Minas Gerais] é mais aceito no Sudeste e no Sul. Mas em São Paulo, ninguém ganha do Serra".
Ciro traça um possível panorama da disputa para explicar porque haverá a eventual a desistência do governador paulista.
"O Serra, com apoio da grande imprensa e dos setores conservadores, deve começar em primeiro nas pesquisas com algo ao redor de 32%. A Dilma [Rousseff, ministra da Casa Civil], com apoio do PT, com apoio do presidente Lula, vai a 25%, 26% fácil. Então haverá 58% do eleitorado entre eles dois. Sobram aí uns 42% para mim e para a Marina [Silva, senadora (PV-AC)]. Eu vou crescer. Desses 42%, 30% pode ser pra mim. A probabilidade de eu estar em segundo lugar é real. Nesse caso, o Serra desiste e concorre ao governo de São Paulo, que é mais garantido pra ele".
Ciro afirmou ainda que Serra será "um retrocesso para o país", caso seja eleito presidente. "O Serra não gosta de pobre. [...] O cara se elege prefeito de São Paulo, nomeia para a Prefeitura setores conservadores, como o DEM, e depois fica posando de progressista", declarou.
Na semana passada, José Serra subestimou a candidatura de Ciro à Presidência. "Nem candidato ele é. O Ciro não vai fazer nada que o [presidente] Lula não queira", disse o governador em entrevista à rádio Jovem Pan de São Paulo.
Ciro comentou a declaração: "O Serra quis me diminuir por eu ser aliado do [presidente] Lula, mas eu não tenho vergonha disso, eu assumo com orgulho. Mas ele é aliado do FHC [ex-presidente Fernando Henrique Cardoso] e não assume. Por quê? Eu faço esse desafio a ele".
Candidatura à Presidência
Ciro Gomes disse estar decidido a concorrer à Presidência em 2010. Mas seu partido, o PSB, que compõe a base aliada do governo Lula, reluta em lançar candidatura própria. A cúpula do partido trabalha para que o desejo do PT - que Ciro se candidate ao governo de São Paulo - se cumpra.
"Já tomei a decisão [de concorrer à Presidência]. Agora só falta romper a barreira no meu partido. [...] Eu sei que iríamos sozinhos [na candidatura à Presidência], mas isso não é tão ruim. Ir sozinho permite falar com mais pureza, com mais clareza doutrinária".
Se a decisão for confirmada, será a terceira vez que Ciro Gomes disputará eleição ao Planalto. Em 1998, ficou em terceiro lugar, com 11% (10,97%) dos votos, atrás de FHC e Lula. Em 2002, ficou em 4º lugar, com 12% (11,97%) dos votos - atrás de Lula, José Serra e Anthony Garotinho.
O deputado não descartou, no entanto, a possibilidade de disputar o governo de São Paulo em 2010. "Pretendo concorrer à Presidência, mas não descarto ser candidato ao governo de São Paulo. Até março tudo isso estará definido". Há dois meses, um dia antes do final do prazo estabelecido pelo TSE(Tribunal Superior Eleitoral), Ciro mudou seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo, gerando ainda mais expectativas sobre uma possível candidatura ao governo do Estado.

Para voltar a crer

Por Luis Fernando Veríssimo

Não faltam motivos para descrer da humanidade. Vamos combinar que fizemos coisas extraordinárias, mas nossa passagem pela Terra não está sendo, exatamente, um sucesso. Para cada catedral erguida bombardeamos três, para cada civilização vicejante liquidamos quatro, a cada gesto de grandeza correspondem cinco ou seis de baixeza, para cada Gandhi produzimos sete tiranos, para cada Patrícia Pilar 17 energúmenos. Inventamos vacinas para salvar a vida de milhões ao mesmo tempo em que matamos outros milhões pelo contágio e a fome. Criamos telefones portáteis que funcionam como gravadores, computadores – e às vezes até telefones –, mas ainda temos problema com a coriza nasal. Nosso dia a dia é cheio de pequenas calhordices, dos outros e nossas. Rareiam as razões para confiar no vizinho ao nosso lado, o que dirá do político lá longe, cuja verdadeira natureza muitas vezes só vamos conhecer pela câmera escondida. Somos decididamente uma espécie inconfiável, além de venal, traiçoeira e mesquinha. E estamos envenenando o planeta, num suicídio lento do qual ninguém escapará. E tudo isso sem falar no racismo, no terrorismo e no Big Brother Brasil.
Eu tinha desistido de esperar pela nossa regeneração. Ela não viria pela religião, que se transformou em apenas outro ramo de negócios. Nem viria pela revolução, mesmo que se pagasse para o povo ocupar as barricadas. Eu achava que a espécie não tinha jeito, não tinha volta, não tinha salvação. Meu desencanto era total. Só o abandonaria diante de alguma prova irrefutável de altruísmo e caráter que redimisse a humanidade. Uma prova de tal tamanho e tal significado, que anularia meu ceticismo terminal e restauraria minha esperança no futuro. E esta prova virá neste domingo, se o Grêmio derrotar o Flamengo no Maracanã.
Se o Grêmio derrotar o Flamengo, o Internacional pode ser campeão. Mas o mais importante não é isso. Se o Grêmio derrotar o Flamengo mesmo sabendo as consequências e o possível benefício para o arquiadversário, estará dando um exemplo inigualável de superioridade moral. A volta da minha fé na humanidade não interessa, Grêmio. Pense no que dirá a História. Pense nas futuras gerações!Crônica do Luis Fernando Veríssimo, publicada hoje em vários jornais brasileiros.

Da globalização

Do blog do Bourdoukan

Quando escrevi, citando Samuel Johnson, que a pátria é o último refúgio dos velhacos, leitores me escreveram advertindo sobre o exagero da afirmativa. Agora recorro a Bertrand Russell para proclamar que o nacionalismo é um exemplo extremo de crença ardente a respeito de assuntos duvidosos.
Nunca acreditei nessa história de nações pobres e nações ricas. Desde que o primeiro homem passou a lucrar com o trabalho de outro, o que existe de fato são explorados e exploradores. Sejam eles de que nacionalidades forem. Ou alguém acredita que o empresário brasileiro é diferente do empresário americano, chinês ou somali?
Não há a mínima diferença mesmo porque, apesar de idiomas diferentes, eles falam e sempre falarão a mesma língua. Os explorados é que falam línguas diferentes, mesmo sendo de uma mesma nação. Alguém consegue imaginar uma briga entre a Federação das Indústrias com a Federação dos Bancos ou com a Federação da Agricultura?
Já o contrário está sempre acontecendo. Os sindicatos e as centrais sindicais que representam os explorados estão sempre discutindo entre si, quando não, brigando. Não é raro considerarem-se inimigas mortais. Como se o bancário, o metalúrgico e o camponês não fossem vítimas do mesmo sistema.Por isso, sou um dos defensores incondicionais da globalização. E se hoje ela representa a Internacional Capitalista cabe aos que são contra a exploração do homem pelo homem transformá-la numa Internacional que pense na humanidade como um todo e no indivíduo como ser total.
A globalização é tão importante quanto o ar que respiramos. Falar em países é querer dividir o mundo em fronteiras, é apoiar as guerras onde as vítimas serão sempre os explorados. Ou alguém conhece algum rico que já morreu em combate?
Hoje a humanidade é administrada por um emaranhado que obedece a não mais do que quatro ou cinco corporações. E mesmo estas, têm ramificações entre si. Moldam os gostos de acordo com suas conveniências. Nos ensinam como amar, divertir, o que e como devemos ler, a que programas assistir, que esporte praticar, o que comer, impõem até o padrão de beleza.
É uma ditadura que nos faz crer que somos livres e independentes quando na verdade estamos subjugados. Transforma-nos em seres insensíveis, sem preocupação com o próximo, elimina do vocabulário a palavra solidariedade, nos torna impassíveis diante da fome, da miséria e das epidemias que matam seres humanos como se fossem insetos.
Transforma as guerras, um assassinato em massa, num jogo de videogame, para gozo e felicidade da indústria bélica. Mas como toda tese (globalização) carrega consigo a antítese (corporações exploradoras) cabe a nós lutarmos pela sua síntese (uma humanidade sem fronteiras e sem explorados).
Isso é o que conta. O resto são siglas.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Governo lança novo ranking de veículos poluidores

Do Valor Econômico


Sob pressão da indústria automobilística e de produtores de etanol, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou ontem novos critérios técnicos para criar um ranking nacional de emissão de poluentes por veículos fabricados no país. A lista anterior, divulgada em meados de setembro, sofreu duras críticas das indústria por desconsiderar a compensação das emissões de dióxido de carbono (CO2) em carros movidos a etanol. Nenhum carro a gasolina recebeu nota máxima. E a lista foi ampliada de 258 para 420 veículos.
No novo ranking, o governo alterou, a pedido dos fabricantes, outros três quesitos técnicos: substituiu notas numéricas pela avaliação do mérito das emissões de gases poluentes, passou a usar dados reais da homologação dos veículos em vez das informações projetadas da linha de produção, incluiu avaliação específica para emissões de CO2 com gasolina para todos os combustíveis, mas com critérios de eficiência energética. Agora, foram considerados veículos fabricados em 2009. Antes, a lista incluía apenas carros de 2008.
As alterações nos quesitos técnicos modificaram a lista dos maiores emissores de gases poluentes. Os veículos com motores "flex fuel" deixaram o topo do ranking, agora ocupado por carros movidos exclusivamente a gasolina. Na primeira lista, os cinco menos poluentes eram os modelos Ford Focus 2.0, Honda New Fit EX 1.5, Nissan Tiida 1.8, Honda New Fit LXL 1.4 e Ford Edge 3.5. Todos movidos a gasolina. Agora, os cinco melhores foram os modelos Fiat Idea Adventure Dualogic 1.8, Fiat Palio ELX 1.8, Fiat Siena HLX 1.8 e os Fiat Stilo Flex Dualogic 1.8 e Blackmotion 1.8: todos com motores "flex fuel" a gasolina e etanol. "É mais rígido e mais justo", diz o coordenador do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Paulo Macedo. "A nova lista premia os renováveis e, como avalia veículos fabricados em 2009, ajuda a influenciar a compra do consumidor".
Macedo informou que todos os veículos terão novas análises a partir das alterações em suas "homologações" feitas pela indústria. "Todo novo veículo entrará no ranking. Isso estimula a indústria a melhorar porque os novos dados vão mudar o ranking". Os dados da homologação são mais próximos da emissão real de poluentes. "Eliminamos eventuais variações de desvios na produção. Já está pronto para ensaio. Na produção, há algumas incertezas. É a emissão real, sem interferências", disse o coordenador do Ibama.
Pelos novos critérios, foram atribuídas até duas estrelas para as menores emissões de CO2 e até três estrelas para os chamados poluentes locais (monóxido de carbono, hidrocarbonetos queimados e óxido nitroso). "Antes, era só nota numérica. Agora, fizemos uma escala em estrelas", disse Paulo Macedo. Para motores com emissões de poluentes abaixo de 60% dos limites legais, a lista confere três estrelas. "Passamos a fazer ensaios a gasolina e a álcool", afirmou Macedo. Se o motor emitir entre 60% e 80% do limite, tem apenas duas estrelas. Para veículos acima de 80% do limite, só uma estrela é concedida. Todos os veículos movidos a "combustível renovável", como o etanol, ganha uma estrela adicional. "A cana absorve CO2 na produção e anula as emissões". Outra estrela é concedida pela eficiência. Se o motor emitir acima de 80 gramas de poluentes por quilômetro, não ganha estrelas. "E nenhum carro a gasolina terá cinco estrelas", disse.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

SUSPEITOS E INSUSPEITOS

Do Direto da Redação

Por Eliakim Araujo

A coluna de hoje começa com uma inocente pergunta: se José Roberto Arruda já tinha sido pego em flagrante em 2001 no escândalo de violação do painel de votação do Senado, por que lhe foi permitido voltar à política como deputado e mais tarde como governador do DF?
Se me disserem que a lei permite que os políticos estão isentos de punição desde que antes renunciem ao mandato, então mude-se essa lei com urgência urgentíssima. Ela é um convite à safadeza, uma porta aberta aos inescrupulosos gatunos que sabem por onde escapar se forem pegos com a boca na botija. E o dinheiro do qual se apropriaram, também é esquecido se o gatuno renuncia antes da punição?
Se ainda resta alguma dignidade no Parlamento brasileiro, esse dispositivo legal precisa ser defenestrado imediatamente da nossa prática política.A coluna segue com outra pergunta. O que se passa na cabeça do eleitor de Brasilia que reconduziu à política um confesso desonesto que usou o artifício legal da renúncia para não ser cassado?
Não é preciso pesquisar muito para se saber que Arruda construiu sua carreira aliado a políticos de honestidade duvidosa e negócios suspeitos no exercício do munus público. A Wikepedia está ao alcance de qualquer eleitor brasiliense. E está lá, pra quem quiser ler, que Arruda, como secretário de obras do “insuspeito” Joaquim Roriz, foi responsável pela execução de uma das obras mais polêmicas do governo, o metrô de Brasilia, que “tempos depois teve sua obra embargada por suspeitas de irregularidades”.
Também está dito lá que, em 2001, como líder do governo FHC no Senado, Arruda envolveu-se no famoso escândalo da violação do painel eletrônico quando se votava a cassação do ex-senador Luis Estevão. Depois de jurar de pés juntos sua inocência, acabou confessando sua culpa na tribuna do Senado, enquanto anunciava sua renúncia para escapar da cassação inevitável, que poderia torná-lo inelegível por 9 anos.
Perdeu o lugar no ninho tucano e correu para os braços do “insuspeito” Joaquim Roriz, com quem havia brigado, e abrigou-se sob o manto “insuspeito” do PFL. A jornada do inferno ao paraíso político não demorou mais que um ano e meio. Arruda voltou ao Parlamento como o deputado federal mais votado de Brasília.
Em 2006, tendo como vice outro “insuspeito” político brasiliense, o empresário da construção civil, Paulo Octavio, Arruda elegeu-se governador do DF, sob a égide de “acordos escusos entre os dois”, como denunciou a imprensa na época. O resto da história todo mundo sabe. Arruda está em vídeos espalhados por todo país recebendo pacotes de dinheiro para comprar deputados da base aliada.
Arruda não pode sair impune do atual escândalo. Não basta sofrer o impeachment. Ele precisa ser punido exemplarmente, até com pena de prisão, como acontece em outros países, e transferir aos cidadãos de Brasilia cada centavo que recebeu de propina de empresários tão desonestos como ele.
A mão pesada da Justiça deve cair sobre toda quadrilha, do governador aos deputados que recebiam propinas, sem esquecer dos empresários que doavam dinheiro em troca de favores.
Espera-se que o Supremo, se chamado a intervir, não inverta os papéis e transforme os policiais responsáveis pela Operação Caixa de Pandora em vilões da história.